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Consumo preocupa mais BC do que alta dos alimentos
Membros do Copom já acham que crédito pode trazer problemas para a inflação em 2008
Cenário tende a tornar BC mais conservador no curto e médio prazo; Meirelles diz a Lula que o melhor seria ter cautela na política monetária
SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Mais do que a alta do preço
dos alimentos nos últimos meses, que puxou inflação para cima, o que tem ganhado destaque nos debates dos diretores
do Banco Central sobre a trajetória da taxa de juros no país é o
ritmo de aumento da demanda
(consumo) estimulado pela expansão do crédito.
Uma corrente dentro do Copom (Comitê de Política Monetária) defende que, se o volume
de empréstimos concedidos
continuar crescendo muito fortemente nos próximos trimestres, poderá haver problemas
com a inflação no ano que vem.
O perigo deve aumentar ainda mais se continuar acompanhado de estímulos adicionais
do lado monetário (com redução das taxas de juros), fiscal
(elevação dos gastos do governo) e incremento da renda, como aconteceu neste ano.
Mais crédito significa mais
consumo, o que, por sua vez, requer aumento na oferta de bens
e serviços. O problema é que o
incremento na produção das
empresas não é imediato, já
que os investimentos feitos pela indústria para elevar a produção demoram alguns meses
para surtirem efeito.
Esse cenário tende a tornar o
BC mais conservador no curto
e médio prazo. Na segunda-feira da semana passada, antes da
reunião do Copom em que houve redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, o presidente do BC, Henrique Meirelles, encontrou-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
para se proteger politicamente
de eventuais críticas.
Meirelles foi explicar a Lula
os motivos que levariam a uma
redução no ritmo da queda da
taxa básica de juros, a Selic. Na
quarta, o BC reduziria Selic de
11,5% para 11,25% ao ano.
Como o presidente do BC
perdera para o ministro Guido
Mantega (Fazenda) o debate
interno sobre a meta de inflação de 2009, que acabou fixada
em 4,5% ao ano, ele buscou recompor seu capital político
com o presidente. Na conversa,
Meirelles expôs a Lula os riscos
de eventual elevação da Selic
no futuro pelo aquecimento
econômico que se vislumbra.
Ele falou ainda que a elevação
do consumo, estimulado por
maior crédito, poderia gerar
pressões inflacionárias. Melhor
seria adotar maior cautela.
Lula comprou a tese de Meirelles. Em pronunciamento em
cadeia nacional de rádio e TV
na quinta-feira, disse que não
baixaria "a guarda na luta contra a inflação". O presidente
afirmou que o governo se manteria em vigilância e alerta permanente. Nesse mesmo dia,
Lula tomou a iniciativa de defender a decisão do Copom durante entrevista a rádios.
Juros
Segundo a Folha apurou,
avalia-se no BC que, hoje, os juros cobrados pelos bancos dos
clientes acompanham mais de
perto as variações na taxa básica da economia fixada pelo Copom, a Selic, do acontecia que
no passado.
Além disso, o estoque atual
de empréstimos, equivalente a
quase 33% do PIB (Produto Interno Bruto), aumentou a eficiência do mercado de crédito
como um canal importante para o BC atingir a economia real
com as suas decisões.
Nos sete primeiros meses
deste ano, o aumento no total
de crédito em relação ao PIB
foi praticamente o mesmo verificado ao longo de todo o ano
passado. O BC, segundo interlocutores, sabe que essa tendência de crescimento do crédito não vai ser revertida, o que
se quer é evitar uma elevação
descontrolada que venha a prejudicar a inflação.
Uma forma de evitar isso seria justamente diminuir os estímulos adicionais, como quedas mais fortes da taxa de juros.
A dúvida é se já se chegou a esse
momento. Por enquanto, argumenta-se que, com a crise financeira internacional, os próprios bancos podem frear esses
estímulos ao não reduzir mais
os juros cobrados dos clientes
ou serem mais rigorosos na
concessão de crédito.
Os últimos dados desse mercado divulgados pelo BC mostraram uma interrupção na diminuição do custo dos empréstimos, mas ainda é considerado
muito prematuro assegurar
que esse movimento se manterá. Além disso, os bancos têm
alongado os prazos de financiamento, o que é outro estímulo
ao crédito.
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