São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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Mercado prevê fortalecimento do dólar

Com alta da moeda americana pelo mundo e deterioração das contas externas do Brasil, especialistas apontam cenário incerto no câmbio
Movimento recente de alta do dólar "veio para ficar", diz economista, que prevê depreciação do real "pelos próximos dois ou três anos"

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O banco suíço UBS encerrou recomendação em investimentos em reais e passou a uma posição que definiu como "neutra". O fortalecimento do dólar nos mercados globais e a deterioração da conta corrente do país tornam a moeda brasileira mais vulnerável, segundo Paulo Tenani, analista-chefe do UBS Wealth Management.
"Encerramos nossa recomendação de longa data para o real. Os retornos seguem muito generosos, porém, os riscos aumentam com demasiada rapidez", afirma Tenani, um dos primeiros analistas a apostar que o movimento de alta do real se acentuaria, quando ele ainda era incipiente.
O estrategista-chefe do banco UBS considera que a tendência para o real não está mais tão clara como no passado.
"Os fundamentos apontam para diferentes sentidos", diz Tenani. O banco, entretanto, não espera uma imediata mudança de cenário: as taxas projetadas são de dólar a R$ 1,60 em três meses e a R$ 1, 70 em seis meses e em um ano.
O dólar fechou a R$ 1,609 na sexta, quando subiu 1,07%. Na última semana, a moeda americana acumulou alta de 3,21%.

Taxa de juros
A favor de uma moeda doméstica mais forte há os altos juros no Brasil, que estão em 13%. "As taxas de juros ainda dão sustentação ao real. Elas mais que compensam o investidor disposto a assumir o risco cambial", diz o analista. "Mas a conta corrente do Brasil está entrando em território negativo e se deteriora muito rapidamente", acrescenta.
Nos últimos 12 meses, a conta corrente registrou uma variação de 2,44% do PIB (Produto Interno Bruto) -de superávit de 1,12% do PIB em junho de 2007 para déficit de 1,32% do PIB em igual mês deste ano.
Para Tenani, será preocupante o cenário para a moeda brasileira depois que o BC parar de subir os juros, se a situação da conta corrente piorar ainda mais. "A única força que sustentará o real serão as reservas internacionais do BC."

Reservas internacionais
"Não devemos olhar para os "famosos" US$ 200 bilhões de reservas e achar que estamos tranqüilos", diz Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset Management. Ele cita estudo do BIS (Banco para Compensações Internacionais) que afirma que o par de moedas real-dólar já é o segundo mais negociado no mundo, com volume financeiro de US$ 900 bilhões, abaixo apenas do par euro-dólar, com US$ 1,7 trilhão, e acima do iene-dólar, com US$ 700 bilhões.
As contas externas brasileiras deverão se deteriorar pelos mesmos motivos que estão beneficiando os Estados Unidos: menor preço para as commodities, menores volumes exportados, menores fluxos para as aplicações e possibilidade de ocorrerem menos investimentos diretos no curto prazo.
Para Ribeiro, a tendência de alta do dólar é global "e veio para ficar". "As aplicações também estão migrando dos emergentes para a Bolsa norte-americana. O real está vulnerável e vai se depreciar pelos próximos dois ou três anos", afirma.


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