São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MERCADO TENSO
Governo faz mais uma tentativa para tentar impedir a fuga de dólares do país, mais de US$ 2 bi saíram ontem
BC leva taxa de juros para 49,75% ao ano

da Sucursal de Brasília

O Banco Central elevou ontem os juros básicos da economia de 29,75% para 49,75% anuais em uma nova tentativa para cessar a fuga de dólares do país.
A nova taxa foi divulgada às 22h25 de ontem, após reunião extraordinária do Copom (Comitê de Política Econômica) do BC.
O comitê promoveu o novo choque de juros elevando a Tban (Taxa de Assistência do BC), que remunera a única linha de empréstimos aos bancos em vigor neste mês.
A TBC (Taxa Básica do BC) continua fixada em 19% anuais, mas atualmente essa taxa não vem sendo usada pelo BC.
Foi o segundo aumento de juros promovido pelo governo em menos de uma semana. Na tarde de ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso havia dito que os juros não iriam subir "para satisfazer a uma ganância".
Na sexta passada, o BC aumentou os juros de 19% anuais para 29,75%, ao suspender até 30 de setembro os empréstimos aos bancos pela linha de assistência remunerada pela TBC. O aumento de juros, porém, não conseguiu estancar a fuga de dólares.
Com a alta promovida ontem, os juros ficaram mais altos que em outubro do ano passado, quando o governo dobrou as taxas básicas pra enfrentar a crise asiática. Naquela ocasião, os juros foram fixados em 43% anuais.
A nova alta de juros procura desestimular o envio de dólares ao exterior por brasileiros e atrair capitais estrangeiros ao país.
O Banco Central divulgou um comunicado afirmando que a mudança dos juros foi feita "tendo em vista os reflexos da crise financeira internacional e visando a preservar os ganhos conquistados com o plano de estabilização"
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Francisco Lopes, havia dito pela manhã que o governo não deveria aumentar a taxa de juros. Também afirmou que o governo não pretende adotar nenhum tipo de controle cambial para dificultar a saída de recursos estrangeiros do Brasil.
"Acredito convictamente que não será necessário aumentar a Tban (Taxa de Assistência do BC). Mas o BC não pode nunca antecipar o futuro e fazer qualquer tipo de compromisso sobre a política monetária. Nosso compromisso é com a defesa da estabilidade", afirmou Lopes.
Ele disse ainda que "não adianta exagerar na dosagem". "Se você toma um remédio para uma infecção, você tem de tomar o antibiótico na dosagem certa. Não adianta tomar três pílulas antibióticas porque, provavelmente, vai ter um monte de efeitos colaterais desnecessários".
Lopes afirmou que a primeira elevação dos juros básicos da economia, anunciada na semana passada, teria reduzido a saída de recursos do país. "Antes da medida, havia saídas fortes no flutuante mostrando certo pânico e atitudes defensivas", disse, acrescentando que a evasão de divisas teria caído.
Segundo ele, as reservas internacionais perderam em média R$ 400 milhões por dia na terça e na quarta-feira. Mesmo assim, as reservas estariam (ontem pela manhã) em US$ 55 bilhões.
"A perda de reservas está perdendo velocidade nesta semana", afirmou o diretor do BC, antes de cerca de US$ 2 bilhões deixarem o país ao longo do dia.
Questionado se o governo faria algum tipo de controle para evitar a saída de dólares, Lopes afirmou: "Achamos que os controles de câmbio têm de ser feitos na entrada, e não na saída."
"Há 'players' (investidores) no mercado que apostam contra, que têm interesse em criar pânico. Mas temos parceiros que ficam do nosso lado e quem ficar contra vai perder dinheiro", afirmou Lopes.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.