São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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Indústria e varejo prevêem desaceleração

Avaliação é que enfraquecimento da economia mundial tenda a influenciar no PIB brasileiro neste segundo semestre

Exportações devem refletir retração extração, e juros em alta devem apresentar impacto negativo no mercado doméstico

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O desempenho da economia brasileira neste semestre será mais fraco do que o registrado de janeiro e junho deste ano, quando o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 6% ante igual período de 2007.
Produção e vendas ainda crescem na comparação com 2007, mas não mais a taxas ao redor de 30%, como alguns setores chegaram a registrar.
O enfraquecimento da economia mundial, principalmente a dos Estados Unidos, deve atingir empresas exportadoras. E a elevação dos juros deve ter impacto negativo nas vendas de carros, televisores e geladeiras, na avaliação de representantes da indústria e do comércio.
Um dos principais termômetros da economia, a produção de carros caiu 1% em agosto em relação a julho. E as vendas totais no mercado interno diminuíram 15,1%, no período, segundo a Anfavea, associação dos fabricantes de veículos. "Não há dúvida, o mercado interno está mais fraco", afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores.
Pode ser, na avaliação de Silveira, que os consumidores tenham antecipado a compra de veículos e de eletroeletrônicos por conta da expectativa de alta de juros e de preços. "Mas o fato é que a desaceleração nas vendas de carros foi forte. E a expectativa é que o consumidor fique ainda mais cauteloso até o final do ano, já que os juros tendem a subir e ter maior peso no valor das prestações", afirma.

Freio puxado
O fluxo de veículos nas rodovias caiu 1,6% em agosto em relação a julho, mais um sinal da desaceleração, diz a ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias). Em relação a agosto de 2007, houve crescimento de 5,4%. Para Cláudia Oshiro, economista da Tendências, a queda reflete desaceleração na produção industrial e do agronegócio.
Os setores de máquinas e equipamentos e de eletrodoméstico também já registram taxas de crescimento menores. "Setores que foram carro-chefe da produção industrial mostram desaceleração, como de o de eletrodomésticos, o de eletrônicos e o de equipamentos para informática", diz Júlio Gomes de Almeida, assessor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne cerca de 50 grupos industriais.
A indústria de embalagens, outro indicador importante, tem desempenho abaixo do esperado, diz Paulo Peres, presidente da ABPO, associação dos fabricantes. Em agosto, a indústria do setor vendeu 1,09% mais do que em igual período do ano passado. De janeiro a agosto, a alta foi de 0,96% sobre igual igual período de 2007.
"O nosso setor está mais ligado à indústria de não-duráveis, que não cresceu muito. O bom é que a desaceleração nas vendas dos setores que mais atendemos também não será tão acentuada, o que significa que devemos vender neste ano de 1,5% a 2% mais do que no ano passado, quando cresceremos 3,5% sobre 2007", afirma Peres.
Paulo Francini, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que julho e agosto foram meses bons para a indústria paulista e que, neste semestre, deve haver acomodação do ritmo de atividade. Para a Fiesp, o PIB no terceiro trimestre deve crescer 4,9% e, no quarto trimestre, de 4,5%, na comparação com igual período ano passado. "Mas estamos elevando a nossa projeção de PIB para este ano de 4,8% para 5,2%", diz.

Clara desaceleração
Na avaliação de Braulio Borges, economista da LCA Consultores, há mais clareza de que a economia está em processo de desaceleração. Para ele, a produção industrial em agosto deve ter caído 1% em relação a julho, apesar de ter crescido cerca de 2% sobre agosto de 2007. "O último trimestre deste ano e o primeiro trimestre de 2009 serão os períodos mais fracos de atividade econômica, como reflexo da alta dos juros."
Sondagem Econômica da América Latina feita por um instituto alemão em parceria com a FGV (Fundação Getulio Vargas) mostra que o Brasil entra em fase de "contração do ciclo econômico". As condições econômicas são "satisfatórias" e serão "ruins" em seis meses, segundo a sondagem.
A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) detecta em julho e agosto uma redução nas compras à vista. Já a Fecomercio apurou queda nas vendas reais dos supermercados em julho na comparação com o mesmo mês de 2007.


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