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GUERRA COMERCIAL
Fazendeiros dos EUA e Canadá oferecem US$ 165 por hectare não plantado de soja para elevar preço
Americanos pagam para Brasil não plantar
ÉRICA FRAGA
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A guerra comercial que opõe o
Brasil aos Estados Unidos e ao Canadá está prestes a ter mais um
capítulo. Mas, dessa vez, os desentendimentos são entre o governo
brasileiro e um grupo de produtores norte-americanos e canadenses que querem pagar para que os
fazendeiros brasileiros reduzam
sua produção de soja.
Os fazendeiros de EUA e Canadá estão oferecendo aos brasileiros US$ 165 por hectare não plantado de soja. O argumento do grupo, que formou uma ONG chamada Focus on Sabbatical, é que
somente uma redução da produção poderá fazer os preços da soja,
que caíram cerca de 20% na última década, se recuperarem.
Mas o governo brasileiro e de
outros países como Argentina-
que a ONG também quer incluir
no projeto- desconfiam de motivos menos nobres por trás da
"proposta indecente".
Representantes dos governos
brasileiro e argentino acreditam
que o projeto da ONG é uma manobra para tirar a atenção da
questão dos subsídios agrícolas
concedidos pelos Estados Unidos.
O governo está analisando se é
possível impedir que a ONG
avance em seu projeto- considerado "absurdo" por Marcus Vinícius Pratini de Moraes, ministro
da Agricultura- no Brasil.
A pedido de Pratini, o Ministério da Justiça está investigando a
ONG e verificando a legitimidade
deste tipo de atividade no país. O2
governo também quer descobrir
de onde viria o dinheiro para pagar os fazendeiros brasileiros.
Segundo Ken Goudy, da Focus
on Sabbatical, a ONG pretende se
instalar oficialmente no Brasil em
junho deste ano.
"Isso para mim é um caso de
polícia, é uma intromissão indevida no país que não vamos aceitar", afirmou Pratini à Folha.
Mesmo que não consiga proibir
que o grupo atue no país por força
da lei, o governo já tem conversado com fazendeiros brasileiros
sobre o assunto.
"Essa proposta é absurda. O
Brasil tem 90 milhões de hectares
para plantar e precisa empregar
gente", afirmou Pratini.
Para o ministro da Agricultura,
a verdadeira causa da queda nos
preços da soja são os subsídios
concedidos pelo governo norte-americano aos produtores. O governo vai entrar ainda este ano
com uma representação na OMC
(Organização Mundial do Comércio) contra os subsídios concedidos pelos EUA à produção de
soja, que causam um prejuízo
anual entre US$ 1,2 bilhão e US$
1,5 bilhão ao Brasil.
Representantes do governo argentino também não são nem um
pouco simpáticos à idéia da ONG.
"Essa proposta me parece ser
uma ilusão, impossível de ser posta em prática. Eles querem é desviar a atenção do tema dos subsídios", disse o economista Roberto
Lavagna, embaixador da Argentina em Bruxelas. Segundo Lavagna, o objetivo de Brasil e Argentina é continuar explorando sua
enorme capacidade produtiva para ganhar mercado e lutando pela
redução dos subsídios.
"Esse é o nosso caminho. Não
embarcaríamos em nenhuma
aventura como essa proposta",
disse o embaixador argentino.
Opep dos grãos
Desde agosto de 2001, a ONG,
criada em 2000, vem promovendo eventos em diversos Estados
brasileiros a fim de recrutar participantes. A aproximação com os
produtores acontece em palestras
organizadas pela entidade. O material didático divulgado nos
eventos compara a estratégia de
mercado da Focus on Sabbatical à
da Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo). A
ONG quer promover um corte de
8 bilhões de bushles (um bushel
equivale a 27,2 kg) para elevar em
até 100% o preço de grãos, notadamente da soja.
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