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OPINIÃO ECONÔMICA
O futebol e a escola
BENJAMIN STEINBRUCH
Um dos programas da série
"Chico Buarque Especial",
recentemente apresentado pela
televisão, foi sobre futebol. Em
dado momento do programa, o
compositor e cantor faz um comentário sobre as razões que explicam a maior habilidade dos
brasileiros com a bola. Chico lembra que, na Europa, os garotos
freqüentam a escola, desde pequenos, em tempo integral. Aqui,
no Brasil, o menino vai à escola,
quando muito, por três ou quatro
horas. Então, ele tem bastante
tempo livre para jogar bola na
rua diariamente com os amigos.
E quem treina muito aprende.
A observação de Chico Buarque
é lúcida e certamente explica boa
parte do sucesso do futebol brasileiro. Mas também expõe uma
das maiores fragilidades do país,
a falta de investimento em educação.
Ampliar a jornada escolar é
uma necessidade básica no Brasil.
Na Coréia do Sul, país que fez
uma revolução educacional nos
últimos 40 anos, as crianças ficam
na escola até 12 horas por dia, das
quais 7 estudando. Quando saiu
da guerra, nos anos 1960, a Coréia
do Sul era um país tão pobre
quanto o Brasil, com mais de 30%
de sua população analfabeta. Hoje, o analfabetismo está erradicado, 82% dos jovens estão na universidade (20% no Brasil) e o país
já chegou ao Primeiro Mundo.
O milagre econômico sul-coreano, costuma-se dizer, foi fruto de
uma revolução educacional, que,
de certa maneira, está em curso
também na China e na Índia.
Juntos, esses dois países colocam
no mercado mais de 1,5 milhão de
formandos de nível superior ao
ano, a maioria em áreas diretamente ligadas à tecnologia, enquanto o Brasil forma menos de
100 mil.
O número mínimo de anos de
permanência na escola também é
fundamental. Na Europa e nos
Estados Unidos, a legislação obriga o setor público a oferecer 12
anos de estudo a todas as crianças
e jovens -no Brasil, são oito
anos. Em média, a faixa mais pobre da população brasileira freqüenta a escola por 3,5 anos. Mesmo a faixa mais rica, a elite representada por 20% da população,
tem escolaridade média de apenas dez anos.
É comum atribuir aos governos
a responsabilidade por esse desafio da educação, um argumento
correto. Obviamente, sem planejamento governamental e sem investimento do Estado, não há como deslanchar programas que levem à revolução educacional, em
quantidade e qualidade. Mas
também cabe responsabilidade à
sociedade como um todo. A elite
brasileira tem sido omissa nessa
matéria. Diferentemente do que
ocorre em outros países, raramente se vêem exemplos de gerenciamento filantrópico de escolas por pessoas bem-sucedidas do
setor privado, aptas a imprimir
no ensino público padrões de
qualidade hoje largamente aplicados nas empresas.
Essa busca da qualidade exige
formação e aprimoramento de
educadores, com recursos públicos e privados. Sem uma remuneração adequada, condizente com
a importância e a responsabilidade de sua missão, dificilmente o
país conseguirá dar o salto que
precisa na área da formação profissional dos brasileiros. Na semana passada, quando os professores do ensino básico municipal de
São Paulo entraram em greve, ficamos sabendo que o salário dos
professores na cidade é de R$ 615
por mês, ou seja, menos de US$
300. Na Coréia do Sul, um professor ganha cerca de US$ 6.000.
Infelizmente, é caótico o ambiente educacional no ensino básico brasileiro. Há uma semana, o
próprio Ministério da Educação
revelou que existem cerca de 13
milhões de alunos fantasmas nos
cursos básicos. O Censo Escolar de
2005 registrou 56 milhões de
crianças matriculadas no ensino
público estadual, municipal e federal. Porém os dados preliminares obtidos pelas informações cadastrais enviadas pelas escolas ao
MEC indicam que o número de
matriculados não passa de 43 milhões. É vergonhoso observar que
uma das explicações para essa
discrepância é o comportamento
das prefeituras, que falsificam
(aumentam) o número de matrículas para receber mais recursos
federais.
Enquanto prevalecer essa mentalidade, o Brasil continuará a
formar e exportar milhares de jogadores de futebol por ano. E nada mais que isso.
Benjamin Steinbruch, 52, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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