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LUÍS NASSIF
Os meios e os fins
Há alguma coisa de visceralmente errado na cobertura da CPI do Mensalão. Nem
se discuta o mérito do episódio.
A cada dia fica mais claro um
esquema inédito de controle
dos negócios do Estado. Os depoimentos revelaram uma estrutura com cabeça, tronco e
membros. E dificilmente o ex-ministro-chefe da Casa Civil
José Dirceu escapará da condenação política pela montagem
do esquema.
Há muito a apurar no crescimento expressivo das aplicações de fundos de pensão do esquema, desde bancos suspeitos,
como o Santos, o Rural e o
BMG, até bancos até agora insuspeitos, como o Pactual. Há
inúmeros episódios ainda nebulosos e que talvez jamais sejam desvendados.
Mas a sede por novidades, a
guerra santa, está reproduzindo o mesmo mal cheiro exalado
pela campanha do impeachment de Fernando Collor, na
qual, em determinado momento, não se sabia onde a falta de
escrúpulos era maior: se nos investigados ou nos investigadores. Se Luiz Inácio Lula da Silva
resolveu declarar guerra às elites e à mídia, a melhor resposta
é o trabalho sistemático e profissional de apuração dos fatos.
Contra a onipotência, as leis;
contra a falta de escrúpulos, os
limites da ética.
Em nome da guerra santa,
não se pode transformar o deputado Roberto Jefferson em figura reverencial. As honrarias
que recebeu -convite para palestras sobre reforma política
pela Associação Comercial de
São Paulo e pelo Centro Acadêmico XI de Agosto, do largo São
Francisco- são episódios vergonhosos. Felizmente o espírito
das Arcadas baixou nos alunos
que afogaram em uma vaia
monumental o homenageado e
os insensatos que ousaram convidá-lo.
Jefferson é desertor de um esquema do qual era beneficiário, réu confesso, operador nos
Correios e do IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil). Pode se
habilitar, quanto muito, à delação premiada. Mas virar referência é o fim! Sua alegação para se defender das vaias -de
que, pelo menos, não era hipócrita- mostra o estado a que
se chegou. Como não era hipócrita se sua admissão de culpa
só ocorreu quando foi fritado
pelos antigos aliados?
O governo Lula acabou porque os fins justificavam os
meios, porque houve abuso no
uso do poder de Estado, porque
grupos atropelaram normas tácitas e explícitas de governança, de civilidade política. Os
meios viraram um propósito
tão relevante que, ao final do
processo, ninguém seria capaz
de dizer claramente a que fins
eles serviam.
Para combater a falta de escrúpulos do governo, agora,
chega-se a atropelar até valores
sagrados da imprensa, como o
instituto do "off the record".
Em uma coluna, em revista de
larga circulação, o autor se
vangloria de ter passado a perna em um deputado, prometendo-lhe manter uma declaração em "off" e não cumprindo a
promessa.
Os fins justificam os meios.
Assim como na campanha do
impeachment, está de volta a
brigada dos soldados incumbidos de executar os moribundos
no campo de batalha, a absolvição de todos os pecadores,
desde que estejam alinhados
com a causa.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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