São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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BCE descarta parcela de culpa na crise

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BASILEIA

O presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet, rompeu o coro de mensagens de coesão política na União Europeia e expôs atritos com os governos da zona do euro, reafirmando que agiu de forma independente e que, se a reação à crise foi lenta, isso não se deve à instituição.
"Somos uma união monetária e econômica. Nós [do BCE] cuidamos da união monetária. Vocês [governantes] têm de ter respeito por isso", disse Trichet a jornalistas em Basileia, lembrando seu embate com os governantes há poucos anos.
A cidade suíça foi sede do encontro bimestral do BIS (espécie de BC dos BCs), o qual ele preside.
Mas, apesar de marcar posição, o francês se recusou a detalhar a forma como atuará o BCE na compra de títulos da dívida europeia. A medida foi anunciada dias depois de ele negá-la e após semanas de discussão e da protelada proclamação do megapacote de 750 bilhões anunciado pela UE e pelo FMI no domingo.
Preferiu apontar a luz no fim do túnel: "Achamos que no cenário global há sinais positivos, mesmo na área do euro. Continuamos cautelosos, mas identificamos esses sinais positivos".
Para o presidente do BCE, o maior risco hoje não é a dívida crescente da Europa, uma vez que o pacote que lhe servirá de rede de proteção foi acertado -a mudança de tom na reunião do BIS após o anúncio foi evidente, com a tensão se dissipando.
É a pressão inflacionária, que começa a se manifestar sobretudo nos emergentes, primeiros a saírem da crise. "Hoje eu diria que o sentimento é que a economia global está cada vez mais sustentável, e, embora o risco [de uma recessão de duplo mergulho] ainda esteja lá, ele é cada vez menor."

Meirelles
O brasileiro Henrique Meirelles não compartilha de tamanho otimismo, referindo-se à atual crise do deficit como mostra de que "a recuperação mundial está sujeita a muitas incertezas".
O presidente do BC, no entanto, afirmou que ainda é cedo para avaliar que tipo de impacto a atual crise na Europa poderia ter sobre o Brasil. Repetiu, em todo caso, seu mantra de que o país está preparado para crises.
Mesmo assim, disse Meirelles, o BC presta atenção à movimentação na UE, especialmente na Espanha, a maior das economias na linha de tiro do mercado e na qual os bancos brasileiros têm US$ 1,48 bilhão em exposição (ante meros US$ 5 milhões na Grécia).
"Um problema na Espanha seria um problema de maior importância."


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