São Paulo, sexta, 11 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Mercados caem 13,3% na Argentina e 9,8% no México, levadas pelas baixas em Nova York e no Brasil
Bolsas latino-americanas vivem pânico

das agências internacionais

As Bolsas latino-americanas viveram um dia de pânico ontem, arrastadas pelas quedas em Nova York e no Brasil. Várias, como as de Buenos Aires e do México, tiveram sua pior baixa no ano.
Além das Bolsas brasileiras, o pior resultado foi o do mercado de Buenos Aires. O índice Merval fechou com baixa de 13,3%.
A queda foi apenas dois pontos menor que o patamar de 300, o recuo recorde em pontos da Bolsa, que ocorreu na época do "efeito tequila" (1995), a crise mexicana que abalou o mercado argentino mais que qualquer outro.
A aprovação da reforma tributária pelo Congresso, anteontem à noite, não foi suficiente para segurar os investidores no país.
Em entrevista depois da "quinta-feira negra", o presidente da bolsa portenha, Eugenio de Bary, procurou diferenciar a Argentina do Brasil. "Não pensamos em feriado ou em suspender as operações. O Brasil é uma coisa. A Argentina é outra", afirmou Bary.
"Não via uma queda assim desde o "efeito tequila'. Os investidores estão ressarcindo na América do Sul as perdas que têm na Ásia, sem diferenciar os países daqui."
Depois de reunião de gabinete com o presidente Carlos Menem, o ministro da Economia, Roque Fernández, afirmou ontem que a Argentina não apresenta problemas econômicos.

Moeda enfraquecida
No México, a queda de 9,82% na Bolsa acompanhou uma disparada do dólar em relação ao peso. A moeda mexicana voltou a cair para um recorde histórico, fechando a 10,54 por dólar, contra 10,32 da véspera. Neste ano, o peso já perdeu 23,55% de seu valor.
As medidas adotadas pelas autoridades do país, que enxugaram a quantidade de pesos no mercado e elevaram as taxas de juros, não frearam os efeitos da crise financeira internacional no país.
Nem mesmo a intervenção no mercado de câmbio foi capaz de deter a queda do peso. O banco central mexicano teve de oferecer uma quantidade maior de dólares que o habitual -as intervenções são frequentes no país.
Com isso, conseguiu reduzir as perdas. No momento da intervenção, a moeda mexicana estava sendo vendida a 10,9 por dólar, valor tido como "inaceitável".
O diretor de análise do Centro de Análises e Projeções Econômicas do México, César Castro Quiroz, afirmou que, ao ritmo atual, o peso pode ser cotado a até 11 por dólar no final do ano, enquanto os juros chegariam a 45%.
"Nesta turbulência, a primeira variável que nos preocupa é onde vai parar o dólar, e, a partir daí, como ficam as taxas de juros e a inflação", disse.
A Bolsa de Santiago, no Chile, também recuou fortemente, com queda de 7,38%. No caso chileno, um fator negativo adicional foi o anúncio oficial de novas reduções de gastos, que podem levar a uma redução de US$ 1,6 bilhão no ingresso de divisas no país.
Em Caracas, na Venezuela, a queda foi de 4,48%, levando o principal índice do mercado a seu menor nível histórico em pontos, de 2.694,7. Com isso, neste ano a Bolsa acumula 78,98% de queda.
O mercado não se animou o anúncio do primeiro dos oito decretos presidenciais que o presidente venezuelano, Rafael Caldera, promulgará segundo os poderes especiais outorgados pelo Congresso, na semana passada.
A lei prevê a emissão de US$ 1,4 bilhão em títulos do governo para refinanciar a dívida pública externa e interna, que está em mais de US$ 26 bilhões. Para pagar os juros da dívida, a Venezuela gasta US$ 4,7 bilhões anualmente.


Colaborou Augusto Gazir, de Buenos Aires



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