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São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2003

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CAPITALISMO SELVAGEM

Levantamento em cartórios de SP revela nova moda

Pais dão nome de produtos a bebês

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi por causa de alguns italianos que Adria Alves Ribeiro, 30, dona-de-casa, não foi batizada pela mãe com o popular nome Patrícia. No lugar foi escolhido o mesmo nome da cinqüentenária empresa européia de macarrão e biscoitos Adria. "Na hora do registro, um grupo de italianos que estava no cartório sugeriu a palavra e minha mãe gostou da idéia", diz ela. "Mas isso não me incomoda".
O caso da brasileira com nome de empresa multinacional não é único. Levantamento realizado em cartórios civis do interior de São Paulo e da capital paulista -cruzado com dados do Departamento de Seguro Social dos EUA- revela um crescimento no número de registros de crianças com nomes de companhias, marcas e produtos vendidos em lojas. Isso ocorreu no Brasil e nos EUA.
Segundo dados da empresa Certifixe -à qual são associados cartórios de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e cidades do Nordeste-, cresceu o número de famílias registrando os filhos como Bonna (margarina da Ceval), Eno (antiácido da GlaxoSmithKline), Adria e Ariel (sabão em pó da Procter & Gamble).
No caso, por exemplo, do Adria, dez anos atrás-de janeiro de 1992 a julho de 1993- ninguém havia sido registrado com esse nome. Mas de 2002 a 2003, três pessoas escolheram a palavra como prenome.
Em relação ao nome Bonna, os primeiros registros começaram a aparecer a partir de 2002. Assim como a marca Gillette, da multinacional americana de mesmo nome. Antes, não eram usados.
Nessa pesquisa, foram analisados 62.681 registros em 2002 e 2003 e, destes, 6.802 eram nomes incomuns, segundo a Certifixe. A empresa possui dados de 19 cartórios no país.
Nos EUA, nomes que nem sequer apareciam na lista dos preferidos para os bebês - a seleção inclui mil nomes- já têm centenas de adeptos.
Conforme informou nesta semana a "Brand Republic", site especializado em mídia e publicidade, a marca Lexus, da Toyota, emprestou o seu nome para 311 meninas no ano passado.
Da mesma forma, a champanhe Cristal -cuja garrafa chega a custar quase R$ 600- deu nome a 479 bebês nascidos naquele país. Ainda fazem parte dos preferidos dos americanos as marcas Armani e Chanel.
Fora dessa lista dos nomes mais usados atualmente estão ainda Porsche, Timberland, Evian, Fanta, Guiness e Nivea.

Legislação
Aquele que for registrar o bebê com nome inusual, pode ter problemas, no entanto. Os oficiais de cartório civil "não precisam registrar prenomes que podem expor ao ridículo os seus portadores", informa a Lei de Registros Públicos (6.015/73).
"A gente usa o nosso bom senso e tenta convencer a família de que aquele nome não é uma boa idéia, que pode atrapalhar a vida da criança. Mas tem gente teimosa, que não muda de idéia", diz Marcelo dos Santos, que trabalha da área de emissão de certidão de nascimento no 2º Cartório Civil de São Paulo.
De acordo com a lei, se os pais não se conformarem com a recusa do oficial do cartório, este pode submeter por escrito o caso à decisão do juiz, que autoriza ou não a escolha.


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