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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Rentabilidade e lucro das empresas cresceram durante o racionamento em relação a 2000
Governo repôs mais que perdas de elétricas
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2001, quando o consumidor
viveu sob o risco do apagão, as
empresas do setor elétrico conseguiram não apenas aumentar seu
lucro em 33,9%, mas também a
rentabilidade do seu patrimônio.
Algumas delas tiveram incremento de 21,2 pontos percentuais
na rentabilidade, como é o caso
da Celpe. Na média, a rentabilidade do setor cresceu 1,2 ponto percentual em relação ao ano anterior e foi de 3,8% sobre o patrimônio líquido.
Segundo analistas, isso ocorreu
porque o governo não se limitou a
repor as perdas de receitas provocadas pelo racionamento. O acordo selado em dezembro com o
governo e registrado no quarto
trimestre contábil pelas empresas
deu mais: bancou também o crescimento de receitas que elas projetavam para o ano passado e repôs perdas que nada tinham a ver
com o racionamento.
Uma delas são as perdas provocadas pelos aumentos de custos
não-gerenciáveis pelas distribuidoras de energia. "O maior impacto sobre a rentabilidade, creio,
foi a reposição das perdas com a
parcela A (aumentos de custos
que não são gerenciáveis)", diz
Oswaldo Telles Filho, analista do
BBV Banco. Só a Eletropaulo Metropolitana agregou R$ 367,9 milhões ao balanço com esse item.
O crescimento do lucro e da
rentabilidade do setor foi calculado pela Economática com base
nos balanços de 22 empresas, entre elas a gigante estatal Eletrobrás. Se for expurgado do levantamento o resultado da Eletrobrás,
o lucro líquido do setor aumentou
156% em 2001 em relação a 2000.
Conta
Os ganhos registrados nos balanços do ano passado serão pagos pelo consumidor de energia
elétrica. Desde janeiro, as contas
de luz residenciais estão 2,9%
mais caras; as da indústria e do
comércio, 7,9%.
"Esses aumentos extraordinários valerão até que todas as distribuidoras de energia tenham se
ressarcido das perdas provocadas
pelo racionamento, o que pode levar entre três e cinco anos", diz
Marcos Severine, analista do banco Sudameris. Como se trata de
uma receita a ser obtida ao longo
do tempo, o BNDES está antecipando 90% dela.
O presidente da Eletropaulo
Metropolitana, Luiz David Travesso, diz que "as perdas das empresas com o racionamento serão
recorrentes, isto é, se estenderão
pelos próximos anos". Segundo
ele, na região Sudeste a queda de
consumo em 2001 colocará 2002 e
2003 no mesmo patamar de consumo de 2000. "Há um "gap" [intervalo" de dois a três anos."
A compensação das perdas provocadas pelo racionamento é
consequência dos contratos de
concessão firmados a partir de
1995, quando o setor começou a
ser privatizado. "Esses contratos
prevêem que o governo garantirá
o equilíbrio econômico e financeiro das empresas", diz Severine.
"Sem a compensação das perdas todas as empresas estariam
com grandes prejuízos. Essa conta, porém, não é conhecida.
Isso porque a Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica) exigiu que as empresas contabilizassem, já no balanço de 2001, as
compensações das perdas, antes
de o Congresso aprovar a medida.
"Os balanços registram receitas
virtuais, é dinheiro que ainda não
entrou nas empresas", alerta Jorge Simino, diretor do Unibanco
Asset Management.
Outro problema na análise dos
balanços é que houve muitas alterações nas demonstrações contábeis em 2001. Uma delas foi a autorização dada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários)
para diferir (diluir nos próximos
balanços) os custos financeiros
resultantes da variação cambial.
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