São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2008

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Cana perderá 114 mil postos até 2020, prevêem usinas

Desemprego deverá aumentar por causa do avanço da mecanização na lavoura

Devem ser gerados 75,3 mil empregos na colheita mecânica e nas usinas, número bem abaixo dos 189,6 mil cortes previstos

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar do Estado de São Paulo deverá despencar dos atuais 189,6 mil postos de trabalho manuais para zero na safra 2020/21, enquanto as vagas em funções mecânicas avançarão das atuais 15,5 mil para 70,8 mil, segundo previsão apresentada ontem pela Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto. Deverá ser gerado ainda um saldo de cerca de 20 mil vagas nas próprias usinas até 2020.
Se confirmada a previsão, um contingente de 114 mil trabalhadores, mais que a população de Sertãozinho (103 mil habitantes) -cidade que ironicamente tem seu parque industrial praticamente inteiro voltado à produção canavieira-, ficará desempregado. Os dados foram apresentados no 1º Workshop do Observatório do Setor Sucroalcooleiro, parceria da Unica com a USP.
Como a mecanização terá de ser de 100%, por causa do protocolo agroambiental assinado entre o governo do Estado, usinas e fornecedores de cana, não deverá restar vagas nos moldes atuais, preenchidas em parte pelos migrantes, oriundos especialmente do Nordeste e do Vale do Jequitinhonha (MG).
"Temos insistido em dialogar, queremos avançar não só nas questões ligadas à qualidade de vida dos trabalhadores. Vamos também eliminar os "gatos" [contratadores de mão-de-obra rural]", afirmou o presidente da Unica, Marcos Jank.
Segundo Inês Facioli, coordenadora da Pastoral do Migrante de Guariba, o avanço da mecanização irá gerar uma migração inversa, com a saída de trabalhadores da região.
"Não vai ter outro jeito, porque todos precisam de remuneração para viver. Vai inverter a situação. A mecanização existe desde o final dos anos 80."
Já o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ribeirão Preto, Silvio Palvequeres, disse que, a partir do momento em que as questões ambientais foram analisadas, o trabalhador ficou em segundo plano. "Esse problema vai engrossar. Só olham para o ambiente, o que força a mecanização. Ninguém vê o lado social, que vai causar desemprego."
Protocolo assinado pela entidade dos usineiros com a Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo) prevê que, até 2011, seja eliminada a figura do "gato" nas usinas do Estado de São Paulo.
O protocolo prevê, também, a melhoria do transporte dos bóias-frias, a transparência na aferição, pagamento por produção e cuidados com o trabalhador migrante.
De acordo com Jank, com o desemprego que surgirá no campo, o setor entrará em uma nova fase, de requalificação. "A cada ano, 500 novas máquinas entram no campo. Ele [migrante] virá para cá e não achará emprego, a cidade não vai ter emprego. O problema não é o migrante, mas o emprego local", disse. Para Palvequeres, os cursos de qualificação não serão suficientes para resolver a alta do desemprego.


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