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Comércio incentiva pagamento com cheque
Com dificuldade para obter capital de giro, lojistas menores tentam evitar taxas cobradas por administradoras de cartões
Perdas após calotes com cheques são de 2,5%, dizem empresários, contra taxa de 5% cobrada pelas empresas de cartões eletrônicos
FÁTIMA FERNANDES
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
O cheque voltou. Cadente há
anos, o uso desse meio de pagamento passa a ser incentivado
pelo comércio paulista, como
forma de fugir das altas taxas
cobradas pelas administradoras de cartões de crédito. A Folha apurou que o uso de cheques cresceu no setor de vestuário, nas lojas de shoppings e
nos postos de gasolina.
Trata-se de um cálculo. Enquanto a inadimplência final na
venda com cheque está ao redor de 2,5% sobre a receita, os
lojistas são obrigados a pagar
5% de taxa às administradoras
de cartões. De cada R$ 100 vendidos com cheque, o lojista recebe R$ 97,50. Nas vendas com
cartão, o lojista fica com R$ 95.
"O uso do cheque cresce porque o lojista, principalmente o
de pequeno porte, está com dificuldade maior para obter capital de giro e faz contas", diz
Marcel Solimeo, economista da
ACSP (Associação Comercial
de São Paulo). Isso não significa, segundo ele, que as lojas pararam ou vão deixar de aceitar
cartão de crédito. "Só que estão
concedendo maiores descontos
e prazos mais longos no pagamento com cheque", afirma.
Levantamento do Banco
Central (BC) mostra que, em
maio, 8,3% do valor total de
cheques trocados no país, de R$
6,66 bilhões, foi devolvido. Mas
os lojistas conseguem depois
recuperar parte do valor desses
cheques devolvidos. Ao final, a
perda na venda com cheque é
menor, de 2,5% em algumas regiões, como em São Paulo.
Ofensiva
O estímulo ao uso do cheque
pelos lojistas ocorre num momento em que o governo planeja mudar a legislação brasileira
que regula o mercado de cartões, de crédito e de débito, dominado por duas empresas: a
VisaNet, que detém a exclusividade para credenciar a bandeira Visa, e a Redecard, que tem a
licença MasterCard.
O uso do cheque, segundo lojistas, deve ser ainda mais estimulado agora que o Senado
aprovou a liberação de preços
diferenciados nas compras pagas com cartão e as com dinheiro ou cheque. Se aprovada pela
Câmara, a medida permitirá
que os lojistas deem descontos
para os consumidores que pagam com cheque ou dinheiro.
A diferenciação de preços
com base no meio de pagamento é hoje proibida por uma portaria do Ministério da Fazenda.
Mas não a concessão de prazos
diferenciados, hoje permitida.
Outra medida prevista pelo
governo é exigir que as empresas de cartões unifiquem os sistemas dos terminais que capturam as compras. Dessa forma,
os lojistas poderão alugar um
único terminal para todas as
bandeiras, reduzindo custos.
Incentivos
O incentivo ao pagamento
com cheque é feito na hora em
que o consumidor chega ao caixa. Há casos de lojas que, dependendo do valor, dão prazo
de até quatro meses para quem
opta por essa modalidade. A Erva Doce, loja de roupas femininas, parcela em até quatro vezes o pagamento com cheque e,
com cartão, em até três vezes.
Marcelo Mattoso Azeredo,
dono de loja no Bom Retiro e
presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do bairro, afirma que o cartão é a segunda opção dada ao consumidor, devido às altas taxas cobradas pelas
empresas de cartão.
"A perda na venda com cheque nas minhas lojas é de da ordem de 2%. A taxa de administração das empresas de cartão é
de 3,5% a 5%, fora o aluguel das
máquinas, que varia de R$ 70 a
R$ 90 por mês por equipamento", afirma. O uso do cheque,
que, segundo ele, antes era restrito a alguns estabelecimentos, passou a ser generalizado
nas 1.200 lojas da região.
O pagamento com cheque representa 70% da venda da Birô,
loja de bolsas e cintos localizada no Bairro do Bom Retiro, segundo Nivaldo Cid Ferraz, sócio-proprietário da loja.
"A perda no pagamento com
cheque na minha loja é da ordem de 0,5% sobre a venda. Por
isso, damos hoje preferência a
essa forma de pagamento, apesar de aceitarmos cartões."
Em época de liquidação, as
lojas, tradicionalmente, dão
preferência ao pagamento com
dinheiro ou cheque, segundo
Nabil Sahyoun, presidente da
Alshop, associação que reúne
os lojistas de shoppings.
Afirma o presidente da entidade: "Quem aceita cheque
corre riscos, não há dúvida. Só
que, dependendo da época e do
custo da operação com cartão, o
risco compensa, como o que está ocorrendo neste momento."
Segundo ele, o custo com taxas pagas às empresas de cartões hoje varia de 2% a 5%, nas
lojas de shoppings -percentual
maior do que a perda verificada
nas vendas com cheque.
"A tendência agora é crescer
ainda mais o uso do cheque como forma de pagamento à medida que mais lojas entram em
liquidação", afirma o presidente da associação de shoppings.
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