São Paulo, quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

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Camargo compra 22% da Cimpor; disputa derruba valor de ações

Operação acontece uma semana após Votorantim ter comprado 17% da cimenteira portuguesa

MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Camargo Corrêa surpreendeu o mercado ao adquirir 22,17% da cimenteira portuguesa Cimpor, correspondente à totalidade das ações do grupo português Teixeira Duarte.
A aquisição aconteceu uma semana depois de a concorrente Votorantim ter fechado a compra de 17,3% da Cimpor e levou o preço das ações da cimenteira a desabar na Bolsa de Lisboa. Em um dia de fortes altas na Bolsa portuguesa, as ações da Cimpor caíram mais de 5%, fechando em 5,54.
Pela primeira vez, o valor ficou abaixo da oferta pública de aquisições feita pela CSN, que propôs pagar 5,75 por ação em 18 de dezembro.
A Camargo pagou 6,50 por ação e tem ainda uma opção de compra de mais 3% de outros acionistas. No total, o negócio sairá por 1 bilhão.
O grupo Teixeira Duarte era o maior acionista individual e se acreditava que não estaria disposto a vender sua participação. Em contraste com o desempenho das ações da Cimpor, as de Teixeira Duarte subiram 15,4%.
Com a entrada da Camargo Corrêa -que em janeiro apresentou uma proposta de fusão que foi rejeitada pela CMVM, a comissão de valores mobiliários portuguesa-, analistas de mercado dão como certa a rejeição da oferta da CSN.
A Cimpor é uma das dez maiores cimenteiras do mundo e está presente em mercados emergentes com grande potencial de crescimento, como China, Índia e Turquia, além do Brasil. A empresa teve grandes perdas com derivativos durante a crise financeira e desde então passou a ser assediada pelas concorrentes brasileiras.
No Brasil, a Cimpor está presente desde 1997 e detém cerca de 10% do mercado.
Para a CSN, que entrou no mercado de cimentos no ano passado com a inauguração de uma fábrica em Volta Redonda, a aquisição da Cimpor se encaixa em um antigo projeto de diversificação e internacionalização. Temendo a rejeição de sua oferta, a CSN entrou anteontem com pedido no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para tentar barrar a compra da participação na Cimpor pela Votorantim.
A CSN tem até amanhã para melhorar sua oferta, que equivale a 3,86 bilhões, considerando a totalidade das ações da Cimpor. Uma nova oferta, seja da CSN ou de terceiros, o que é tido como pouco provável, precisa ser pelo menos 2% maior.
Passado esse prazo, os acionistas têm até o dia 17 para decidir se aceitam ou rejeitam a oferta. Na eventualidade de surgir uma nova oferta, o prazo do dia 17 poderá ser estendido.

Conflito interno
A coexistência de dois grupos rivais brasileiros com participações expressivas na Cimpor foi considerada preocupante para alguns analistas. Em relatório a clientes, o banco Banif diz que a presença de Votorantim e Camargo "poderia gerar sérios conflitos de interesses no longo prazo e, decididamente, não providenciaria uma estrutura acionista estável".
Para a Camargo Corrêa, a preocupação não tem fundamento. "Não tem nada a ver, Votorantim tem 17,3% de uma companhia que tem boa governança", afirmou Carlos Pires Oliveira Dias, membro do Conselho de Administração da Camargo Corrêa.
Com operações no Brasil, Argentina e Paraguai, a divisão de cimento da Camargo faturou R$ 2,3 bilhões em 2009.


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