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LUÍS NASSIF
As projeções do Orçamento
Ainda hoje Murilo Portugal,
ex-secretário do Tesouro, provoca saudades em alguns setores. Nos períodos de inflação alta, quando o dinheiro
faltava, Murilo simplesmente
decidia, por sua conta e risco,
qual ministério teria as liberações adiadas.
Dependendo do período, um
mês de atraso na liberação
dos recursos significava reduzir em 20% o valor liberado.
Obras eram paralisadas, custos adicionais eram agregados
ao projeto, apenas para que o
governo pudesse demonstrar
ao mercado financeiro que as
contas públicas estavam em
ordem.
A estabilização inflacionária trouxe racionalidade ao
Orçamento. Mesmo assim,
montar uma peça orçamentária não é tarefa das mais fáceis. Não há histórico de estabilidade permitindo definir
tendências e projeções mais
seguras.
Existe um Plano Plurianual
(PPA) de investimentos definido em 1996. A cada ano, por
volta de março, o Ministério
do Planejamento prepara a
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define os parâmetros a ser incluídos na
proposta orçamentária, tomando por base as diretrizes
do PPA. A LDO é entregue até
15 de abril.
No final de abril, a Seplan
define limites para algumas
despesas.
Os técnicos em Orçamento
costumam dividi-lo entre
"abaixo" e "acima" da linha.
Acima da linha estão todos os
itens de despesa e receita, excluindo juros. Abaixo da linha, a conta de juros.
Receita
Em torno de maio, Fazenda
e Planejamento definem parâmetros de cenário econômico e solicitam à Receita Federal as contas de estimativa de
Receita. Os indicadores relevantes são projeções de PIB,
inflação, câmbio e taxas de
juros.
O comportamento do PIB
tem impactos diferentes sobre
os diversos tributos. Por
exemplo, o Imposto de Renda
de Pessoa Jurídica, em geral, é
impactado pelo comportamento do PIB no ano anterior. Imposto de Importação
depende de PIB, mas também
de outras variáveis. O IOF
não depende do PIB, mas das
estimativas de movimentação
financeira.
Na média, estima-se que cada ponto de PIB acrescente
um ponto percentual de Receita. Ou seja, se o crescimento esperado do PIB cair de 4%
para 1%, a receita diminuirá
3%.
Pessoal
O cálculo é feito levando em
conta a evolução da quantidade de funcionários mais os
benefícios automáticos da folha. Em geral, toma-se uma
folha limpa como base (sem
férias, sem 13º) e aplica-se o
crescimento vegetativo estimado. Trabalha-se com projeção de crescimento vegetativo de 2%. Há três anos, chegou a quase 10%. De lá para
cá foram tomadas diversas
medidas que reduziram os
reajustes automáticos.
Previdência Social
Há duas datas que definem
as projeções do INSS: o reajuste do salário mínimo em
maio e dos benefícios em junho. As projeções são preparadas pelos próprios quadros
técnicos da Previdência. É relativamente fácil estimar a
evolução do quantitativo
(quantos entram no sistema e
quantos morrem).
Em 1995 a Previdência Social estava equilibrada. Foi
para déficits sucessivos de R$
0,4 bilhão em 96, R$ 2,7 bilhões em 97, R$ 6,9 bilhões em
98 e projeção de R$ 7,1 bilhões em 99. Nesse total estão
embutidos ganhos de R$ 1,7
bilhão com reforma da Previdência e R$ 700 milhões com
ganhos de melhoria de arrecadação. A esse déficit, somam-se mais cerca de R$ 20
bilhões de déficit da área pública. Para despesas de R$ 22
bilhões, o setor público mal
comparece com R$ 2 bilhões.
Juros
É a última conta a ser feita.
Só faz na hora que se tem
segurança de quanto efetivamente vai utilizar de receita
tributária e da receita de privatização para abater dívida.
Depois, projeta-se o estoque
da dívida e calcula-se a diferença em cima da taxa de juros projetada. Essas contas
são feitas pelo Tesouro, que
utilizou projeção de taxa média de juros de 20,03% para o
próximo ano.
Em geral, ocorre uma confusão com analistas. Entra na
conta toda a despesa de juros,
no conceito de caixa, inclusive juros pagos pelo Tesouro
ao Banco Central. Como sai
como despesa do Tesouro e
receita do BC, as contas se
anulam no final. Este ano o
número bruto da conta de juros é de R$ 50 bilhões. Com a
conta consolidada, cai para
R$ 26,8 bilhões.
Recordando
Da coluna de 29 de abril de
1995:
"Solicito que, quando começar a quebradeira das empresas e voltar o desemprego em
doses violentas, os senhores
Ciro Gomes, Winston Fritsch
e Gustavo Franco ocupem
uma rede nacional de televisão para apresentar suas explicações para as loucuras
que cometeram na política
cambial.
Que tentem justificar seu
experimentalismo, a politização do tema cambial, o jantar
de comemoração pela volta
dos déficits comerciais, as razões que os levaram a privilegiar o capital externo especulativo, em detrimento da segurança dos superávits comerciais.
De preferência, que as explicações sejam apresentadas no
Maracanã ou em local que
consiga abrigar as centenas
de milhares de desempregados e de empresas quebradas
por sua irresponsabilidade".
Da coluna de 23 de novembro de 1997:
"Tem-se, no fundo, uma
aposta política. Se der uma
mídi agora, o governo corre o
risco de pressões de custo que
aumentarão a recessão, um
desapontamento geral com o
Real e uma fase de tensão para rechaçar os apaches. Mas
esse trauma será a dez meses
das eleições.
Se não fizer a mídi agora e
as exportações não se recuperarem, a próxima onda de
ataque apache será contra o
Brasil. Provavelmente às vésperas das eleições de 98".
E-mail: lnassif@uol.com.br
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