São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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Para agência de NY, Brasil tem perspectiva futura "negativa"

ALESSANDRA BLANCO
de Nova York

A Standard & Poor's, uma das maiores agências de risco do mundo, anunciou ontem que mudou de "neutra" para "negativa" a sua perspectiva futura sobre a nota dada ao Brasil.
A agência ainda não mudou a nota do país, hoje em "BB-", mas poderá mudar em "questão de meses", rebaixando-a, se o Brasil não tomar nenhuma medida para reverter seu déficit externo.
Estão em "BB-", junto com o Brasil, países como a Bolívia, Paraguai, Líbano, Cazaquistão e Jordânia. Se for rebaixado para "B", o Brasil será equiparado à Venezuela, República Dominicana e Romênia. Argentina, México e Peru já estão hoje mais bem avaliados do que o Brasil, com "BB".
Segundo Lacey Gallagher, diretora da S&P para a América Latina, isso significa que o Brasil está sendo visto com mais risco pelos investidores e precisa implementar um pacote fiscal urgentemente.
"Estamos vivendo uma situação de pânico financeiro no mundo, que leva os investidores a reavaliar sua posição com relação a cada país. As situações do Brasil e da Rússia são muito, muito diferentes. A única similaridade é o déficit fiscal. Em uma situação normal, o pacote anunciado pelo governo brasileiro na terça-feira seria suficiente, mas estamos em situação de pânico", disse Gallagher.
Segundo ela, o governo brasileiro terá de tomar uma "medida esmagadora", implementando um pacote fiscal mais agressivo. "Até agora, o Brasil só agiu respondendo ao que estava acontecendo no mercado internacional. Desta vez, tem de agir antes, para que sua situação não fique muito pior. Isso é o resultado de quatro anos de adiamentos desse pacote fiscal."
Um analista de um dos mais importantes bancos de investimentos de Nova York disse que a política fiscal do Brasil é vista como "irresponsável" hoje nos EUA, e que a timidez das medidas anunciadas nesta semana está sendo considerada como resultado de "falta de conscientização" do governo brasileiro, que vem tentando "tapar o sol com a peneira".
"O Brasil tem duas saídas agora: agir imediatamente, anunciando já um corte de US$ 10 bilhões no Orçamento deste ano e cortes drásticos para o Orçamento de 99, ou esperar e ser obrigado a tomar essas medidas daqui a 15 dias, só que com US$ 15 bilhões a menos, já que vem sofrendo retiradas maciças diárias", disse o analista que pediu para não ser identificado.
Gallagher diz que não pode precisar se serão 15 dias, nem determinar as medidas que o governo deve tomar, mas concorda com o analista que a ação deve ser imediata.
"O Brasil está sendo visto com muita fragilidade, há uma perspectiva exageradamente negativa com relação ao país por causa de suas contas públicas. A única coisa que vai acalmar o mercado e estancar essa retirada violenta de recursos é o anúncio de medidas fiscais enérgicas", afirmou ontem o responsável pelo departamento da América Latina da Lehman Brothers, Carlos Guimarães.



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