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LUCIANO COUTINHO
Faltam estratégia e confiança
O grande desafio é reabilitar o Estado, financeiramente fragilizado, inchado, inepto
e vulnerável à corrupção
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FALTA À ELITE econômica e política brasileira uma estratégia de desenvolvimento e, ainda, a compreensão das condições de
governança necessárias para tal. Isso é desanimador ante a realização,
em poucos meses, de eleições que
renovarão a Presidência da República, o Congresso, os governadores e
as assembléias legislativas. O debate
político é ralo e banal; as grandes
questões nacionais não são objeto
de debate e propostas consistentes.
Cabe à intelectualidade provocar
a superação dessa pasmaceira, porque os partidos políticos não se mostram à altura. Depois de duas décadas e meia de semi-estagnação, de
bloqueio dos canais de ascensão social e de entorpecimento da geração
de empregos, a sociedade brasileira
não pode afundar num desespero
paradoxal: as instituições democráticas funcionam e se consolidam,
mas não existe um sistema político-republicano capaz de levar a nação
adiante com esperança e com perspectiva construtiva do futuro.
Nos últimos três anos, condições
mundiais superbenignas (comércio
com preços favoráveis e liquidez global) viabilizaram a superação da vulnerabilidade das contas externas e
devolveram, parcialmente, à economia brasileira um mínimo de autonomia para crescer sustentavelmente. Mas isso, embora fundamental, não é suficiente. Desde logo
é essencial impedir que a apreciação
prolongada da taxa de câmbio desfaça a recém-conquistada (e ainda não
consolidada) robustez cambial. De
outro lado se põe o grande desafio de
reabilitar o Estado, financeiramente
fragilizado, inchado, inepto e vulnerável à corrupção.
A combinação maligna de carga
tributária beirando 38% do PIB, encargos de juros da dívida pública
consumindo 8% do PIB, expansão
descontrolada dos gastos correntes
e investimentos públicos reprimidos imobilizou a capacidade de organizar o desenvolvimento. Diante
disso, a prioridade é regenerar a saúde das finanças públicas para reduzir substancialmente a taxa de juros,
criar uma estrutura longa de financiamento (que pressupõe inflação
controlada), desengessar a gestão
orçamentária e aumentar o potencial de investimento.
Essa restauração da capacidade
do Estado (inclui o Judiciário, o Legislativo e o Executivo, com ênfase
especial no sistema previdenciário)
transita por uma reengenharia profunda dos processos de gestão, visando eficiência, produtividade e celeridade. Os programas e políticas
públicas deveriam passar por avaliações de custo e benefício e pelo monitoramento de resultados, prevenindo desvios. A informatização
precisa se aprofundar com processos transparentes e menos vulneráveis a fraudes.
A complexidade dos novos modelos de concessão e de parceria com o
setor privado e a boa gestão empresarial pública exigem regulação qualificada e competente, bem como segurança e previsibilidade jurídica.
Em suma, o desenvolvimento institucional é tão relevante quanto a
adoção de uma estratégia.
O avanço da governança pública
tornou-se um fator crítico para um
projeto nacional de desenvolvimento que infunda à sociedade esperança, confiança no poder público e respeito às leis.
LUCIANO COUTINHO , 54, é professor titular do Instituto
de Economia da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). Foi secretário-geral do Ministério da Ciência
e Tecnologia (1985-1988).
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