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CVM vai investigar acordo Azaléia/Vulcabras
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários), entidade que fiscaliza o mercado de capitais, irá
investigar a compra de parte da
Azaléia pela Vulcabras. A suspeita é que tenha havido vazamento de informações, já que
as ações da Vulcabras com direito a voto valorizaram-se em
44,85% e as sem direito a voto
subiram 12,92% na sexta-feira,
um dia antes da divulgação do
negócio.
Na última semana, os papéis
da fabricante de calçados oscilaram muito, com valorização
final de 99,8%, entre os dias 3 e
10. A Vulcabras divulgou anteontem que comprou 15% do
capital social da Azaléia e que
está em negociações para a
aquisição total do controle, por
valores não revelados.
A Folha apurou com pessoas
próximas ao negócio que Pedro
Grendene, controlador da Vulcabras, já tem como certo que
terá 36% de participação na
Azaléia. Isso porque as ações da
empresa estão divididas entre
as famílias De Paula e Volkart.
A família De Paula teria manifestado interesse em sair do
negócio. A aquisição era negociada desde dezembro.
A Azaléia passou a ter problemas de comando em 2004,
com a morte do fundador, Nestor de Paula. Sem ter a sucessão planejada, a empresa está
sem presidente desde dezembro, com a saída do ex-ministro
Antonio Britto do comando.
"Essa aquisição resolveria o
problema do controle da Azaléia", diz Luciano Pires Cerveira, consultor especializado na
área calçadista e que fará uma
apresentação hoje na Francal,
maior feira do setor.
Além de ser objeto de investigação da CVM, a aquisição da
Azaléia também preocupa outros fabricantes de calçados. Isso porque, com o negócio, os
gêmeos Alexandre e Pedro
Grendene passam a ter uma
presença muito relevante nesse mercado.
Além da Vulcabras e da Azaléia, Pedro Grendene também
tem 15% de participação na
Calçados Beira Rio. Já a Grendene, controlada por Alexandre Grendene, é a segunda
maior indústria calçadista do
país, com receita líquida de R$
1,1 bilhão no ano passado. Ela
fica atrás apenas da Alpargatas,
cujo faturamento líquido somou R$ 1,4 bilhão em 2006.
Segundo o diretor de uma
empresa concorrente, a principal preocupação do mercado é
que, mesmo sem os irmãos
Grendene controlarem as diversas empresas nas quais têm
participações, haja compartilhamento de informações entre elas. Com isso, diz outro
competidor, que também pede
para não ser identificado, há o
risco de formação de cartel.
Apesar de considerar a hipótese exagerada, Cerveira diz
que o movimento de consolidação do mercado calçadista está
sendo traçado principalmente
para melhorar a rentabilidade
no mercado interno.
"As fusões que vierem a
acontecer não têm como objetivo concorrer com os chineses,
mas sim criar um mercado interno menos competitivo", diz
Cerveira. "Para os fabricantes,
tanto faz onde o calçado é produzido, já que muitos deles já
fabricam na China. O que interessa é melhorar a lucratividade, e o ganho de escala da aquisição já proporciona isso."
Segundo um ex-diretor da
Azaléia, a aquisição foi vista pelo mercado como um golpe de
mestre dos Grendene, já que a
situação financeira da Azaléia é
muito boa, a marca Olympikus
é patrocinadora do Pan e líder
de mercado e a compra foi
anunciada um dia antes do início do maior evento do setor.
A empresa, no entanto, poderá enfrentar problemas também com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). De acordo com Silvia
Yukimaru, analista do setor de
calçados da corretora Lafis, os
últimos dados disponíveis indicam que a soma das participações de mercado das marcas
Olympikus, da Azaléia, e Reebok, da Vulcabras, chegaria a
50% do mercado de tênis.
Quando a aquisição provoca
concentração de mercado superior a 20%, cabe ao órgão de
defesa da concorrência aprová-la. Procuradas pela Folha, Vulcabras, Azaléia e Grendene não
concederam entrevistas.
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