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Classe alta compra mais produtos piratas
Entre os brasileiros com renda familiar acima de R$ 1.800, percentual é de 56%; entre os com renda inferior a R$ 300, é de 28%
Segundo a Fecomércio/RJ, mesma conduta têm os que cursaram ao menos um
ano do ensino superior em relação aos analfabetos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No Brasil, a escolha por produtos piratas não se restringe à
população de menor poder
aquisitivo. Pelo contrário. Pesquisa apresentada ontem pela
Federação de Comércio do Estado do Rio de Janeiro mostra
que foram os brasileiros de
maior renda e escolaridade os
que mais declararam adquirir
CDs, DVDs, óculos e outros artigos no mercado informal.
Em todo o país, 42% admitiram neste ano ter comprado
produtos piratas, mesmo percentual de 2006. Entre os brasileiros com renda familiar acima de R$ 1.800, o percentual
chega a 56%. Entre os de renda
inferior a R$ 300, a proporção é
exatamente a metade da verificada entre os mais ricos: 28%.
Comportamento semelhante
é verificado quando se compara
o consumo de piratas por escolaridade. Entre analfabetos ou
que chegaram apenas ao quarto
ano do ensino fundamental, o
percentual é de 25%. Já no caso
dos que cursaram ao menos um
ano do ensino superior, a proporção chega a 54%.
A pesquisa foi encomendada
pela Fecomércio ao Instituto
Ipsos, que entrevistou mil pessoas em todas as regiões do
Brasil. "A pirataria deixou de
ser um problema de ordem financeira ou educacional e virou um fenômeno sociocultural que perpassa todas as faixas
de renda. Os brasileiros, independentemente da escolaridade ou renda, aceitam cada vez
mais essa prática, apesar de terem consciência dos prejuízos
que ela traz", diz Orlando Diniz, presidente da entidade.
Para ele, um fator que contribui para o aumento do consumo de artigos piratas entre os
mais ricos foi a maior agilidade
de oferta no mercado informal.
Tanto que foi na maior faixa salarial da pesquisa (renda familiar acima de R$ 1.800) em que
foi verificado o maior percentual (11%) de consumidores que
disseram ter comprado produtos piratas pelo fato de estarem
disponíveis antes do original.
Foi o que aconteceu com o
filme "Tropa de Elite", que somente na semana passada estreou no Rio e em São Paulo,
mas que, desde agosto, já estava
nas mãos de camelôs. Em todas
as classes sociais e de renda, no
entanto, o principal motivo dado por quem comprou produtos piratas foi o preço menor.
O delegado da Delegacia de
Repressão Contra Crimes de
Propriedade Imaterial do Rio,
Ângelo Ribeiro de Almeida Júnior, diz que já havia percebido
que é a classe média a que mais
recorre a alguns produtos piratas. "Os principais compradores de DVDs e jogos são de classe média. Muitos pais acham
que não vale a pena pagar R$
180 ou R$ 200 em jogos para
crianças porque, em pouco
tempo, elas irão enjoar."
Diniz diz também que a pesquisa detectou que a sensação
de impunidade é igual em todas
as faixas de renda ou escolaridade. Tanto que o temor de
comprar um produto ilegal e
ser punido é inferior a 6% em
todas as classes pesquisadas.
Para ele, é preciso intensificar
as ações de fiscalização e campanhas de conscientização.
Paulo Rosa, presidente da
Associação Brasileira de Produtores de Disco, concorda
com Diniz: "Há pouco compromisso dos governos estaduais e
municipais com o combate à pirataria, permitindo a existência
de verdadeiros shoppings piratas. Sem uma ação contundente do Estado contra os grandes
centros de venda de produtos
piratas -como a rua 25 de Março (SP) e a rua Uruguaiana
(RJ)-, a sensação que fica para
o consumidor é de permissividade e impunidade.
Colaborou MÁRCIA BRASIL, da Sucursal do Rio
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