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Para agência de NY, Brasil tem
perspectiva futura "negativa"
ALESSANDRA BLANCO
de Nova York
A Standard & Poor's, uma das
maiores agências de risco do mundo, anunciou ontem que mudou
de "neutra" para "negativa" a
sua perspectiva futura sobre a nota
dada ao Brasil.
A agência ainda não mudou a
nota do país, hoje em "BB-", mas
poderá mudar em "questão de
meses", rebaixando-a, se o Brasil
não tomar nenhuma medida para
reverter seu déficit externo.
Estão em "BB-", junto com o
Brasil, países como a Bolívia, Paraguai, Líbano, Cazaquistão e Jordânia. Se for rebaixado para "B",
o Brasil será equiparado à Venezuela, República Dominicana e
Romênia. Argentina, México e Peru já estão hoje mais bem avaliados do que o Brasil, com "BB".
Segundo Lacey Gallagher, diretora da S&P para a América Latina, isso significa que o Brasil está
sendo visto com mais risco pelos
investidores e precisa implementar um pacote fiscal urgentemente.
"Estamos vivendo uma situação
de pânico financeiro no mundo,
que leva os investidores a reavaliar
sua posição com relação a cada
país. As situações do Brasil e da
Rússia são muito, muito diferentes. A única similaridade é o déficit
fiscal. Em uma situação normal, o
pacote anunciado pelo governo
brasileiro na terça-feira seria suficiente, mas estamos em situação
de pânico", disse Gallagher.
Segundo ela, o governo brasileiro terá de tomar uma "medida esmagadora", implementando um
pacote fiscal mais agressivo. "Até
agora, o Brasil só agiu respondendo ao que estava acontecendo no
mercado internacional. Desta vez,
tem de agir antes, para que sua situação não fique muito pior. Isso é
o resultado de quatro anos de
adiamentos desse pacote fiscal."
Um analista de um dos mais importantes bancos de investimentos de Nova York disse que a política fiscal do Brasil é vista como
"irresponsável" hoje nos EUA, e
que a timidez das medidas anunciadas nesta semana está sendo
considerada como resultado de
"falta de conscientização" do governo brasileiro, que vem tentando "tapar o sol com a peneira".
"O Brasil tem duas saídas agora:
agir imediatamente, anunciando
já um corte de US$ 10 bilhões no
Orçamento deste ano e cortes
drásticos para o Orçamento de 99,
ou esperar e ser obrigado a tomar
essas medidas daqui a 15 dias, só
que com US$ 15 bilhões a menos,
já que vem sofrendo retiradas maciças diárias", disse o analista que
pediu para não ser identificado.
Gallagher diz que não pode precisar se serão 15 dias, nem determinar as medidas que o governo
deve tomar, mas concorda com o
analista que a ação deve ser imediata.
"O Brasil está sendo visto com
muita fragilidade, há uma perspectiva exageradamente negativa
com relação ao país por causa de
suas contas públicas. A única coisa
que vai acalmar o mercado e estancar essa retirada violenta de recursos é o anúncio de medidas fiscais enérgicas", afirmou ontem o
responsável pelo departamento da
América Latina da Lehman Brothers, Carlos Guimarães.
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