São Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Remessa dos brasileiros nos EUA cai 4% em 2007

Crise e queda do dólar reduzem envio de dinheiro

Omar Torres/France Presse
Mural em Tijuana (México) retrata emigração ilegal aos EUA


RICHARD LAPPER
DO "FINANCIAL TIMES"

As remessas de dinheiro de trabalhadores latino-americanos que emigraram para os Estados Unidos registraram no ano passado seu mais lento ritmo de crescimento em uma década, como resultado da desaceleração econômica e da repressão à imigração ilegal, combinadas à força da economia brasileira.
Um relatório que será publicado hoje pelo Banco Inter-Americano de Desenvolvimento indica que trabalhadores imigrantes da América Latina, em todo o mundo, remeteram US$ 66,5 bilhões aos seus países em 2007, 7% a mais do que em 2006 e montante superior ao recebido pela região na forma de investimento estrangeiro direto e assistência oficial ao desenvolvimento.
Mas a receita das remessas caiu em 4% no Brasil, para US$ 7,08 bilhões -quase US$ 300 milhões menos que em 2006-, e cresceu apenas 1% no México.
A perspectiva para este ano é de queda nas remessas nas duas maiores economias da região. As remessas para a América Latina vinham crescendo consistentemente em cerca de 15% ao ano desde o final dos anos 1990, o que gerou crescente interesse em seu potencial como fonte de verbas de combate à pobreza e de capital para investimentos em pequena escala.
"Não estamos seguros de que isso seja uma simples curva na estrada ou uma nova tendência real", disse Don Terry, que comanda o fundo de investimentos multilaterais, a divisão do banco que comandou o trabalho sobre os fluxos de remessas.
A queda no Brasil reflete a força do real diante do dólar, o que torna menos atraente para o total estimado em 350 mil brasileiros radicados nos Estados Unidos mandar dinheiro para casa.

Volta
Os atrativos da florescente economia brasileira também estão convencendo muitos dos emigrantes a voltar dos Estados Unidos para o seu país. Indícios circunstanciais sugerem que muitos brasileiros que estavam vivendo na região em torno de Boston um reduto tradicional de imigrantes brasileiros, estão agora viajando na direção oposta.
"Não existe mais tanta pressão para mudar para o exterior", disse Terry. "E sabemos que milhares de passagens só de ida foram compradas por brasileiros que viviam em Massachusetts [Costa Leste dos EUA]. A queda do dólar, a alta do real [e a força da economia brasileira] significam que existem oportunidades em casa", afirmou.
No entanto, Terry disse que a redução das remessas ao México, que recebe mais de um terço do total remetido pelos emigrantes latino-americanos, era "perturbadora". O total atingiu US$ 23,9 bilhões em 2007, com alta de 1% ante o ano anterior, mas os números mensais demonstram que, pelo final do ano, os totais em relação ao período em 2006 já estavam estagnados, e em janeiro mostraram queda de 6%. "Caso isso se torne uma tendência, milhões de pessoas ficarão abaixo da linha da pobreza", disse.
A crise na habitação norte-americana e o declínio do setor de construção, no qual muitos migrantes latino-americanos conseguiam empregos, responde em parte pelos problemas.
Mesmo assim, a queda não foi nem de perto tão pronunciada entre os emigrantes da América Central, cujas remessas cresceram em 11% se comparadas às de 2006.
Tudo isso sugere que a aplicação mais severa das leis contra os imigrantes ilegais, especialmente em nível estadual e municipal em áreas nas quais o mexicanos tendem a ser o grupo dominante, estava influenciando a situação. "A desaceleração econômica afeta a questão, mas a atmosfera geral é ainda mais influente", disse Terry.
Os emigrantes de países andinos tendem preferir a Espanha aos Estados Unidos e continuam a remeter dinheiro em volume mais elevado.
A força do euro "fez da Europa um destino cada vez mais atraente para trabalhadores do Caribe e América Latina", segundo o relatório.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


Texto Anterior: Investimentos em commodities chegam a US$ 178 bi em 2007, aponta pesquisa
Próximo Texto: Lucro da CSN cresce 150% e atinge recorde de R$ 2,9 bi em 2007
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.