São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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POLÍTICA ECONÔMICA

Evento do BNDES focou crescimento

Economistas defendem a redução da taxa de juros e real desvalorizado

Carolina Fernandes/Folha Imagem
Yoshiaki Nakano (3º da esq.), da FGV, discursa durante debate do BNDES entre economistas


DA SUCURSAL DO RIO

Em pelo menos três pontos há um consenso entre economistas de diversas tendências e a direção do BNDES, que se reuniram ontem para discutir os rumos de crescimento sustentado da economia brasileira a uma taxa acima dos 3,5% previstos para este ano: a redução significativa nos juros, a desvalorização do real e a garantia da sustentabilidade do investimento público.
A discussão girou, basicamente, em torno de aprimoramentos na proposta do déficit nominal zero, sugerida pelo ex-ministro da Fazenda e deputado federal Delfim Netto (PP-SP). "A proposta principal é a do déficit nominal zero", afirmou o presidente do BNDES, Guido Mantega. O déficit nominal é a diferença entre receitas e despesas, incluindo o pagamento de juros.
Além de Mantega, do vice-presidente do BNDES, Demian Fiocca, do diretor de Planejamento do banco, Antonio Barros de Castro, e do diretor Financeiro, Carlos Kawall, o encontro reuniu, entre outros, os professores Yoshiaki Nakano, da FGV, Gilberto Tadeu de Lima, da USP, Antonio Lacerda, da PUC-SP, Julio Gomes de Almeida, da Unicamp e do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, o assessor da Presidência José Graziano, o secretário-geral de Política Econômica do Ministério do Planejamento, Antonio Henrique Silveira, e o ex-ministro do Planejamento e diretor do Instituto Nacional de Altos Estudos, João Paulo dos Reis Velloso.
Durante a discussão, houve críticas à política macroeconômica, que foi chamada de "punitiva" por Nakano e Castro. Mantega, entretanto, frisou que há apenas uma constatação de fatos. "Não é crítica, é interlocução e constatação: houve um enrijecimento da política monetária, que reduz o investimento com juros altos. O que se espera agora é que haja uma flexibilização dessa política."
Castro afirmou que a política econômica "precisa ser corrigida" e propôs um aumento da taxa de investimento público para consolidar o crescimento de curto prazo, de pouco fôlego.
Nakano disse que o Brasil adotou um modelo que privilegia o capital financeiro em detrimento do capital produtivo e, por isso, ficou preso numa política que mantém os juros muito elevados, punindo os produtores nacionais e favorecendo os estrangeiros.
"O déficit nominal zero é fundamental para a rápida queda da taxa de juros", afirmou Nakano, sugerindo que a taxa real do Banco Central deve ficar próxima a zero. Para tal, defendeu uma reforma em que o Tesouro Nacional determine a taxa de juros dos títulos públicos, deixando para o Banco Central a tarefa de fixar a taxa de juros de curto prazo.
Julio Gomes de Almeida lembrou da importância das exportações para manter um crescimento sustentado e disse que a taxa de juros mais baixa afeta as expectativas das empresas quanto a decisões de empresas em investir em projetos de vulto. "Tememos, entretanto, que haja o déficit zero sem a redução dos juros. Não estou falando de uma redução de 19% para 16%, pequena, mas de uma redução expressiva, a longo prazo, para que haja um crescimento sustentado."
Lacerda, favorável ao aumento do superávit primário (o saldo entre gastos e receitas, excluídas as despesas com juros da dívida), disse que já há espaço para queda dos juros se a política de metas inflacionárias for repensada num horizonte mais amplo. Ele também criticou o câmbio valorizado e sugeriu um patamar acima de 25% do PIB para a taxa de investimento. (LB)


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