São Paulo, domingo, 11 de abril de 2004

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Rápida expansão do agronegócio agrava escassez do crédito público

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A rápida expansão da agricultura provocou uma escassez de crédito para o setor, segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Ivan Wedekin. Com a precária infra-estrutura, a falta de financiamento a juros competitivos se tornou um dos empecilhos para o desenvolvimento do agronegócio.
Tabela elaborada pelo próprio Ministério da Agricultura revela a magnitude do problema. Na safra 1994/1995, para cada tonelada de grão produzida, o SNCR (Sistema Nacional de Crédito Rural) emprestou US$ 128,16. Na última safra (2002/2003), para cada tonelada, o sistema concedeu US$ 68,55.
Para a safra deste ano, a estimativa da agricultura é de chegar US$ 85,48 por tonelada, melhor do que na safra anterior, mas pior do que a média das últimas nove safras (US$ 92,69)
"O sistema atual é insuficiente para financiar a agricultura", disse Wedekin, em entrevista à Folha. Atualmente, o SNCR consegue atender a 30% da demanda. Para satisfazer o restante da necessidade de financiamentos, o produtor é obrigado a recorrer a tradings (empresas que negociam produtos agrícolas), a financiamentos bancários com juros de mercado ou a recursos próprios.
Enquanto no SNCR a maior parte das taxas de juros dos financiamentos para custeio da produção é de 8,75% ao ano, fora do sistema os juros variam de 20% a 25% ao ano. As elevadas taxas em 70% dos financiamentos disponíveis para os agricultores encarecem o produto brasileiro.
"Os produtores na Europa, na Austrália e nos EUA não têm problemas de financiamento", afirma Wedekin. Segundo ele, a saída no Brasil para falta de crédito a um custo competitivo foi racionar a distribuição dos recursos existentes no SNCR. "Não é o ideal", pondera o secretário. Para cada uma das culturas, a Agricultura estabeleceu um limite máximo que um agricultor pode pegar emprestado no SNCR. A principal deficiência do sistema é a própria forma como ele foi desenhado. O SNCR foi criado em meados dos anos 60 e sempre teve como principal fonte de recursos os depósitos à vista nos bancos.
A legislação obriga as instituições financeiras a emprestar para o setor agrícola 25% dos depósitos à vista, a uma taxa de 8,75% ao ano. "Esses depósitos não evoluíram com a produção", diz.
Entre julho de 2002 e janeiro de 2003, os recursos provenientes dos depósitos à vista aplicados na agricultura foram de R$ 9 bilhões. No mesmo período da atual safra, esse volume caiu para R$ 7,95 bilhões, 11,67% a menos.
O volume de recursos do SNCR programados para safra 2003/ 2004 é de R$ 32,55 bilhões, um crescimento de 16,9% em relação ao gasto com a última colheita.
O aumento de recursos se deve, sobretudo, a um crescimento nas linhas de financiamento para investimentos, como o Moderfrota e Finame Especial (compra de máquinas agrícolas) e Proazem (construção de armazenagem), cujo o total de dinheiro emprestado entre julho de 2003 e janeiro de 2004 cresceu 27% com relação ao mesmo período do ano passado.
Na linhas para custeio, as que somam os maiores recursos, o incremento de verba foi de apenas 7% naquele período. Entre julho de 2003 e janeiro deste ano, a inflação foi 3,3% (IPCA). Ao mesmo tempo, última estimativa de colheita para atual safra é de 130,8 milhões de toneladas, 6,2% a mais que na safra anterior. Esse número deverá ser menor, devido ao impacto das enchentes no Norte e no Nordeste na agricultura.
"O desafio da agricultura é passar a integrar o mercado de capitais", afirma Wedekin.
Mas, para os planos do ministério darem certo, os juros precisam cair. Com a atual remuneração dos títulos públicos, os investidores têm pouco estímulo para diversificar suas aplicações.


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