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Bolsas perdem seis "Brasis" na semana
Valor de mercado de ações recua US$ 6,2 tri no período, e Berlusconi sugere suspensão de pregões para definição de novas regras
Bolsa de NY tem a pior
semana de sua história, ao
cair 18%; em SP, Bovespa
tem pregão suspenso e
fecha em queda de 3,97%
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Após o massacre de ontem
nas Bolsas de todo o mundo
-que elevaram as perdas globais em ações a impressionantes US$ 6,2 trilhões ou cerca de
seis "Brasis" em apenas uma
semana-, o primeiro-ministro
da Itália, Silvio Berlusconi, deixou vazar que uma das hipóteses em estudo entre os governantes é a suspensão mundial
das operações em Bolsa até que
novas regras sejam definidas
para a economia global.
"A crise é global e necessita
uma resposta global. Fala-se de
um novo Bretton Woods para
definir novas regras e de suspender os mercados pelo tempo necessário para formulá-las", afirmou o premiê italiano.
Bretton Woods é o nome da
cidade de New Hampshire
(EUA) em que se definiram as
regras que regeriam o planeta
depois da Segunda Guerra
Mundial, que acabaria um ano
depois dessa cúpula, realizada
em julho de 1944. Criaram-se
então o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.
As duas instituições ficaram
completamente à margem da
crise, tanto que as suas assembléias gerais estão rolando em
Washington, enquanto continua incontrolável o "banho de
sangue" nos mercados, conforme expressão de uma testemunha ocular, David Buik, da BGC
Partners de Londres.
Caíram as ações, de Tóquio a
Londres, passando por São
Paulo e Nova York, caiu o petróleo (para US$ 77,70), mas
subiu o ouro, velho refúgio contra incertezas. Chegou a US$
925,05, o pico desde 31 de julho.
Islândia, Romênia, Rússia,
Ucrânia e Indonésia mantiveram suas Bolsas fechadas. São
Paulo chegou também a fechar
apenas para reabrir em queda
livre, embora tenha recuperado
algo no fim do pregão (a queda
foi de 3,97%). Na semana, o
tombo na Bolsa paulista chegou a 20%.
A crise passou a ser "non-stop". As Bolsas asiáticas abriram quando Nova York fechava
na véspera, com fortes perdas.
Imitaram-na coletivamente, a
ponto de a principal, a de Tóquio, ter caído 9,62%, atingindo
o ponto mais baixo em 20 anos.
Quando as Bolsas européias
abriram, Tóquio já estava fechando em quase colapso, que
se trasladou à Europa. Londres
caiu 8,85%. Madri recuou
9,14%, a maior queda de sua
história. Paris fechou em baixa
de 7,73%. Na Alemanha, a queda foi de 7,01%.
Quando a Europa sangrava,
Nova York abria em queda
-que chegou a 8%. Houve recuperação no final, e o Dow Jones fechou em baixa de 1,49%
-quase nada ante o "banho de
sangue" no resto do planeta. Na
semana, a queda foi de 18%, a
pior da história;
Causa do "banho de sangue"?
É esta, no resumo de Martin
Slaney, da GT, uma das empresas que apostam em derivativos: "Estamos assistindo a uma
venda maciça de ativos em escala global devido a uma combinação de puro pânico com
completa incerteza sobre o futuro das grandes economias".
Posto de outra forma: os investidores estão "pondo preço na
possibilidade de uma depressão global".
Pânico
Concorda com ele David
Buik, o que cunhou a expressão
"banho de sangue": "É puro pânico cego". Mas completa: "Nós
sabemos que estamos indo para uma recessão, sabemos que o
sistema bancário está em crise,
mas é realmente necessário
mergulhar nessa profundeza?",
pergunta, mas não responde.
Profundeza tamanha que
John Paul Rathbone, subeditor
da coluna "Lex" do jornal britânico "Financial Times", escrevia ontem que "a escala do
crash nos mercados é tal que
estaria melhor agora quem, 12
anos atrás, tivesse posto seu dinheiro num cofrinho embaixo
da cama e fosse dormir. Ao
acordar hoje, ainda teria algo
para gastar".
Ninguém, nos mercados ou
nos governos, arriscou-se ontem a prever quando o valor das
ações começará a emergir das
profundezas.
Mas George Irvin, pesquisador da Universidade de Londres, o faz: "Embora os governos possam ajudar a restaurar
os balanços dos bancos e fornecer maciças injeções de crédito,
pôr os mercados financeiros
para funcionar ordenadamente
de novo provavelmente levará
anos, não meses".
A semana que termina parece dar razão a Irvin: os governos fizeram tudo o que puderam para acalmar os mercados,
de corte sincronizado de juros a
uma torrente de dinheiro à disposição do sistema financeiro.
Não obstante, o banho de
sangue continuou. E não se restaurou a confiança dos bancos
nos próprios bancos, o que seria o primeiro passo para recuperar o funcionamento ordenado dos mercados em geral.
Tanto é assim que a Libor
(taxa usada para operações entre bancos) terminou a semana
cotada a 4,8%, quando há apenas um mês estava em 2,8%.
A Euribor, que é a mesma taxa, mas para o euro, recuou ontem só timidamente, dos 5,51%
da véspera para 5,489%. A taxa
começara o ano em 4,287%.
Com esse panorama, soa exótica a pregação de Berlusconi,
embora seja um homem que
definitivamente sabe ganhar
dinheiro: "Se você tem ações,
não precisa absolutamente
vendê-las. Se, ao contrário, tem
dinheiro em caixa, eu te aconselho a comprar qualquer ação
que valia 10 faz um ano e que,
agora, vale 2, 3 ou 4. Haverá um
lucro extraordinário".
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