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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Missão brasileira quer aumentar comércio entre os dois países, atualmente restrito a poucos produtos

Conquista de "baleias" começa pela Rússia

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Uma comitiva de 34 empresas brasileiras, chefiada pelo ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), chega dia 18 à Rússia, no que será a primeira incursão do governo Luiz Inácio Lula da Silva em busca do mercado das chamadas "baleias".
Essa é a designação, no jargão dos especialistas em assuntos internacionais, para países de grande porte, como o próprio Brasil, mas que não fazem parte de blocos comerciais relevantes.
A designação serve para Índia, África do Sul, Rússia e China, que, aliás, seria o primeiro alvo do ministro Furlan. Mas a missão brasileira que iria ao país teve que ser adiada por culpa da Sars, a pneumonia atípica cujo epicentro é exatamente a China.
A aproximação com as "baleias", originalmente, era de cunho político e sempre esteve nas formulações teóricas do PT. Mas a missão chefiada por Furlan é essencialmente prática.
"Comigo não tem retórica. O presidente cobra sempre resultados, o que me deixa convencido de que nunca como agora o comércio exterior foi prioridade para um governo brasileiro", festeja o ministro Furlan, ele próprio um grande exportador enquanto esteve na iniciativa privada (presidente da Sadia).
A missão inclui, além de entidades de classe e de apoio institucional (como o do Banco do Brasil), 34 empresários de setores pouco convencionais no comércio com a Rússia.

Negociações
Entraram na pauta chocolate, caramelos, sucos de frutas, equipamentos hospitalares, cosméticos, calçados, têxteis, farmoquímicos, revestimento cerâmico, até software (programas de computadores).
Alguns deles são tradicionais na pauta de exportação, mas não para a Rússia.
A corrente comercial (exportações mais importações) entre os dois países foi de US$ 1,7 bilhão no ano passado, valor extremamente concentrado em apenas duas linhas de produtos.
Oitenta por cento do que o Brasil exporta é carne e açúcar. E a Rússia vende adubos/fertilizantes e níquel e derivados (82% das exportações para o Brasil).
A missão não vai no vazio, para especular. Foi precedida de uma equipe avançada, que fez estudos para identificar os nichos em que, potencialmente, o Brasil poderia ingressar.
"Não vamos entrar atirando com metralhadora, mas com um rifle de precisão", diz o ministro.
Furlan evita fazer previsões sobre quanto pode aumentar a corrente de comércio a partir da incursão da semana que vem a Moscou.
Mas especula com o médio prazo: "O tamanho das duas economias permite que cheguemos a US$ 5 bilhões com grande rapidez", afirma.
O otimismo está amparado pelos números mais recentes: entre 2000 e 2002, o comércio entre Brasil e Rússia saltou de US$ 1 bilhão para US$ 1,7 bilhão, um crescimento, portanto, de 70%.
Nos quatro primeiros meses deste ano houve um novo salto, agora de 40%.

Participação reduzida
Além disso, há o fato de que a participação russa no mercado brasileiro e vice-versa é muito reduzida. O Brasil é o destino de magro 0,4% das exportações da Rússia, ao passo que a Rússia é apenas o 12º mercado para as vendas externas brasileiras.
A China, ao contrário, passou para o segundo lugar, em abril, embora Furlan considere que se trata de uma posição circunstancial. De todo modo, os chineses consolidaram desde o ano passado o quarto lugar entre os mercados para produtos brasileiros, o que só reforça a importância prática, e não teórica, das "baleias".

Múltis brasileiras
Além de iniciar o processo de aproximação com as "baleias", a missão a Moscou tem um segundo objetivo estratégico: explorar a possibilidade de fixar marcas brasileiras no mercado russo.
Furlan trabalha com o fato de que a troca, relativamente recente, do comunismo pelo capitalismo significa que, primeiro, não há marcas da própria Rússia plenamente consolidadas.
Segundo, mesmo as grandes multinacionais ainda não tiveram tempo de fixar totalmente seus logotipos no mercado russo. Afinal, elas pouco entravam durante o comunismo que só terminou definitivamente há 12 anos, depois de 70 anos de estatismo total.
Também no caso das marcas, Furlan está seguindo a orientação de Lula. "O presidente diz sempre que um dos grandes desafios do Brasil é ter 12 ou 15 multinacionais", conta o ministro.
O segundo passo no contato com as "baleias" se dará no segundo semestre, quando o próprio Lula deverá encabeçar uma delegação brasileira a países africanos, entre eles a África do Sul.
No final de outubro, será a vez do Oriente Médio, também, em princípio, com a presença de Lula.
No Oriente Médio, aliás, a missão brasileira já vai encontrar um portentoso obstáculo: os Estados Unidos preparam-se para oferecer um acordo de livre comércio a diferentes países da região, como a Arábia Saudita.


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