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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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EXUBERÂNCIA

Gás que força queda do risco-país pode estar no fim

Para analistas, continuidade do ritmo de baixa só ocorrerá após aprovação das reformas da Previdência e tributária

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de otimismo que predominou no mercado financeiro desde o final do período eleitoral, e que fez o risco-país cair de 2.436 pontos em setembro de 2002 para 737 pontos na última sexta-feira, pode estar chegando ao fim.
Para economistas de bancos e consultorias especializadas, o risco só continuará a cair se as reformas da Previdência e tributária forem aprovadas. Entretanto, o país só atingirá o mesmo patamar de países como o México (250 pontos) e Rússia (330 pontos) quando houver uma melhora estrutural na economia e, consequentemente, uma diminuição significativa da relação dívida/ PIB.
Ou seja, será preciso ir muito além das reformas se o presidente do Banco Central quiser atingir a sua meta de encerrar o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com taxa de risco-país em torno de 300 pontos.
"Estamos em um movimento muito forte de recuperação. As incertezas eleitorais fizeram com que o mercado fizesse uma precificação errada. Mas essa correção já foi feita. Esse movimento só vai continuar à medida que os fundamentos da economia melhorarem", disse Marco Bosco, da consultoria GlobalInvest
Segundo analistas, com a volta do risco ao mesmo nível do início do ano passado, o mercado passará a ser mais realista em relação à situação econômica do país.
Dessa forma, a queda dos juros, a manutenção de um elevado superávit primário e o aumento das exportações são fundamentais para a melhoria do perfil do endividamento público e para a continuidade da queda do risco daqui para a frente.

Medo de calote
Durante o período eleitoral, o temor de que o próximo governo fosse decretar o calote da dívida fez com que os títulos de curto prazo, com vencimento entre 2004 e 2006, fossem negociados com um "spread" (juros acima das taxas pagas pelos títulos públicos dos EUA) acima daqueles com vencimento depois de 2020.
Isso refletia a desconfiança do mercado focalizada no novo governo. Ou seja: para eles, era mais provável que a dívida de curto prazo não fosse paga do que as com vencimento mais longo.
"O papel mais curto, em situações normais, deve ter o "spread" bem mais baixo, pois o risco desse papel não ser pago no ano que vem, por exemplo, é menor do que o de um papel de prazo mais longo", disse Carlos Kawal economista-chefe do Citibank.
Após as eleições, o "spread" desses títulos voltou ao considerado "normal", com as taxas maiores atribuídas aos de longo prazo. Entretanto, restam dúvidas quanto à capacidade de o Brasil pagar suas dívidas.
"Uma das questões mais importantes é se a dívida é ou não sustentável", disse Rodrigo Azevedo, economista-chefe do CSFB Garantia. "É possível que as reformas dêem impulso para a queda do risco, mas é importante observar questões microeconômicas, como o avanço do mercado de capitais e o aumento da integração comercial do país."
Para Antônio Madeira, da MCM Consultores, o aumento do superávit primário esse ano foi para os investidores um importante sinal do governo de que haverá no futuro recursos para o pagamento da dívida.


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