São Paulo, quarta-feira, 11 de julho de 2007

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CVM vai investigar acordo Azaléia/Vulcabras

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), entidade que fiscaliza o mercado de capitais, irá investigar a compra de parte da Azaléia pela Vulcabras. A suspeita é que tenha havido vazamento de informações, já que as ações da Vulcabras com direito a voto valorizaram-se em 44,85% e as sem direito a voto subiram 12,92% na sexta-feira, um dia antes da divulgação do negócio.
Na última semana, os papéis da fabricante de calçados oscilaram muito, com valorização final de 99,8%, entre os dias 3 e 10. A Vulcabras divulgou anteontem que comprou 15% do capital social da Azaléia e que está em negociações para a aquisição total do controle, por valores não revelados.
A Folha apurou com pessoas próximas ao negócio que Pedro Grendene, controlador da Vulcabras, já tem como certo que terá 36% de participação na Azaléia. Isso porque as ações da empresa estão divididas entre as famílias De Paula e Volkart. A família De Paula teria manifestado interesse em sair do negócio. A aquisição era negociada desde dezembro.
A Azaléia passou a ter problemas de comando em 2004, com a morte do fundador, Nestor de Paula. Sem ter a sucessão planejada, a empresa está sem presidente desde dezembro, com a saída do ex-ministro Antonio Britto do comando.
"Essa aquisição resolveria o problema do controle da Azaléia", diz Luciano Pires Cerveira, consultor especializado na área calçadista e que fará uma apresentação hoje na Francal, maior feira do setor.
Além de ser objeto de investigação da CVM, a aquisição da Azaléia também preocupa outros fabricantes de calçados. Isso porque, com o negócio, os gêmeos Alexandre e Pedro Grendene passam a ter uma presença muito relevante nesse mercado.
Além da Vulcabras e da Azaléia, Pedro Grendene também tem 15% de participação na Calçados Beira Rio. Já a Grendene, controlada por Alexandre Grendene, é a segunda maior indústria calçadista do país, com receita líquida de R$ 1,1 bilhão no ano passado. Ela fica atrás apenas da Alpargatas, cujo faturamento líquido somou R$ 1,4 bilhão em 2006.
Segundo o diretor de uma empresa concorrente, a principal preocupação do mercado é que, mesmo sem os irmãos Grendene controlarem as diversas empresas nas quais têm participações, haja compartilhamento de informações entre elas. Com isso, diz outro competidor, que também pede para não ser identificado, há o risco de formação de cartel.
Apesar de considerar a hipótese exagerada, Cerveira diz que o movimento de consolidação do mercado calçadista está sendo traçado principalmente para melhorar a rentabilidade no mercado interno.
"As fusões que vierem a acontecer não têm como objetivo concorrer com os chineses, mas sim criar um mercado interno menos competitivo", diz Cerveira. "Para os fabricantes, tanto faz onde o calçado é produzido, já que muitos deles já fabricam na China. O que interessa é melhorar a lucratividade, e o ganho de escala da aquisição já proporciona isso."
Segundo um ex-diretor da Azaléia, a aquisição foi vista pelo mercado como um golpe de mestre dos Grendene, já que a situação financeira da Azaléia é muito boa, a marca Olympikus é patrocinadora do Pan e líder de mercado e a compra foi anunciada um dia antes do início do maior evento do setor.
A empresa, no entanto, poderá enfrentar problemas também com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). De acordo com Silvia Yukimaru, analista do setor de calçados da corretora Lafis, os últimos dados disponíveis indicam que a soma das participações de mercado das marcas Olympikus, da Azaléia, e Reebok, da Vulcabras, chegaria a 50% do mercado de tênis.
Quando a aquisição provoca concentração de mercado superior a 20%, cabe ao órgão de defesa da concorrência aprová-la. Procuradas pela Folha, Vulcabras, Azaléia e Grendene não concederam entrevistas.


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