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Bolívia pagará US$ 112 mi por refinarias
Preço ficou acima do valor que Evo Morales estava disposto a pagar, mas abaixo do avaliado pelo mercado
Pagamento poderá ser feito em até duas vezes, com a possibilidade de parte ser
em gás; acordo foi "uma prova de que o diálogo prevaleceu", diz Rondeau
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Petrobras fechou acordo
com a Bolívia para a venda de
100% de suas duas refinarias no
país. De acordo com o ministro
Silas Rondeau (Minas e Energia), a Bolívia pagará US$ 112
milhões pelas instalações, incluindo seus estoques de derivados. A estatal brasileira permanecerá operando as usinas
por um período de transição,
não definido.
O valor a ser pago pela Bolívia, antecipado pela Folha na
última quarta-feira, poderá ser
dividido em duas parcelas
(uma na assinatura do contrato
e outra dois meses depois), e
existe a possibilidade de pagamento com gás natural. O Brasil compra aproximadamente
30 milhões de metros cúbicos
de gás da Bolívia. "Foi mais
uma prova de que o diálogo
prevaleceu", disse Rondeau.
Segundo ele, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não
interferiu no processo. "O presidente sempre apoiou a posição comercial da Petrobras. O
presidente não entrou na questão do preço", disse. Rondeau
não avaliar a possibilidade de a
Petrobras fazer novos investimentos no país vizinho: "Não
sei responder".
Na Bolívia, o presidente Evo
Morales anunciou o acordo simultaneamente com o ministro brasileiro e adotou tom cordial. "Somos dois países vizinhos, dois países irmãos, depois desse resultado o companheiro Lula continua sendo um
irmão mais velho para mim".
Rondeau disse que a Petrobras sempre defendeu o valor
que foi fechado ontem com a
YPFB (estatal boliviana). "A
Petrobras defendia que fosse
pago o valor de mercado das refinarias. O valor de mercado é a
capacidade de as refinarias gerarem receita", disse Rondeau.
Morales, no entanto, contradisse o ministro brasileiro anteontem, ao afirmar que a Petrobras havia pedido valores
maiores durante a negociação.
Rondeau disse que três auditorias calcularam o valor as
instalações da Petrobras.
As refinarias foram compradas pela Petrobras em 1999 por
US$ 104 milhões. Desde a compra até a venda, a estatal brasileira investiu US$ 32 milhões
para modernização e aumento
da capacidade de produção.
O preço pago pela Petrobras
ficou bem acima do valor que
Morales disse que estava disposto a pagar: entre US$ 60 milhões e US$ 70 milhões. O mercado avaliava que as refinarias
valiam até US$ 200 milhões.
"Bom negócio"
Com a venda das refinarias, a
Petrobras continua na Bolívia
explorando dois campos de
produção de gás natural. Independentemente de investimentos adicionais no país, a estatal já informou que fará pelo
menos os investimentos indispensáveis para manter os campos operando e enviando gás
para o Brasil.
Rondeau avaliou como positivo o período em que a Petrobras esteve no negócio de refino na Bolívia, nas condições
anteriores ao decreto. "Enquanto a Petrobras achou que
era um bom negócio, ela esteve
no negócio. Agora, nessas circunstâncias, ela prefere ficar
fora", disse.
Crise
A crise envolvendo as refinarias da Petrobras na Bolívia começou na segunda-feira, quando o governo brasileiro foi surpreendido pelo impacto da regulamentação do decreto de
nacionalização dos derivados
de petróleo na Bolívia.
A regulamentação estabeleceu que a YPFB teria o monopólio da exportação dos derivados de petróleo produzidos pelas refinarias instaladas no país.
Essas empresas, incluindo as
refinarias da Petrobras, passariam a receber um valor fixo,
menor que o de mercado, pelos
derivados produzidos.
Na avaliação da Petrobras, os
preços fixados pelo governo boliviano inviabilizaram as refinarias. Em um dos produtos -
chamado de "petróleo reconstituído" - o valor fixo pago à
Petrobras seria de US$ 30,35
por barril, enquanto que no
mercado internacional o valor
é de US$ 55 por barril.
Depois da edição do decreto,
o governo decidiu vender 100%
das refinarias -a proposta anterior era que a Petrobras permanecesse como minoritária-
por valor de mercado. Caso não
obtivesse sucesso, a estatal brasileira ameaçava ir à Justiça, na
Bolívia e na Holanda.
Ontem, no anúncio do acordo, Rondeau foi questionado
sobre se a crise com a Bolívia
estava solucionada. "Que crise?", respondeu o ministro.
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