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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Ministros anunciam criação de "comissão de alto nível" sobre gás; boliviano quer negociação entre governos
Reunião Brasil-Bolívia termina sem avanço
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Depois de mais de seis horas de
reunião, o encontro entre os ministros brasileiro Silas Rondeau
(Minas e Energia) e boliviano Andrés Soliz Rada (Hidrocarbonetos) terminou sem avanços aparentes em temas como a nacionalização das refinarias pertencentes à Petrobras e a negociação sobre o preço do gás.
O encontro terminou por volta
das 22h locais (23h de Brasília)
sem declarações dos ministros e
dos presidentes da Petrobras, José
Sérgio Gabrielli, e da YPFB (estatal boliviana), Jorge Alvarado.
Em nota assinada pelos dois ministros, é anunciado que "as partes concordaram em realizar reuniões em nível técnico" para tratar de pontos como: as condições
para a condução dos negócios durante a fase de transição, a definição de condições de contratos necessários para a produção do gás e
sua comercialização e o processo
de refino, "inclusive formas de
compensação negociada".
A nota anuncia também a criação de uma "comissão de alto nível", integrada pelos dois presidentes de estatais e ministros.
Horas antes, o ministro Soliz
Rada, em entrevista coletiva, defendeu que as negociações sejam
realizadas "preferencialmente"
com o governo brasileiro, e não
com a Petrobras. "Um dos acordos de Puerto Iguazú, onde estiveram reunidos o presidente Lula
e o presidente Evo Morales, é que
a discussão sobre a nacionalização tem de ser preferencialmente
realizada com o governo brasileiro", disse Soliz Rada, pela manhã.
"Será muito mais frutífera uma
negociação, inclusive de governo
a governo, na qual os governos
instruam a YPFB [estatal petroleira boliviana] e a Petrobras para
que sigam as diretivas governamentais, e não outorgar à negociação um caráter estritamente de
empresa", afirmou, sugerindo
que prefere uma negociação mais
política do que técnica.
Sobre as declarações do chanceler Celso Amorim de anteontem,
Soliz Rada disse está de acordo sobre a necessidade de as negociações serem feitas com "racionalidade". Em seguida, o boliviano
criticou a "emotividade" da imprensa brasileira e acusou a revista "Veja" de defender o envio de
tropas à Bolívia.
O ministro boliviano não comentou o termo "atitude adolescente" usado por Amorim, em
depoimento no Congresso, quando falou sobre o uso das Forças
Armadas para ocupar instalações
da Petrobras.
Críticas à Petrobras
Generoso com Amorim, Rada
não poupou críticas à Petrobras.
Disse que discorda do prazo de 45
dias dados pela empresa para o
término das negociações, depois
do qual acionaria a arbitragem internacional, se necessário.
O boliviano também criticou a
nota da Petrobras Bolívia divulgada anteontem, segundo a qual a
Lei das Privatizações precisaria
ser modificada para que Estado
obtenha o controle acionário das
duas refinarias, como prevê o decreto de nacionalização.
Soliz Rada disse a empresa tem
um "péssimo assessoramento de
advogados bolivianos" e que essa
lei "foi anulada por uma quantidade de leis posteriores".
Houve também uma ameaça
velada. O ministro dos Hidrocarbonetos disse que, "paralelamente, também estamos negociando
com os argentinos". "E encontramos uma enorme receptividade.
Veremos qual dessas duas linhas
de negociações ajuda a outra do
ponto de vista boliviano."
Já no final da entrevista, ao ser
questionado pelos jornalistas se
teme que a Petrobras saia da Bolívia, disse: "Acho que a Petrobras
tem muito mais medo do que a
gente". Ao todo, ele respondeu a
apenas quatro perguntas antes de
se retirar.
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