São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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ARTIGO

Desaceleração já começou

FERNANDO SAMPAIO
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

O CRESCIMENTO do PIB no 2º trimestre de 2008 -de 6,1% sobre igual período de 2007, e de 1,6% sobre janeiro-março- foi bem maior do que no primeiro trimestre e um pouco maior do que esperavam, em média, analistas de bancos e consultorias.
Essa constatação talvez reitere o ceticismo a respeito da possibilidade de que já esteja em curso um processo (ainda incompleto) de redução de descompassos entre a oferta e a demanda. Uma leitura cuidadosa dos dados, no entanto, sugere que a economia transitou, no primeiro semestre de 2008, para um ritmo de expansão mais modesto do que o do segundo semestre do ano passado. E o conjunto dos desdobramentos da conjuntura (brasileira e mundial) reitera a perspectiva de que a desaceleração terá prosseguimento até os primeiros meses de 2009.
Peço ao leitor boa dose de paciência, porque, para esclarecer que já ocorreu uma redução na velocidade de expansão do PIB, é preciso chamar a atenção para minúcias de seu cálculo, bem como para as diferentes interpretações (às vezes conflitantes) suscitadas pelas várias maneiras de exprimir as variações do PIB.
Primeiro é preciso lembrar que do quarto trimestre de 2007 para o primeiro de 2008 a velocidade marginal de crescimento do PIB -isto é, sua variação sobre o trimestre imediatamente anterior, já descontadas as flutuações típicas de cada época do ano- despencou: ela passou de 1,9%, o que corresponde a "asiáticos" 7,4%, quando expressamos a taxa em termos anualizados, para modesto 0,8% (ou 3,4% ao ano).
À época a redução do ritmo de crescimento foi (corretamente) minimizada porque elementos pontuais prejudicaram o PIB nos três primeiros meses deste ano-com destaque para a greve da Receita Federal (que parece ter prejudicado mais o fluxo de exportações do que o de importações) e para paralisações atípicas de plantas produtivas dos setores de petróleo e farmacêutico.
É evidente que, no segundo trimestre, a regularização dos trabalhos da Receita e a reativação de unidades produtivas contribuíram para a reaceleração do PIB. Em que medida? Não se sabe. Parece mais prudente examinar o que ocorreu no primeiro semestre de 2008 como um todo. Constata-se que o PIB superou em 6% o dos seis primeiros meses de 2007. E essa taxa interanual é até ligeiramente maior do que a observada no segundo semestre do ano passado: alta de 5,8% (sobre julho-dezembro de 2006).
Esses números sugerem que o ritmo de expansão permaneceu praticamente estável da segunda metade de 2007 para a primeira metade de 2008. Essa impressão se desfaz quando verificamos o que ocorreu com o ritmo médio de crescimento ante o trimestre imediatamente anterior: essa velocidade marginal diminuiu nitidamente, de 1,83% (ou 7,5% ao ano) para 1,2% (ou 4,9% ao ano).
Esse segundo retrato parece mais fiel à realidade e mais condizente com uma redução dos descompassos entre oferta e demanda. Aponta na mesma direção a evolução dos estoques da indústria, apurada pela FGV: no segundo semestre de 2007, eles encolheram, porque a produção não conseguiu acompanhar as vendas, e no primeiro semestre deste ano eles foram recompostos.
Olhando à frente, a maturação dos investimentos (em forte expansão) sinaliza um aumento importante da capacidade de oferta da economia. Em paralelo, o aperto nas condições de crédito no mercado interno e o aprofundamento da desaceleração das economias ricas apontam para uma redução adicional do ritmo de crescimento do presente ao início de 2009.


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