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BCE descarta parcela de
culpa na crise
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BASILEIA
O presidente do BCE
(Banco Central Europeu),
Jean-Claude Trichet, rompeu o coro de mensagens de
coesão política na União Europeia e expôs atritos com os
governos da zona do euro,
reafirmando que agiu de forma independente e que, se a
reação à crise foi lenta, isso
não se deve à instituição.
"Somos uma união monetária e econômica. Nós [do
BCE] cuidamos da união monetária. Vocês [governantes]
têm de ter respeito por isso",
disse Trichet a jornalistas em
Basileia, lembrando seu embate com os governantes há
poucos anos.
A cidade suíça foi sede do
encontro bimestral do BIS
(espécie de BC dos BCs), o
qual ele preside.
Mas, apesar de marcar posição, o francês se recusou a
detalhar a forma como atuará o BCE na compra de títulos da dívida europeia. A medida foi anunciada dias depois de ele negá-la e após semanas de discussão e da protelada proclamação do megapacote de 750 bilhões
anunciado pela UE e pelo
FMI no domingo.
Preferiu apontar a luz no
fim do túnel: "Achamos que
no cenário global há sinais
positivos, mesmo na área do
euro. Continuamos cautelosos, mas identificamos esses
sinais positivos".
Para o presidente do BCE,
o maior risco hoje não é a dívida crescente da Europa,
uma vez que o pacote que lhe
servirá de rede de proteção
foi acertado -a mudança de
tom na reunião do BIS após
o anúncio foi evidente, com a
tensão se dissipando.
É a pressão inflacionária,
que começa a se manifestar
sobretudo nos emergentes,
primeiros a saírem da crise.
"Hoje eu diria que o sentimento é que a economia global está cada vez mais sustentável, e, embora o risco
[de uma recessão de duplo
mergulho] ainda esteja lá, ele
é cada vez menor."
Meirelles
O brasileiro Henrique
Meirelles não compartilha
de tamanho otimismo, referindo-se à atual crise do deficit como mostra de que "a recuperação mundial está sujeita a muitas incertezas".
O presidente do BC, no entanto, afirmou que ainda é
cedo para avaliar que tipo de
impacto a atual crise na Europa poderia ter sobre o Brasil. Repetiu, em todo caso,
seu mantra de que o país está
preparado para crises.
Mesmo assim, disse Meirelles, o BC presta atenção à
movimentação na UE, especialmente na Espanha, a
maior das economias na linha de tiro do mercado e na
qual os bancos brasileiros
têm US$ 1,48 bilhão em exposição (ante meros US$ 5
milhões na Grécia).
"Um problema na Espanha seria um problema de
maior importância."
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