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MARCHA LENTA
Estudo do Iedi mostra que a fabricação de eletroeletrônicos, cimento e produtos farmacêuticos volta aos níveis de 1991
Produção da indústria já regride 12 anos
CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O declínio de atividade no primeiro semestre levou alguns setores da indústria a amargar níveis
de produção semelhantes ou
mesmo inferiores aos que apresentavam uma década atrás.
Estudo elaborado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) mostra
que a produção de eletroeletrônicos, produtos farmacêuticos, cimento e artigos de materiais plásticos regrediu ao mesmo patamar
de 1991. A produção de eletroeletrônicos está só 2,27% acima da
do primeiro semestre daquele
ano. Se comparada à do primeiro
semestre de 2002, caiu 22%.
Além do recuo do volume produzido, o complexo eletroeletrônico também sofre com o desequilíbrio na balança comercial.
"Temos um déficit de aproximadamente R$ 7 bilhões", diz Milton
Campanário, professor da USP.
A CCE, por exemplo, tem capacidade ociosa de 65%. "Há dez
anos, produzíamos 11 milhões de
TVs por ano. "Hoje, o número
caiu para 4 milhões", diz Synésio
Batista, vice-presidente de relações institucionais da empresa.
"Não há campanha de marketing
que faça o cliente entrar na loja
com essa taxa elevadíssima de juros e com a economia parada."
Na avaliação de Mario Salerno,
diretor de estudos setoriais do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais do que
um melhor cenário macroeconômico, o setor eletrônico precisa é
de políticas mais abrangentes.
"Determinados nichos do complexo eletrônico precisam de uma
política industrial dirigida. Essa
política precisa ser sustentada por
medidas de infra-estrutura, educação da mão-de-obra, desenvolvimento regional, distribuição de
renda e defesa da concorrência."
Declínio mais profundo acompanhou o setor de vestuário (e
correlatos, como fiação e tecelagem). Hoje, a produção de vestuários é 36% inferior à do início dos
anos 90. Em relação ao primeiro
semestre do ano passado, houve
recuo de 20,65%.
""O maior drama do setor de
vestuário é que ele não é capitalizado. Vive do faturamento com
cada coleção", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest (associação das empresas). Do universo de 170 mil empresas do setor no país, não mais que 3% são
grandes empresas, com maior
acesso a crédito, afirma Chadad.
Segundo o executivo, o ápice do
setor ocorreu em 1986, quando
foram confeccionados 5,7 bilhões
de peças -a produção fora estimulada pelo aumento de renda
dos trabalhadores propiciado pelo congelamento de preços e por
reajuste real de 5,7% nos salários.
Em 1998, a produção estava em
5,3 bilhões de peças. No ano passado, não passou de 4,7 bilhões.
Para 2003, o setor depende do
aquecimento da demanda neste
semestre para, ao menos, repetir o
desempenho de 2002.
Fabricantes de equipamentos
para produção e distribuição de
energia elétrica tampouco permaneceram imunes neste ano. O nível de produção é 35% menor do
que o registrado em 2001 -auge
do faturamento das empresas, fomentado pela necessidade de investimentos pela ameaça do apagão. É também inferior, em 33%,
ao do primeiro semestre de 2002.
Para analistas, o tombo tem como
uma das causas a crise por que
passam as distribuidoras.
Com desempenho diretamente
ligado ao de setores essenciais da
economia, como a indústria civil
e o de infra-estrutura, a indústria
de cimento registra nível de produção 7,7% acima do de 12 anos
atrás -confrontada com 2002, a
produção recua 11,7%.
""O setor apenas reflete a falta de
investimento na construção civil
e em infra-estrutura", argumenta
José Otávio Carvalho, secretário-executivo do Snic (Sindicato Nacional da Indústria do Cimento).
Em 1999, mesmo com a desvalorização do real, o consumo do
produto no mercado brasileiro
somou 40,2 milhões de toneladas
-impulsionado pela construção
civil, a chamada indústria formal,
e o consumo informal, de pequenas obras e reformas.
Desde 2000, a queda tem sido
progressiva: de 39,3 milhões para
38,4 milhões, em 2001, e 37,9 milhões de toneladas no ano passado. De janeiro a junho, segundo o
sindicato, a demanda interna do
produto caiu 10,4%.
""O mais alarmante é a discrepância entre setores que cresceram muito e os que caíram muito", diz Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
""Os setores que dependem do
mercado interno e não estão ligados à agricultura passam por
uma situação crítica nos últimos
quatro anos", completa.
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