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Governo Lula sofre mais uma derrota na votação do pré-sal
Câmara aprova emenda que reduz participação de Estados produtores nos royalties
Mudança afeta Estados
como SP, RJ e ES; Planalto vai
tentar derrubar alteração no
Senado; se não for possível,
Lula vai impor veto ao texto
NOELI MENEZES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A votação do marco regulatório para exploração do petróleo
da camada do pré-sal foi concluída pela Câmara com mais
uma grande derrota para o governo do presidente Lula, que
vetará a emenda aprovada ontem, caso não a derrube no Senado, onde ainda será votado.
A proposta, chamada de
emenda Ibsen, divide entre Estados e municípios os royalties
da exploração de petróleo
usando critérios do FPE e do
FPM (Fundo de Participação
dos Estados e dos Municípios).
Obteve 369 votos a favor, 72
contra e 2 abstenções.
O Palácio do Planalto evitou
votar a emenda Ibsen por três
meses, ciente da falta de apoio
para barrá-la. Ontem, rendeu-se à realidade: apoio político
avassalador à proposta que altera regra atual e que, portanto,
prejudicará os Estados chamados de produtores de petróleo,
como o Rio de Janeiro.
A emenda altera o texto-base
do projeto aprovado em dezembro. A proposta inicial prevê que os Estados produtores
(RJ, SP e ES) ficarão com
26,25% dos royalties do pré-sal,
e os municípios produtores,
com 18%. As cidades afetadas
por operações de embarque e
desembarque receberão 5%. A
União ficará com 20%, os municípios não produtores com
8,75% e os Estados não produtores com 22%.
A emenda Ibsen inclui os
atuais campos de produção na
partilha. Segundo a proposta,
recursos dos royalties de todo o
petróleo produzido no mar, na
plataforma continental, tanto
no pós-sal (campos em produção) como pré-sal, serão divididos igualmente entre Estados
(50%) e municípios (50%) por
meio do FPE e do FPM.
A prioridade de Lula é votar
logo os projetos do pré-sal -a
proposta que muda o modelo
de exploração do petróleo e cria
o regime de partilha (em vez de
concessão) é considerada prioritária. Como todos os projetos
são de legislação infraconstitucional, o governo avalia que será possível apreciá-los até o final do primeiro semestre no
Senado. A partir de julho, começa oficialmente a campanha
eleitoral, e o governo acredita
que terá mais dificuldade.
Senado
Votado o projeto de regime
de partilha na Câmara, o roteiro do Planalto é tentar um acordo no Senado para derrubar a
emenda Ibsen, sob o argumento de que seria inconstitucional. Se não for possível articular esse acordo no Senado, Casa
do Congresso na qual o governo
tem maioria apertada, Lula vetará.
A Folha apurou que o Planalto considera o veto presidencial
o cenário mais provável. Motivo: na Câmara, onde o governo
tem maioria folgada, o governo
não teve força para barrar a
emenda.
Mobilização organizada pela
CNM (Confederação Nacional
dos Municípios) reuniu na Câmara mais de mil prefeitos para
pressionar deputados a aprovarem a emenda Ibsen.
Supremo
Acompanhados de prefeitos
fluminenses, o governador do
Rio de Janeiro, Sérgio Cabral
(PMDB), Estado mais prejudicado pela emenda, e a prefeita
de Campos, Rosinha Matheus
(PR), município que mais perderá arrecadação de royalties,
se reuniram ontem com o presidente do Supremo Tribunal
Federal, Gilmar Mendes, para
fazer um apelo para que o STF
anule os efeitos da emenda.
O plenário da corte deve votar em breve o mérito do mandado de segurança impetrado
pelo deputado Geraldo Pudim
(PR-RJ) para questionar a participação de todos os Estados e
municípios no resultado da exploração de petróleo ou gás natural.
O principal argumento de
Pudim é que somente Estados e
municípios produtores de petróleo têm direito ao rateio no
resultado da exploração. Portanto, defende ele, seria inconstitucional estender tal participação aos não produtores.
Colaborou LUCAS FERRAZ, da Sucursal de Brasília
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