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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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CONTAS EXTERNAS

Em março, empresas pagaram dívidas de US$ 389 mi com ações; valor é computado como "dólar produtivo"

Investimento direto é menor que o anunciado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda no fluxo de investimento direto estrangeiro no mês de março foi ainda pior que a oficialmente anunciada.
Há duas semanas, o Banco Central divulgou que o investimento direto estrangeiro (IDE) em março fora o menor em oito anos, de apenas US$ 284 milhões.
No entanto, a situação é mais drástica, como apurou a Folha com base em números do próprio BC. Isso porque o valor divulgado pelo governo inclui a entrada de recursos provenientes da conversão de dívidas do setor privado em investimento. Uma forma de essa operação ser realizada é a seguinte: uma empresa que tem uma dívida com um credor no exterior usa suas próprias ações, em vez de dinheiro, para pagá-la.
Esse tipo de operação, conhecida como conversão, ajuda a inflar o resultado do IDE, sem representar entrada de dinheiro novo.
Movimento típico em períodos de crise, as conversões mensais superaram o investimento direto apenas outras duas vezes desde 95. Em março último, elas registraram US$ 389 milhões.
O IDE só não foi mais inflado pelas conversões porque houve saída de recursos por empréstimos entre companhias -outro dado que entra na contabilidade dos investimentos diretos.
"O investimento direto estrangeiro novo é fundamental para ampliar a capacidade produtiva. No fundo, o resultado registrado como conversão se refere a dinheiro que já havia entrado no país e deveria sair quando a dívida fosse paga", diz Antônio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
"Diante da iliquidez do mercado financeiro, muitas empresas acham melhor optar pela conversão da dívida do que não fazer nada", diz Lacerda.
O volume de conversões havia superado o investimento direto em julho do ano passado, quando secou o crédito internacional para o país, obrigando muitas empresas a quitarem suas dívidas.

Sem ritmo
Fernando Ferreira, diretor da consultoria GlobalInvest, aponta as perspectivas de crescimento da economia como principal foco de quem pretende investir no país. "O investidor estrangeiro não vai querer trazer dinheiro para cá se não acreditar em crescimento forte e sustentado da economia", afirma Ferreira.
As projeções do mercado em relação ao tema não são animadoras. Último levantamento do Banco Central com instituições financeiras mostra que a expectativa é que o PIB (Produto Interno Bruto) registre crescimento neste ano de apenas 1,9%.
Já no mercado financeiro, o capital estrangeiro tem tido destaque relevante.
Na Bolsa de Valores de São Paulo, o saldo entre compras e vendas de ações por estrangeiros está positivo em mais de R$ 1,5 bilhão. Na colocação de US$ 1 bilhão em títulos no mercado internacional há poucos dias, o governo brasileiro se deparou com uma demanda seis vezes superior ao ofertado. Os C-Bonds, papéis da dívida brasileira mais negociados no exterior, atingiram seu valor recorde. Mas, diferentemente do IDE, esse capital é extremamente volátil. Com a mesma velocidade com que entra, pode deixar o país e os ativos brasileiros.
"O IDE é caracteristicamente de volatilidade menor, por isso é preferível ao capital que é direcionado ao mercado de títulos", afirma Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Unibanco. "Com o fim do período das grandes privatizações, a média de entrada de IDE vai se estabilizar em um nível inferior ao registrado no final da década de 90 e no ano 2000."


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