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Lula veta reajuste de 16,7% a aposentados
Presidente classifica medida de "politiqueira"; se fosse aprovado, aumento traria despesa extra de R$ 6,973 bi neste ano
Numa crítica indireta ao Congresso, Lula diz que reajuste era "irresponsável" por não estar previsto no Orçamento para este ano
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou ontem o reajuste de 16,67% para os aposentados e pensionistas do INSS
(Instituto Nacional do Seguro
Social) que ganham mais de um
salário mínimo. O principal argumento para vetar o reajuste,
classificado por Lula de "politiqueiro", foi seu custo, calculado
em R$ 6,973 bilhões neste ano.
Em rápida entrevista ontem,
Lula disse que não se preocupava com eventuais repercussões
políticas do veto. "Problema
político não me interessa, o que
interessa é o problema orçamentário. Não posso ser irresponsável, e não havia previsão
no Orçamento para essa despesa", comentou o presidente.
Lula disse não temer reação
dos aposentados. "É uma coisa
tão politiqueira que os aposentados nem estavam reivindicando isso", completou. Ao tachar o aumento de "politiqueiro" e "irresponsável", Lula fez
uma crítica indireta ao Congresso Nacional, que aprovou o
reajuste de 16,67% numa operação articulada pela oposição
e que contou com o apoio de
parte da bancada governista.
O governo defende reajuste
de 5% para as aposentadorias e
pensões acima do salário mínimo, percentual que consta de
medida provisória em tramitação no Congresso.
Em coro com Lula, o ministro da Previdência, Nelson Machado, apontou que o reajuste
vetado não fazia parte do acordo feito pelo governo com as
centrais sindicais.
"Objetivamente, todo mundo sabia que vetaríamos os
16,67%. Queremos cumprir o
acordo que fizemos com as centrais sindicais, os aposentados
e os pensionistas. Esperamos
que o Congresso permita o
cumprimento desse acordo",
justificou o ministro.
A extensão do aumento de
16,67% foi incluída pelos parlamentares na votação da medida
provisória que promoveu o aumento do salário mínimo de R$
300 para R$ 350, sancionado
ontem por Lula.
Nas razões do veto à extensão do reajuste a todos os aposentados, o governo alega que o
artigo aprovado pelo Congresso fere a Constituição, porque
nenhum benefício ou serviço
da seguridade social (saúde,
Previdência e assistência social) pode ser "criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio".
Além disso, os ministérios da
Previdência, da Fazenda e do
Planejamento argumentam
que a extensão do reajuste tem
um "reflexo negativo" sobre as
metas fiscais fixadas pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias.
A extensão do aumento, segundo os ministérios, ainda fere a Lei de Responsabilidade
Fiscal porque cria uma despesa, sem estimativa de impacto
financeiro e sem apontar a origem de recursos para pagamento. A LRF estabelece que
toda elevação de despesa precisa ser compensada por aumento permanente de receita ou
corte de outras despesas.
Veto anunciado
Nas últimas semanas, vários
ministros já haviam anunciado
a intenção do Planalto de vetar
a extensão do aumento. Agora,
a estratégia do governo é impedir que os parlamentares incluam os 16,67% na medida
provisória que fixou em 5% o
reajuste para os aposentados e
pensionistas que ganham acima de um salário mínimo.
Acordo nesse sentido foi fechado ontem (leia texto abaixo).
Os ministros Luiz Marinho
(Trabalho) e Machado chegaram a convocar, na semana passada, uma reunião com representantes dos aposentados para alertá-los sobre o risco de
eles ficarem apenas com a reposição da inflação, caso o Congresso incluísse o percentual de
reajuste do mínimo na MP ainda em tramitação.
Isso porque, se tivesse que
vetar a extensão dos 16,67%
também nessa MP, dependendo da redação dada pelo Congresso à medida provisória, o
governo será obrigado a derrubar o reajuste de 5% hoje em vigor. Nesse caso, seria aplicada
aos benefícios previdenciários
acima do mínimo apenas a variação da inflação, de 3,14%.
Desde o encontro, sindicalistas passaram a pressionar os
parlamentares a fim de evitar o
prejuízo. Das entidades que representam os aposentados,
apenas a Cobap (Confederação
Brasileira de Aposentados e
Pensionistas) tem se manifestado contra o reajuste de 5%.
Em carta aberta, a confederação pede aos parlamentares
que derrubem o veto de Lula.
(JULIANNA SOFIA e MARTA SALOMON)
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