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Após crise, governo reforma o sistema para rastrear gado
Ministério da Agricultura quer aperfeiçoar normas sobre o trânsito de bois; iniciativa privada defende simplificação
Técnicos da União Européia concluem nesta semana inspeção a fazendas do país;
atuação de certificadoras precisa de aprimoramento
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Enquanto técnicos da União
Européia finalizam, nesta semana, a inspeção em fazendas
que se estendeu do Rio Grande
do Sul a Mato Grosso, o Ministério da Agricultura e a iniciativa privada começam a fechar a
reforma do Sisbov (Serviço
Brasileiro de Rastreabilidade
da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos), raiz das restrições dos europeus para a carne bovina "in natura".
Os europeus querem informações precisas sobre onde
nasceram, como viveram,
quando foram vacinados, local
de abates, tudo isso recheado
de informações sobre manejo e
uso de insumos nos rebanhos.
Segundo Naor Luna, coordenador do Sisbov, o governo se
preocupa principalmente em
aprimorar as normas sobre a
movimentação de animais.
Quando a União Européia
anunciou a suspensão das compras de carne bovina "in natura" do Brasil, em 31 de janeiro,
havia 14.730 propriedades inscritas como Eras (Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov), donas de 21 milhões de
cabeças. Dos Estados habilitados a embarque para a UE eram
8.747 -3.077 de Goiás, 2.857 de
Mato Grosso, 2.159 de Minas
Gerais, 621 do Rio Grande do
Sul e 33 do Espírito Santo.
Um dos problemas crônicos
desde a implantação do Sisbov,
em 2002, é a precariedade do
registro do trânsito dos rebanhos. Esse é um dos motivos
para ser tão baixo o número de
fazendas agora habilitadas a exportar para a UE -apenas 106.
A iniciativa privada insiste na
simplificação do Sisbov, diz a
senadora Kátia Abreu (DEM),
pecuarista no Tocantins. Sugestões de grupo coordenado
pela CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil) devem ser encaminhadas
até o final do mês. Na pauta está
a criação da Agência Nacional
de Defesa Agropecuária.
Para o pecuarista Nelson Pineda, dono de fazendas em São
Paulo e na Bahia, o ponto crítico da rastreabilidade bovina
desde o início foi a atuação das
certificadoras. "O sistema europeu foi mal copiado." Pineda
participou do conselho consultivo do Sisbov de 2003 a 2007
como representante da ABCZ
(Associação Brasileira dos
Criadores de Zebu).
No país, ao governo coube
administrar a BND (Base Nacional de Dados) e auditar as
certificadoras. Essas empresas,
por sua vez, tiveram a responsabilidade de monitorar as propriedades rurais. Como são
também as fornecedoras da
identificação dos animais
(brincos, bottons ou chips),
usada no rastreamento até a indústria de carne, "terminaram
como prestadoras de serviços
do fazendeiro e do frigorífico",
afirma Pineda. "Não cumpriram o papel de certificar processos", diz Pedro de Camargo
Neto, pecuarista e presidente
da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e
Exportadora de Carne Suína).
Resultado: "pressão da clientela" e falhas nos controles permitiram fraudes como o "curralito" -os animais recebiam
brincos de identificação apenas
momentos antes do abate e não
na quarentena prevista pelo
sistema de rastreabilidade.
De 71 certificadoras listadas
na página do Ministério da
Agricultura na internet, apenas
47 estão com autorização para
funcionamento regular.
Reação
Com essa exposição, cinco
dessas empresas, credenciadas
com a norma ISO-65, que se
apresentam como mais organizadas, padronizaram procedimentos para o Sisbov, diz Valmir Rodrigues, diretor da
WQS/BioRastro. O grupo conta ainda com o SBC, a Planejar,
o Instituto Gênesis e a Brasil
Certificação. Juntas, atendem
mais de 50% dos clientes do
Sisbov, afirma Rodrigues.
Na tentativa de acabar com o
"conflito de interesses", Rodrigues diz que a atuação conjunta
prevê que um profissional contratado para inspecionar uma
propriedade não tenha prestado serviços a essa fazenda por
ao menos dois anos.
Para Pedro de Camargo Neto, a pecuária deve aceitar que
"no mundo inteiro existe certificação." A senadora Kátia
Abreu concorda. "Não adianta
ir contra a tendência."
"Para colocar a casa em ordem", o fazendeiro Pineda diz
que a prioridade deve ser aplicar recursos -financeiros e de
pessoal- para a fiscalização de
cada etapa do Sisbov.
Ao mesmo tempo, afirma, é
preciso negociar a melhor forma de rastrear com os frigoríficos exportadores e com a UE.
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