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Na Bolsa de Xangai, vermelho é positivo
Cor preferida dos chineses indica ações em alta no mercado que foi estopim de turbulência internacional e é pouco desenvolvido
Cotação de empresas na principal Bolsa do país tem pouca relação com os seus fundamentos; estatais são maioria no mercado
CLÁUDIA TREVISAN
EM XANGAI
Cor preferida dos chineses, o
vermelho indica as ações que
estão em alta nos painéis eletrônicos da Bolsa de Xangai,
enquanto o verde marca os papéis que perdem valor.
Além da peculiar escolha das
cores, a principal Bolsa da China possui traços que a diferenciam de instituições de outros
países. Altamente especulativa,
ela é dominada por empresas
estatais, que fornecem ao mercado informações financeiras
consideradas pouco confiáveis
e nada transparentes.
A quase totalidade dos investidores é de pessoas físicas que
preferem aplicar seu dinheiro
diretamente, em vez de recorrer a fundos de ações, como é
comum no Brasil.
Seus movimentos não são
pautados pela performance das
companhias nas quais investem, mas pela busca de sinais
que possam indicar se os painéis da Bolsa ficarão vermelhos
ou verdes -como o rumor de
que o governo adotaria um imposto de 20% sobre ganhos de
capital, que deu origem à desvalorização de 9% no dia 27 de
fevereiro, batizado de "terça-feira negra" na China.
A queda catapultou a Bolsa
de Xangai ao centro do tabuleiro financeiro internacional e,
desde então, analistas se perguntam se o mercado chinês
está imerso em uma bolha (leia
texto nesta página).
"A Bolsa chinesa é puramente especulativa. É impossível
investir com base nos fundamentos das companhias, porque não há acesso à informação", afirma o norte-americano
Michael Pettis, professor de Finanças Internacionais da Universidade de Pequim.
Mais do que maximizar os
ganhos dos acionistas, os administradores das empresas estão
preocupados em atender às expectativas de seu controlador
-o Estado. Pelo menos 80%
das 847 companhias que têm
ações na Bolsa de Xangai são
controlados por alguma instância governamental.
Interesses distintos
Os objetivos que orientam as
decisões dos administradores
nem sempre coincidem com o
interesse dos acionistas minoritários e podem incluir preocupações como manter o nível
de emprego em determinada
região ou realizar investimentos por razões políticas.
A falta de profissionais especializados em contabilidade
também conspira contra a qualidade das informações divulgadas pelas empresas abertas
chinesas. Pettis diz que o país
necessita de 250 mil auditores
para analisar os balanços das
companhias, mas conta somente com cerca de 70 mil.
O brasileiro Sit Sei Wei, da
consultoria Oping Group, de
Xangai, concorda que não é a
análise dos dados das empresas
que faz o mercado subir ou cair,
até porque os balanços não são
confiáveis. "É um mercado especulativo. A característica do
investidor chinês é a busca de
ganhos no curto prazo."
Nada menos que 38 milhões
de investidores individuais
possuem contas nas corretoras
que operam na Bolsa de Xangai.
Em 2006, quando o índice local
subiu inéditos 130%, muitos
chineses tiraram dinheiro dos
bancos para aplicar em ações.
Os depósitos bancários são o
principal destino do alto volume de poupança da China, que
ronda os 50% do PIB. Mas a remuneração que os correntistas
recebem é de 2,5% ao ano. Descontada a inflação, o ganho pode ser negativo, observa Pettis.
Na véspera da "terça-feira
negra", o índice da Bolsa de
Xangai atingiu o recorde de
3.193 pontos. Depois da queda,
a Bolsa se recuperou e voltou a
rondar os 3.100 pontos -na
sexta-feira, fechou em 3.087
pontos. A valorização registrada desde o início de 2006 elevou o valor de mercado das
companhias com ações na Bolsa a US$ 1,1 trilhão, o equivalente a 46% do PIB do país asiático.
Outra característica do mercado de capitais chinês é a restrição aos investimentos estrangeiros. A Bolsa de Xangai
possui dois tipos de ações: as de
classe "A" -que representam a
maior fatia- são denominadas
em moeda local e, a princípio,
só podem ser adquiridas por
chineses; as de classe "B" são
denominadas em dólar e destinam-se aos estrangeiros. Existem ainda as de classe "H",
ações de empresas chinesas
que abriram capital na Bolsa de
Hong Kong.
Na Bolsa de Xangai, as operações mais líquidas e mais cobiçadas são as denominadas em
moeda local, de classe "A".
Em 2003, o governo chinês
abriu a possibilidade de estrangeiros investirem nesse tipo de
ação por meio de QFIIs, sigla
em inglês para investidores internacionais institucionais
qualificados. Mas a parcela que
eles possuem do mercado ainda é muito pequena. No fim do
ano passado havia 52 investidores desse tipo, com aplicações
totais de US$ 8,6 bilhões.
O mercado chinês também
possui a divisão entre ações negociáveis -que podem ser vendidas- e as não-negociáveis,
que estão nas mãos do Estado e
não são comercializadas.
A expectativa de que a Bolsa
seria inundada pela conversão
de ações não-negociáveis em
negociáveis foi um dos fatores
que levaram à queda da Bolsa
de Xangai entre 2001 e 2005,
quando o índice local perdeu
mais da metade de seu valor.
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