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Governo planeja repatriação de dólares
Alta da moeda faz governo retomar projeto de incentivo fiscal para trazer ao país dinheiro depositado por brasileiros no exterior
Governo calcula que cerca de US$ 150 bi estejam hoje fora do país; a idéia é cobrar um pedágio de 4% de IR para o retorno desse dinheiro
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A alta do dólar nas últimas
semanas fez com que o governo
voltasse a estudar a possibilidade de adotar no país uma lei de
anistia fiscal para o repatriamento do dinheiro de brasileiros depositado no exterior, declarado ou não no Imposto de
Renda. Os cálculos são que estejam depositados hoje cerca
de US$ 150 bilhões fora do país.
O objetivo do governo seria o
de ajudar o Banco Central no
trabalho de conter a forte elevação do dólar das últimas semanas. Só ontem o dólar subiu
5,27%, fechando a R$ 2,314.
Desde o dia primeiro de agosto,
a alta já chega a 48,4%.
Procurado pela Folha, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, por meio de sua
assessoria, em Washington,
que essa é uma hipótese em estudo pelo governo e que não
havia ainda decisão tomada.
A idéia de conceder a anistia
fiscal para repatriação de capital do dinheiro depositado lá
fora não é nova. Em 2003, no
primeiro ano do governo Lula,
chegou-se a estudar a criação
dessa lei, mas o projeto teve de
ser abortado com a eclosão da
CPI do Banestado, em 2003,
que trouxe à tona denúncias
contra o envio ilegal de recursos para fora do país.
Na época, o projeto previa a
cobrança de uma espécie de pedágio de 4% a 6% de Imposto
de Renda para o dinheiro retornar ao país. Hoje, o IR cobrado é de 27,5%.
Os estudos agora foram retomados pela Fazenda por conta
da crise financeira internacional. O governo está bastante
preocupado com a alta excessiva do dólar e seus efeitos sobre
a economia. O temor é a valorização do dólar provocar uma
freada na economia.
Nos últimos dias, o BC tem
intensificado os leilões de venda de dólar -ou à vista ou por
meio de "swap" cambial-, mas,
mesmo assim, seus esforços
têm sido em vão. Só nesta semana o Banco Central deve ter
queimado mais US$ 3 bilhões
das reservas, com uma média
de dois leilões por dia.
São vários os fatores que têm
levado a essa alta expressiva do
dólar nas últimas semanas. Entre eles, a forte aversão ao risco
e o problema das empresas
brasileiras que fizeram investimentos de alto risco no mercado derivativo de dólar e estão
comprando a moeda para retirarem suas aplicações.
Já foi divulgado montante de
cerca de R$ 5 bilhões de prejuízos nessas operações. Eram conhecidos os prejuízos de Aracruz (R$ 1,95 bilhão) e Sadia
(R$ 750 milhões); e ontem se
tomou conhecimento de mais
um, da Votorantim, de R$ 2,2
bilhões. Os rumores do mercado são que o total atinja a marca de R$ 40 bilhões.
Além dessas perdas das empresas, também surgiram informações no governo de que
grandes investidores estariam
fazendo resgates elevados em
diversos fundos de investimento, o que também tem contribuído para elevar o dólar no
país. Em setembro, a CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) registrou uma saída de
aproximadamente US$ 1,4 bilhão de capital estrangeiro de
ativos mobiliários.
O Banco Central estaria disposto a vender até 10% das reservas para tentar conter a alta
do dólar, o que significa um total de US$ 20 bilhões. O melhor
seria, no entanto, não desfalcar
as reservas. Essa é uma das
principais armas que o Brasil
dispõe hoje para enfrentar a
atual crise econômica global.
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