São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Consumo preocupa mais BC do que alta dos alimentos

Membros do Copom já acham que crédito pode trazer problemas para a inflação em 2008

Cenário tende a tornar BC mais conservador no curto e médio prazo; Meirelles diz a Lula que o melhor seria ter cautela na política monetária

SHEILA D'AMORIM
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mais do que a alta do preço dos alimentos nos últimos meses, que puxou inflação para cima, o que tem ganhado destaque nos debates dos diretores do Banco Central sobre a trajetória da taxa de juros no país é o ritmo de aumento da demanda (consumo) estimulado pela expansão do crédito.
Uma corrente dentro do Copom (Comitê de Política Monetária) defende que, se o volume de empréstimos concedidos continuar crescendo muito fortemente nos próximos trimestres, poderá haver problemas com a inflação no ano que vem.
O perigo deve aumentar ainda mais se continuar acompanhado de estímulos adicionais do lado monetário (com redução das taxas de juros), fiscal (elevação dos gastos do governo) e incremento da renda, como aconteceu neste ano.
Mais crédito significa mais consumo, o que, por sua vez, requer aumento na oferta de bens e serviços. O problema é que o incremento na produção das empresas não é imediato, já que os investimentos feitos pela indústria para elevar a produção demoram alguns meses para surtirem efeito.
Esse cenário tende a tornar o BC mais conservador no curto e médio prazo. Na segunda-feira da semana passada, antes da reunião do Copom em que houve redução de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, o presidente do BC, Henrique Meirelles, encontrou-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para se proteger politicamente de eventuais críticas.
Meirelles foi explicar a Lula os motivos que levariam a uma redução no ritmo da queda da taxa básica de juros, a Selic. Na quarta, o BC reduziria Selic de 11,5% para 11,25% ao ano.
Como o presidente do BC perdera para o ministro Guido Mantega (Fazenda) o debate interno sobre a meta de inflação de 2009, que acabou fixada em 4,5% ao ano, ele buscou recompor seu capital político com o presidente. Na conversa, Meirelles expôs a Lula os riscos de eventual elevação da Selic no futuro pelo aquecimento econômico que se vislumbra. Ele falou ainda que a elevação do consumo, estimulado por maior crédito, poderia gerar pressões inflacionárias. Melhor seria adotar maior cautela.
Lula comprou a tese de Meirelles. Em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV na quinta-feira, disse que não baixaria "a guarda na luta contra a inflação". O presidente afirmou que o governo se manteria em vigilância e alerta permanente. Nesse mesmo dia, Lula tomou a iniciativa de defender a decisão do Copom durante entrevista a rádios.

Juros
Segundo a Folha apurou, avalia-se no BC que, hoje, os juros cobrados pelos bancos dos clientes acompanham mais de perto as variações na taxa básica da economia fixada pelo Copom, a Selic, do acontecia que no passado.
Além disso, o estoque atual de empréstimos, equivalente a quase 33% do PIB (Produto Interno Bruto), aumentou a eficiência do mercado de crédito como um canal importante para o BC atingir a economia real com as suas decisões.
Nos sete primeiros meses deste ano, o aumento no total de crédito em relação ao PIB foi praticamente o mesmo verificado ao longo de todo o ano passado. O BC, segundo interlocutores, sabe que essa tendência de crescimento do crédito não vai ser revertida, o que se quer é evitar uma elevação descontrolada que venha a prejudicar a inflação.
Uma forma de evitar isso seria justamente diminuir os estímulos adicionais, como quedas mais fortes da taxa de juros. A dúvida é se já se chegou a esse momento. Por enquanto, argumenta-se que, com a crise financeira internacional, os próprios bancos podem frear esses estímulos ao não reduzir mais os juros cobrados dos clientes ou serem mais rigorosos na concessão de crédito.
Os últimos dados desse mercado divulgados pelo BC mostraram uma interrupção na diminuição do custo dos empréstimos, mas ainda é considerado muito prematuro assegurar que esse movimento se manterá. Além disso, os bancos têm alongado os prazos de financiamento, o que é outro estímulo ao crédito.


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