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LUÍS NASSIF
Os segredos de Suzane
É incompleta a cobertura
do caso Suzane von Richthofen -a jovem que tramou a
morte dos pais. Um Truman
Capote deitaria e rolaria nessa
história. O que teria levado
uma jovem recém-saída da
adolescência a planejar a morte dos próprios pais?
Até agora, ninguém sequer
tangenciou as razões objetivas
e, principalmente, as subjetivas, as questões emocionais, as
relações familiares que estavam no pano de fundo do episódio.
Corrijo: na época do crime, a
revista "Época" foi a que chegou mais perto. A partir de relatos de vizinhos e de parentes,
começou a desenhar um retrato
realista das relações familiares,
atropelando o primarismo de
reduzir um crime passional,
uma tragédia dessa dimensão a
mera má influência do namorado ou ao excesso de ambição
de uma moça sem antecedentes
criminais ou de violência.
A partir dos relatos de vizinhos e parentes, a mãe era
apresentada como uma pessoa
muito complicada, de relações
difíceis com os filhos. Formação
árabe tradicional da mãe de
um lado, formação germânica
tradicional do pai de outro, e,
no meio, uma adolescente contemporânea, com todas as
complicações que podem passar por uma cabeça adolescente
de uma aluna PUC (Pontifícia
Universidade Católica) -convivendo com colegas de vida e
cabeça mais arejadas e tendo,
em casa, uma educação repressora.
No meio do caminho, a reportagem estacou, possivelmente
temendo enfrentar a possível
ira dos seus leitores, julgando
estar a revista acobertando
uma criminosa. Mesmo assim,
permanece como o relato mais
realista, ainda que incompleto,
do crime.
Não se trata de buscar pretextos para o crime de Suzane e
seu namorado. É crime gravíssimo, pelo qual se tem que pagar. Trata-se de entender as razões objetivas, mas, principalmente, as emocionais e psicológicas que levaram ao crime.
Mas há um medo pânico de ir
contra a opinião pública, um
medo abissal de, sofisticando a
análise, dar margem a incompreensões. Por isso, fica-se no
lugar-comum, na simplificação
primária da moça ambiciosa
que pretendeu matar os pais
para usufruir da herança com o
namorado semi-marginal. Aí,
sim, retratam-se bandidos de
novela ou de histórias em quadrinhos, simples, fáceis de serem assimilados, não seres humanos em sua complexidade,
não as relações familiares confusas, não os traumas, a pressão permanente pelo sucesso, os
sonhos e pesadelos de uma sociedade que pressiona até a medula seus adolescentes, podendo levá-los.
As circunstâncias do crime
permanecem nebulosas, à espera da grande reportagem. As
entrevistas da "Veja" e do
"Fantástico" deste final de semana mostraram uma jovem
manipulada por seus advogados, um dos quais membro da
Comissão de Ética da Ordem
dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo.
Em outra civilização, com
outros valores, provavelmente
os advogados seriam destituídos pelo juiz, devido à evidência óbvia de que o direito de defesa da moça foi desrespeitado
por defensores inescrupulosos
-mesmo sendo ela criminosa
confessa.
Talvez só depois da condenação, quando o crime estiver esquecido, surja algum Truman
Capote para desvendar os segredos de Suzane.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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