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agrofolha
Após dois anos de superávit, Brasil volta a importar lácteos
Balança comercial do leite no primeiro semestre apura déficit de US$ 35,4 milhões
Crise econômica mundial reduz demanda, custo de matéria-prima sobe e movimento de valorização do real traz apreensão
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Depois de dois anos em que
as exportações superaram as
importações, em 2009 o setor
de lácteos no Brasil ensaia sentir de novo o sabor azedo do déficit. No primeiro semestre, os
embarques foram superados
pelas aquisições de outros passados em US$ 35,4 milhões. Em
igual período do ano passado,
foi registrado um superávit de
US$ 139,8 milhões.
Os números mostram que as
exportações brasileiras de leite
em pó -90% do total vendido
pelas empresas do país- e de
leite condensado entraram na
lista das vítimas do agravamento da crise mundial.
O ainda lento ritmo de recuperação da economia global e o
movimento de valorização do
real ante o dólar ampliam a
apreensão dos exportadores.
Em 2007 e 2008, o Brasil se
beneficiou da seca na Oceania e
ganhou espaço no comércio internacional. A Nova Zelândia é
a principal exportadora mundial de lácteos. A Austrália também vende a outros países.
Agora em 2009 o leite derramou. Diminuiu o apetite da Venezuela, principal mercado do
produto brasileiro no ano passado, com 60% do faturamento
das exportações.
Motivo: a queda do preço do
barril de petróleo, que chegou
perto dos US$ 150 em meados
de 2008 e atualmente está em
faixa bem mais modesta, em
torno dos US$ 70.
Os compradores pagam cada
vez menos pelos lácteos brasileiros. O IPE-L (Índice de Preços de Exportação de Lácteos),
calculado pelo Cepea (Centro
de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da USP), ficou
em US$ 4.017 no primeiro semestre de 2008. De janeiro a
junho deste ano, o indicador recuou 27,6%, para US$ 2.908.
Custo mais alto
O preço pago ao pecuarista
pelas indústrias também caiu
em 12 meses, mas em intensidade menor. Em julho de 2008,
a média nacional, também calculada pelo Cepea, estava em
US$ 0,47 o litro. No mês passado, cedeu a US$ 0,40 (-15,2%).
Nesse cenário as indústrias
se voltaram à Argentina e ao
Uruguai. Tradicionais fornecedores da época em que o Brasil
era habitual importador, os
dois países obtêm a matéria-prima a preços mais baixos
-em torno de US$ 0,20 o litro.
Se o país basicamente exporta leite em pó, na hora de comprar lácteos as aquisições são
mais diversificadas -56% delas
são também de produto em pó;
mas 27% são de soro; 13%, de
queijos; e os 4% restantes se dividem entre os demais produtos, como longa vida e iogurte.
"O estrago não é maior pelo
acordo que limita as compras
dos argentinos, em vigor desde
a entrada da entressafra [começo de maio]", afirma Paulo Roberto Bernardes, presidente da
Confederação Brasileira das
Cooperativas de Laticínios. Foi
estabelecido um teto, que não
pode passar de 50% além do volume enviado pelo país vizinho
nos últimos cinco anos.
A pressão dos custos da matéria-prima ajuda a explicar a
procura pelo produto de fora,
diz Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea. Na outra ponta, a perda de competitividade
da indústria nacional faz com
que a Venezuela, por exemplo,
reoriente parte das suas compras para a distante Nova Zelândia, afirma Rafael Ribeiro,
analista da Scot Consultoria.
Os neozelandeses trouxeram
no início deste mês um alento
ao mercado, diz Rodrigo Alvim,
presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da
CNA. O leilão eletrônico da
cooperativa Fonterra, a principal exportadora do país, registrou preço de US$ 2.300 pela
tonelada de leite em pó, 28%
mais que o registrado em julho.
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