São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Governo planeja repatriação de dólares

Alta da moeda faz governo retomar projeto de incentivo fiscal para trazer ao país dinheiro depositado por brasileiros no exterior

Governo calcula que cerca de US$ 150 bi estejam hoje fora do país; a idéia é cobrar um pedágio de 4% de IR para o retorno desse dinheiro

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

A alta do dólar nas últimas semanas fez com que o governo voltasse a estudar a possibilidade de adotar no país uma lei de anistia fiscal para o repatriamento do dinheiro de brasileiros depositado no exterior, declarado ou não no Imposto de Renda. Os cálculos são que estejam depositados hoje cerca de US$ 150 bilhões fora do país.
O objetivo do governo seria o de ajudar o Banco Central no trabalho de conter a forte elevação do dólar das últimas semanas. Só ontem o dólar subiu 5,27%, fechando a R$ 2,314. Desde o dia primeiro de agosto, a alta já chega a 48,4%.
Procurado pela Folha, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, por meio de sua assessoria, em Washington, que essa é uma hipótese em estudo pelo governo e que não havia ainda decisão tomada.
A idéia de conceder a anistia fiscal para repatriação de capital do dinheiro depositado lá fora não é nova. Em 2003, no primeiro ano do governo Lula, chegou-se a estudar a criação dessa lei, mas o projeto teve de ser abortado com a eclosão da CPI do Banestado, em 2003, que trouxe à tona denúncias contra o envio ilegal de recursos para fora do país.
Na época, o projeto previa a cobrança de uma espécie de pedágio de 4% a 6% de Imposto de Renda para o dinheiro retornar ao país. Hoje, o IR cobrado é de 27,5%.
Os estudos agora foram retomados pela Fazenda por conta da crise financeira internacional. O governo está bastante preocupado com a alta excessiva do dólar e seus efeitos sobre a economia. O temor é a valorização do dólar provocar uma freada na economia.
Nos últimos dias, o BC tem intensificado os leilões de venda de dólar -ou à vista ou por meio de "swap" cambial-, mas, mesmo assim, seus esforços têm sido em vão. Só nesta semana o Banco Central deve ter queimado mais US$ 3 bilhões das reservas, com uma média de dois leilões por dia.
São vários os fatores que têm levado a essa alta expressiva do dólar nas últimas semanas. Entre eles, a forte aversão ao risco e o problema das empresas brasileiras que fizeram investimentos de alto risco no mercado derivativo de dólar e estão comprando a moeda para retirarem suas aplicações.
Já foi divulgado montante de cerca de R$ 5 bilhões de prejuízos nessas operações. Eram conhecidos os prejuízos de Aracruz (R$ 1,95 bilhão) e Sadia (R$ 750 milhões); e ontem se tomou conhecimento de mais um, da Votorantim, de R$ 2,2 bilhões. Os rumores do mercado são que o total atinja a marca de R$ 40 bilhões.
Além dessas perdas das empresas, também surgiram informações no governo de que grandes investidores estariam fazendo resgates elevados em diversos fundos de investimento, o que também tem contribuído para elevar o dólar no país. Em setembro, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) registrou uma saída de aproximadamente US$ 1,4 bilhão de capital estrangeiro de ativos mobiliários.
O Banco Central estaria disposto a vender até 10% das reservas para tentar conter a alta do dólar, o que significa um total de US$ 20 bilhões. O melhor seria, no entanto, não desfalcar as reservas. Essa é uma das principais armas que o Brasil dispõe hoje para enfrentar a atual crise econômica global.


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