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Busca de lucro reduz cobertura aérea do país
Com procura por rotas mais rentáveis, mais de 40 aeroportos deixaram de ser atendidos por vôos regulares desde 1999, diz ITA
Concentração aérea cresce, e 15 principais aeroportos têm 73% dos vôos, o que aumenta
a possibilidade de gargalos
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A busca das empresas aéreas
pelas rotas mais rentáveis, em
um ambiente de tarifas aeroportuárias rígidas, levou a uma
redução da cobertura por tráfego aéreo no país e a uma alta
concentração no setor.
De 1999 para cá, mais de 40
aeroportos do país deixaram de
ser servidos por vôos regulares.
Hoje, dos 138 aeroportos servidos por tráfego aéreo regular,
os 15 principais concentram
73% dos vôos, o que ajuda a explicar o caos que se estabelece
quando a operação no aeroporto de Congonhas (SP), por
exemplo, é interrompida. Esse
percentual era de 67% em 1999.
Os números são de estudo
inédito realizado pelo Nectar
(Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo), do ITA (Instituto
Tecnológico de Aeronáutica),
obtido pela Folha.
Os recentes "choques" ocorridos na aviação brasileira, como a operação-padrão dos controladores de vôo e os problemas da TAM no Natal, expuseram os problemas decorrentes
da concentração excessiva.
"Esse tipo de gargalo é conseqüência da concentração", diz
Alessandro Oliveira, economista responsável pelo estudo.
A demanda vem crescendo a
taxas recordes. Com a competição por custos menores e aumento da rentabilidade, as empresas priorizam a operação
em aeroportos mais movimentados e em horários de pico.
Esses aeroportos não estão
preparados para dar conta do
crescimento do setor. E o investimento de R$ 3 bilhões
previsto no PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
para infra-estrutura aeroportuária fica aquém do necessário, sem falar nas críticas de má
distribuição desse montante.
A tendência à concentração é
mundial, mas, no Brasil, a situação, diz o estudo, foi potencializada porque as tarifas aeroportuárias pagas à Infraero
não variam segundo a demanda. O consumidor, por outro lado, paga a mais para voar nos
horários de pico ou em aeroportos de alta demanda.
"Hoje, há sobrecarga de vôos
no horário de pico, gerando potenciais atrasos e cancelamentos. Há horários cobiçados, pelos quais os passageiros estão
dispostos a pagar mais. Para a
companhia aérea, custa a mesma coisa", diz Oliveira.
Não por acaso, juntos, os aeroportos de Congonhas e de
Brasília, os mais movimentados, representam 20,5% dos
vôos domésticos regulares. De
cada cinco vôos no país, um sai
de Congonhas ou Brasília.
"Tarifas seletivas contribuiriam para balancear o tráfego,
incentivando a desconcentração", diz Paulo Bittencourt
Sampaio, especialista em aviação. "Em outros países, as empresas pagam mais para voar
em horários de pico. Se o preço
não acompanha a demanda, ela
fica artificialmente concentrada", reforça Lucia Helena Salgado, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Como conseqüência dessa
tendência, Oliveira aponta
também a deterioração da cobertura de tráfego aéreo no
país: 43 aeroportos, de 1998 para cá, deixaram de ser atendidos por vôos regulares.
Em 1960, havia mais de 300
cidades atendidas, de acordo
com estudo realizado pelo
BNDES -que não deve ser
comparado com o do Nectar,
pois um contabiliza municípios, e o outro, aeroportos.
Ao longo dos anos 60, a
quantidade foi caindo por conta principalmente da introdução, na aviação brasileira, de
aviões mais modernos, que não
precisavam de tantas escalas.
Crescimento e crise
Na avaliação de André Castellini, da consultoria Bain &
Company, a redução no número de cidades atendidas e a concentração dos aeroportos são
resultado do comportamento
típico do setor, que alterna
crescimento e crise das empresas. Para ele, a diferenciação tarifária não é a solução.
"Mesmo que a tarifa seja de
graça em Viracopos [Campinas,
SP], não é fácil obter uma mudança significativa. A concentração é da economia, e não do
setor."
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