São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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SISTEMA FINANCEIRO

Em dez anos, país perdeu um terço das instituições financeiras; dez maiores detêm hoje 80% dos depósitos

Aumenta a concentração bancária no país

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Nos últimos dez anos, o Brasil perdeu 82 bancos. O número de instituições caiu de de 246, em 1994, para 164, no ano passado, segundo estudo recém-concluído pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Ou seja, em dez anos, o número de bancos caiu diminuiu em um terço.
O processo de concentração bancária não pára. De 2002 para 2003, o número de bancos encolheu de 167 para 164. Já o "spread" (a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo dos bancos) médio ficou praticamente estável, caindo de 42,46 pontos percentuais para 41,52 pontos, de 2002 para 2003. Em 1994, o "spread" era de 139 pontos.
Segundo Roberto Luís Troster, economista-chefe da Febraban e responsável pelo trabalho, o número de bancos não é o melhor termômetro da concentração bancária, mas, seja qual for o indicador, a conclusão será a mesma.
Os dez maiores bancos, que em 2002 concentravam 67,2% dos ativos, em 2003 ampliaram suas participações para 74,5%. Já os três maiores bancos do país aumentaram suas fatias no ativo de 38,2% para 47,3% no período.
Em relação ao total do crédito, os dez maiores bancos aumentaram suas participações de 65% para 76% de 2002 para 2003. O salto dos três maiores bancos foi de 35% para 45%. O mesmo ocorreu com os depósitos. Os dez maiores bancos, que em 2002 concentravam 77% dos depósitos, passaram a ser responsáveis por 80%. A participação dos três maiores foi de 48% para 52%.
Troster argumenta que, nos últimos dez anos, houve mudanças significativas na estrutura bancária. No período, o sistema sofreu a maior transformação da história com a estabilização (Plano Real), a privatização de bancos públicos, a abertura a bancos estrangeiros e o saneamento dos bancos com problemas de solvência.

Tendência
O número de bancos diminuiu não só no Brasil como no mundo inteiro, principalmente nos países latino-americanos. Entre os anos 1995-2001, Brasil, Argentina, México e Chile viveram um processo de concentração semelhante.
Segundo Troster, estudo recente do Banco Mundial mostra que a taxa de concentração bancária do Brasil em relação a vários países não é tão alta. O estudo leva em consideração o período 1995-1999 e mostra que a concentração brasileira é proporcionalmente mais baixa que a média. No Brasil, a média foi de 0,40, enquanto a média dos 74 países foi de 0,60. Quanto mais perto de 1, maior a concentração bancária.
Segundo Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, durante os anos de elevados índices de inflação, os bancos ganharam muito dinheiro com o chamado "floating", que era caracterizado pelas aplicações no "overnight" com o dinheiro do depósito à vista. Os bancos ganhavam sem o menor esforço.
A concentração bancária tem relação direta com a estabilização da economia. Após o Plano Real, em 94, muitos bancos se mostraram ineficientes e desapareceram.
Nos últimos anos, os grandes bancos começaram a incorporar instituições menores que se mostraram eficientes em determinados nichos do mercado. Foi o caso da compra do banco Zogbi, especializado em crédito direto ao consumidor, pelo Bradesco, por R$ 650 milhões.
Além disso, a saída de alguns bancos estrangeiros, nos últimos dois anos, contribuiu para aumentar a concentração. O processo continua. Erivelto Rodrigues estima que, nos próximos cinco anos, 20 bancos deixem de existir.
Para Rodrigues, o fato de aumentar a concentração bancária no país não significa que não haja competição entre os bancos. Ele diz que existe, sim, competição. O que não há é o hábito entre os clientes de procurar os bancos com as taxas mais competitivas.


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