São Paulo, domingo, 11 de junho de 2006

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LUÍS NASSIF

Uma campanha sem plataformas


Com o próximo governo, o máximo que se pode ter é a taxa de juros menor e um BC menos cabeça-de-planilha

AFINAL O QUE o que será um segundo governo Lula? O que seria um primeiro governo Alckmin? Não sei -e pelo visto ninguém sabe.
Nos últimos 15 anos, as formas de gestão avançaram muito. Primeiro, os sistemas ISO de certificação, uma espécie da velha Organização & Métodos com grife. Da ISO se evoluiu para o TCQ (método japonês de qualidade total) e para outras metodologias sofisticadas como o "Seis Sigmas". As empresas já estão superando essa etapa e entrando no planejamento estratégico.
E o governo? Hoje em dia, todos os países bem-sucedidos montaram seu planejamento estratégico. E por tal não se entenda apenas definir dois ou três setores como prioritários e conferir algumas benesses.
O planejamento estratégico não é uma mera formulação de objetivos.
Aliás, o estado de Sergipe -mencionado nesta semana em coluna do deputado Antonio Delfim Netto- é um exemplo notável de que, com idéias claras, identificação de ações estruturantes, interação entre secretarias, pode se avançar fantasticamente. Em apenas quatro anos, o Estado saiu de quinto pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Nordeste, para o primeiro IDH. Em 30 anos de marketing, o pacto cearense não logrou melhorar em quase nada o IDH do Estado.
Não se trata de tarefa simples. Passa, primeiro, por uma redefinição da própria estrutura gerencial do Estado. Política habitacional tem de estar casada com política de saúde, saneamento, política de emprego, políticas de renda. Se não for possível redesenhar o ministério, tem que se pensar em criar blocos de ministérios, trabalhando sob uma coordenação única. Depois, o caminho passa pela definição clara e precisa das ações estruturantes -aquelas com maior impacto para atingir o objetivo almejado. A partir dessas definições iniciais, passa-se para o detalhamento das medidas, as ações efetivas, os indicadores de acompanhamento, os investimentos a serem feitos, os estímulos fiscais, a coordenação de esforços com agentes de dentro e fora do governo.
Qual candidato tem esse conjunto de propostas articuladas para apresentar? A discussão econômica fica nesse infindável jogo de clichês entre Lula "ninguém fez tanto pelo povo como eu", e Alckmin "vim para chacoalhar as estruturas".
O mundo está andando de avião a jato e, por aqui, se continua nessa lengalenga de montar toda uma campanha presidencial em cima de clichês, sem um mínimo de apresentação estruturada de fins e de meios. O máximo que o país pode ambicionar com o próximo governo é ter um Banco Central menos cabeça-de-planilha e uma taxa de juros um pouco menor. E, a exemplo do início dos anos 50, já existem estudos e diagnósticos em abundância, à disposição do primeiro estadista que conseguir ocupar a Presidência.

Centros de excelência
Aproveitando as facilidades da internet e do e-mail, solicito aos leitores que tenham estudado os seguintes temas que me enviem trabalhos e estudos para consolidação e publicação na coluna: SUS, segurança pública, saneamento, integração da América Latina, gestão e planejamento públicos.


Blog: www.luisnassif.com.br
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