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Cana perderá 114 mil postos até 2020, prevêem usinas
Desemprego deverá aumentar por causa do avanço da mecanização na lavoura
Devem ser gerados 75,3 mil empregos na colheita mecânica e nas usinas, número bem abaixo dos
189,6 mil cortes previstos
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
O trabalho nas lavouras de
cana-de-açúcar do Estado de
São Paulo deverá despencar
dos atuais 189,6 mil postos de
trabalho manuais para zero na
safra 2020/21, enquanto as vagas em funções mecânicas
avançarão das atuais 15,5 mil
para 70,8 mil, segundo previsão
apresentada ontem pela Unica
(União da Indústria da Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto.
Deverá ser gerado ainda um
saldo de cerca de 20 mil vagas
nas próprias usinas até 2020.
Se confirmada a previsão, um
contingente de 114 mil trabalhadores, mais que a população
de Sertãozinho (103 mil habitantes) -cidade que ironicamente tem seu parque industrial praticamente inteiro voltado à produção canavieira-,
ficará desempregado. Os dados
foram apresentados no 1º
Workshop do Observatório do
Setor Sucroalcooleiro, parceria
da Unica com a USP.
Como a mecanização terá de
ser de 100%, por causa do protocolo agroambiental assinado
entre o governo do Estado, usinas e fornecedores de cana, não
deverá restar vagas nos moldes
atuais, preenchidas em parte
pelos migrantes, oriundos especialmente do Nordeste e do
Vale do Jequitinhonha (MG).
"Temos insistido em dialogar, queremos avançar não só
nas questões ligadas à qualidade de vida dos trabalhadores.
Vamos também eliminar os "gatos" [contratadores de mão-de-obra rural]", afirmou o presidente da Unica, Marcos Jank.
Segundo Inês Facioli, coordenadora da Pastoral do Migrante de Guariba, o avanço da
mecanização irá gerar uma migração inversa, com a saída de
trabalhadores da região.
"Não vai ter outro jeito, porque todos precisam de remuneração para viver. Vai inverter a
situação. A mecanização existe
desde o final dos anos 80."
Já o presidente do Sindicato
dos Trabalhadores Rurais de
Ribeirão Preto, Silvio Palvequeres, disse que, a partir do
momento em que as questões
ambientais foram analisadas, o
trabalhador ficou em segundo
plano. "Esse problema vai engrossar. Só olham para o ambiente, o que força a mecanização. Ninguém vê o lado social,
que vai causar desemprego."
Protocolo assinado pela entidade dos usineiros com a Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do
Estado de São Paulo) prevê
que, até 2011, seja eliminada a
figura do "gato" nas usinas do
Estado de São Paulo.
O protocolo prevê, também,
a melhoria do transporte dos
bóias-frias, a transparência na
aferição, pagamento por produção e cuidados com o trabalhador migrante.
De acordo com Jank, com o
desemprego que surgirá no
campo, o setor entrará em uma
nova fase, de requalificação. "A
cada ano, 500 novas máquinas
entram no campo. Ele [migrante] virá para cá e não achará
emprego, a cidade não vai ter
emprego. O problema não é o
migrante, mas o emprego local", disse. Para Palvequeres, os
cursos de qualificação não serão suficientes para resolver a
alta do desemprego.
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