São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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Pesquisa começa em meados do século 20

DA REPORTAGEM LOCAL

Qual a melhor estratégia a adotar se você desconfia de que seu vizinho discretamente "aumentou" o terreno de sua casa de veraneio à sua custa? Dois assaltantes, presos e interrogados separadamente, entregariam um ao outro mesmo que soubessem que teriam uma pena menor se ficassem calados? O que leva as pessoas, os países e as instituições a entrarem em conflito ou a decidirem cooperar entre si?
São todas perguntas, exceção feita à briga de vizinhos, que os cientistas sociais, com maior ou menor ênfase, têm tentado responder há algum tempo. Mesmo a disputa por um pedaço de quintal não pareceria menor para Thomas Hobbes, que falava do "estado de todos contra todos" lá pelo século 17.
A economia nasceu com a mão invisível de Adam Smith, que descrevia um mundo de concorrência perfeita, em que a interação entre agentes levava à melhor situação possível. Uma simplificação que irrita alguns críticos do livre mercado até os dias de hoje.
Os matemáticos John von Neumann e Oskar Morgenstern inventaram a teoria dos jogos em meados do século passado. Eles descreviam uma interação um pouco mais sofisticada que a do modelo de livre mercado. Outro matemático, John Nash, aluno de Von Neumann, deu um passo a mais e, em meados do século passado, administradores, economistas e especialistas em relações internacionais "descobriram" a teoria. Não por acaso, um dos ganhadores do Nobel deste ano, o israelense Robert Aumann, que visitou o Brasil em 2002, foi aluno de Nash, que acabou famoso mundialmente, menos pelo Nobel de 1994 do que pelo filme "Uma Mente Brilhante", no qual ele era interpretado por Russell Crowe.
Pesquisadores passaram a aplicar a teoria dos jogos às mais diversas áreas. A novidade era que ela permitia trabalhar com situações que não previam apenas o comportamento competitivo do livre mercado, mas comportamentos mistos, em que conviviam o conflito e a cooperação. "Foi uma revolução nos EUA", diz Aloísio Pessoa de Araújo, vice-diretor da Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV.
Hoje, lembra o diretor da FGV, a teoria é parte obrigatória dos cursos de administração, economia e relações internacionais nos EUA. No Brasil, ainda está restrita aos departamentos de economia e a poucos outros centros de estudo.
Sobre os assaltantes lá de cima, a teoria prevê que, ante o dilema de delatar o parceiro para ter pena menor, eles o farão. As opções deles são as seguintes: se só um delatar, fica preso dois anos, e o denunciado, cinco. Se ambos delatarem, os dois ficam presos três anos. Se nenhum falar nada, ambos pegam um ano de xadrez. Incomunicáveis, ante a falta de informação a respeito do que o parceiro fará, ambos tendem a falar. E a perder três anos atrás das grades. (MB)


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