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LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Tempestades na bonança
Os administradores da riqueza, na ânsia de bater os concorrentes, prometem mundos e fundos aos clientes
COM A HABITUAL competência,
Luiz Carlos Mendonça de
Barros e Luciano Coutinho
trataram dos achaques que acometeram os mercados nos últimos dias.
Mendonça escreveu na Folha de
sexta-feira; Coutinho, no "Valor"
do mesmo dia. Ambos chamaram a
atenção para as armadilhas da baixa volatilidade prolongada que estimula os investidores a alavancar
posições em ativos de maior risco.
Os modelos de Value-at-Risk ou
assemelhados são hoje muito usados por bancos e demais instituições para proteger o valor de seus
portfólios, em condições de volatilidade consideradas "normais". Isso significa que recomendam a redução de posições mais arriscadas
quando um ativo apresenta, durante determinado período, flutuação
mais acentuada do que aquela admitida no modelo adotado.
Sendo assim, nos momentos de
maior turbulência, os modelos de
avaliação e controle do risco podem disparar ordens de venda que,
entre outras coisas, revelam o caráter problemático das relações entre a racionalidade individual e a
estabilidade dos mercados. Esse fenômeno é particularmente agudo
nos mercados financeiros.
A teoria dos "mercados eficientes" pretende ensinar que todas as
informações relevantes sobre os
"fundamentais" da economia estão
disponíveis em cada momento para todos os participantes dos mercados. E que a ação racional dos
agentes, diante das informações
existentes, seria capaz de orientar
a melhor distribuição possível dos
recursos entre os diferentes ativos.
Essa teoria, quase em desuso,
procura afirmar, na verdade, que,
em condições competitivas, não
podem existir estratégias "ganhadoras" capazes de propiciar resultados acima da média. Hoje, poucos concordam que os mercados financeiros atendam aos requisitos
de eficiência, no sentido proposto.
Na dinâmica dos ciclos financeiros
recentes prevaleceu a concorrência entre os possuidores de riqueza
associada ao crédito elástico. O que
estimulou o surgimento da valorização puramente fictícia: os preços
dos ativos "descolam" dos valores
fundamentais, produzindo distorções nas relações preço/rendimentos ou preço/lucro.
Os administradores da riqueza
líquida -fundos de pensão, fundos
mútuos, hedge-funds-, no afã de
carrear mais dinheiro para seus
fundos e na ânsia de bater os concorrentes, prometem mundos e
fundos aos clientes. É ingenuidade
supor que esses mercados atendam aos requisitos de "eficiência",
no sentido de que não podem existir estratégias "ganhadoras" acima
da média, derivadas de assimetrias
de informação e de poder. Os protagonistas relevantes nesses mercados são, na verdade, os grandes
bancos de investimento, os fundos
mútuos e a tesouraria de empresas
que decidiram ampliar a participação da riqueza financeira em seu
portfólio. Dotados de forte influência sobre a "opinião dos mercados",
eles podem manter, exacerbar ou
inverter tendências. Só não podem
defender seus portfólios depois de
um período de forte alavancagem e
má precificação do risco.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 64, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo
Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de
São Paulo (governo Quércia).
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