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VINICIUS TORRES FREIRE
Álcool, dólar e o futuro da indústria
Exportação de commodities
pode afetar indústria? Etanol
indica que país pode atacar em
várias frentes econômicas
É DIFÍCIL negar que a alta do
preço de produtos ditos primários, como agrícolas e metais, ajuda a valorizar o real.
O risco, dizem alguns economistas, é que um real forte demais devido a juros altos e/ou a exportação de
commodities destrua ou enfraqueça
muitos setores industriais. O saldo
dessa história seria uma economia
ainda mais dependente da exportação de produtos primários e condenada a um nível alto e crônico de desemprego urbano.
Se for mais do que moda ou promessa, a presente onda mundial de
adesão aos biocombustíveis poderia
reforçar essa tendência de "commoditização" da economia brasileira,
visto que o país é um produtor grande e eficiente de biomassa.
Mas, dos problemas ainda pontuais da indústria até o juízo final da
desindustrialização, ainda há tempo
para a redenção. O próprio caso do
etanol pode ser um exemplo de absolvição, digamos, econômica.
O sucesso do álcool resultou de intervenção do Estado, do apoio à pesquisa científica, da atuação do setor
privado e, vá lá, de algumas vantagens comparativas "naturais". E há
mais possibilidades para o "complexo etanol" que a mera produção de
uma commodity. O grande desastre
da cana é o horror em que vive seu
milhão de lavradores, muitos dos
quais em breve desempregados, dada a mecanização da colheita.
A indústria do etanol surgiu com
uma intervenção do Estado à antiga
(mas relevante): muita regulação e
incentivo fiscal. Mas o negócio reviveu e desabrochou à base de cooperação entre Estado e empresa.
Instituto Agronômico de Campinas, Fapesp, Copersucar, Embrapa
criaram a biotecnologia da cana e da
produtiva agricultura brasileira moderna. Entre as primeiras empresas
de capital de risco, muitas são de biotecnologia e surgiram na pesquisa da
cana (Canavialis, Allelyx).
Ainda há vasto campo para a pesquisa bioquímica da cana: fazer etanol a partir de bagaço (o pessoal da
Unicamp está nessa); criar produtos
químicos, plásticos e outros materiais a partir de açúcar. Aliás, esse é o
programa do Departamento (ministério) de Energia dos EUA: unir pesquisa pública e privada para inventar uma nova indústria (biomassa).
A indústria da cana gera 1,4% da
energia elétrica do país e pode quadruplicar tal participação. O complexo etanol cria encadeamentos industriais importantes. Demanda geradores, turbinas, caldeiras, tanques, dutos, material ferroviário,
máquinas agrícolas, fertilizantes. O
real valorizado por commodities pode estragar esse parque industrial?
Pode, mas não precisa ser assim.
É preciso pesquisa, ciência e um e
outro incentivo setorial a fim de incrementar também o parque industrial do complexo açúcar-etanol. E,
claro, reduzir os impostos em cadeia, que estão ajudando a matar a
indústria, o que demanda decerto
uma arrumação das contas do governo.
vinit@uol.com.br
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