São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SALTO NO ESCURO

Aumentos de até 11% compensariam empresas em razão de perda causada por clientes de baixa renda

Governo admite reajuste extra na energia

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo confirmou ontem que estuda novo reajuste extraordinário para as distribuidoras de energia elétrica. O novo aumento seria dado para compensar as perdas das distribuidoras com o aumento do número de consumidores de baixa renda.
A alternativa ao reajuste é o Tesouro bancar a perda de receita das empresas. "Ou paga o consumidor ou paga o contribuinte", disse o ministro Francisco Gomide (Minas e Energia).
De acordo com Orlando González, presidente da Abradee (Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia), a perda de receita das empresas do setor elétrico no país pode chegar a aproximadamente R$ 1 bilhão.
Gonzáles afirmou que, no caso de distribuidoras localizadas no Nordeste, que têm mais clientes residenciais considerados de baixa renda e que pagam tarifas menores, os aumentos nos preços dos serviços para cobrir as perdas teriam de variar entre 7% e 11%. Segundo ele, na média nacional os reajustes teriam de ser de 3%.
Já existe um grupo de estudo no Ministério de Minas e Energia analisando o problema. Estuda-se a alternativa de usar recursos arrecadados com os leilões da energia produzida pelas geradoras estatais para bancar os prejuízos das distribuidoras de energia. Mas não se sabe se haverá recursos suficientes para cobrir as necessidades reclamadas pelo setor.
Neste ano, o consumidor já pagou reajuste extra em janeiro (2,9% para residências e 7,9% para indústria), para repor perdas das distribuidoras com o racionamento. Em março, foi criado o seguro anti-racionamento -aumento médio de 2%. Em junho, o seguro foi reajustado em 16,33%. Se concedido outro reajuste, seria o quarto extra neste ano.

Origem do problema
O aumento da quantidade de consumidores de baixa renda foi decidido após negociação do governo com o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), relator da lei nš 10.438 (que regulamentou a recomposição das perdas das distribuidoras e geradoras de energia durante o racionamento) no Congresso. O aumento não constava da medida provisória, que depois foi transformada em lei.
O benefício foi incluído no projeto pelo deputado. De acordo com o texto final da lei, são consumidores de baixa renda aqueles que gastam menos de 80 kWh por mês.
Até a lei, cada distribuidora tinha seus próprios critérios para definir seus consumidores de baixa renda. A argumentação agora é que o critério estabelecido aumenta muito a quantidade de consumidores de baixa renda. Com isso, haveria perda para as empresas.
O próprio ministro Francisco Gomide tem críticas à definição de baixa renda aprovada na lei. "Pessoalmente, acho que o consumo não é um bom critério. Deveria haver critérios socioeconômicos", disse Gomide.
Há 15 dias, a Abradee conseguiu liminar na Justiça impedindo a aplicação do novo critério para definição dos consumidores de baixa renda. Até o momento, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) não recorreu da medida. A agência alega que não foi notificada.
Enquanto a liminar estiver valendo, o governo não precisa dar reajuste extra nem socorrer as empresas elétricas com recursos do Tesouro.

Bônus
Mais de quatro meses após o fim do racionamento, o governo ainda não começou a ressarcir as distribuidoras de energia pelos bônus pagos (aos consumidores, por redução de consumo) durante a vigência da medida. Pelas contas das distribuidoras, o governo ainda deve aproximadamente R$ 350 milhões. Metade deve ser paga nos próximos dias. A outra metade, em até 90 dias.



Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Inadimplência sobe de 5% para 7% neste ano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.