São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC pressiona banco para que dinheiro circule

Após liberar R$ 60 bilhões, autoridade monetária cobra de instituições que recursos entrem em circulação no mercado

Governo pretende destravar mercado; BC e Febraban dizem que encontro tratou de linhas de crédito voltadas para o comércio exterior

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de liberar R$ 60 bilhões e voltar a vender dólares para tentar compensar a falta de dinheiro no mercado financeiro, o Banco Central, agora, pressiona os bancos para fazer esses recursos circularem. Nos últimos dias, os diretores do BC intensificaram as conversas com as instituições financeiras e, ontem, o diretor de Política Monetária do BC, Mário Torós, coordenou uma reunião secreta na delegacia regional da instituição em São Paulo com tesoureiros de vários bancos.
O BC e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) confirmaram a reunião ontem, mas afirmaram que o tema foi linha de crédito para o comércio exterior. No entanto, segundo a Folha apurou, a pressão do BC tem sido grande sobre os maiores bancos que operam no varejo e têm extensa rede de captação de recursos e muitos clientes para tentar destravar o mercado, como Bradesco, Itaú, HSBC e Santander.
A preocupação do BC é tanta que até o seu presidente, Henrique Meirelles, entrou no circuito recentemente, falando diretamente com a cúpula das maiores instituições. Além de Torós, técnicos da área de fiscalização também estão no esforço concentrado para pressionar o mercado.
A avaliação preliminar do BC é a de que o volume de recursos liberado na economia brasileira - após a adoção de medidas que diminuem a parcela do dinheiro obrigatoriamente recolhida ao BC (o chamado compulsório)- deveria ter um impacto maior sobre a liquidez do mercado.
Porém, cada vez mais o governo tem notado que os recursos estão ficando "empoçados". Receosos, os bancos não querem emprestar para outras instituições e nem para empresas.
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal têm liderado as operações de compra de carteira de crédito de instituições menores, que estão com dificuldade de obter dinheiro no mercado. Isso serve para dar certo alívio. No entanto, avalia-se que os bancos do mesmo porte dos dois estatais ainda estão reticentes.
O BC acredita que essas instituições de menor porte têm ativos bons que podem ser absorvidos pelos maiores, minimizando a crise atual no mercado doméstico, mas isso ainda não deslanchou.
Todo o esforço da cúpula do BC é para tentar destravar o mercado de crédito. Além dos bancos, as empresas também estão sofrendo com a crise atual. Isso porque não conseguem linhas de capital de giro. As medidas adotadas pelo governo pretendem atacar isso, mas o BC ainda não está vendo resultados favoráveis.
Sem crédito, muitas empresas privadas, que estão fora da alçada da fiscalização do BC, começam a registrar prejuízos com empréstimos atrelados ao dólar. Se elas não conseguirem recursos para se manter, podem ter problemas de pagar suas dívidas com o banco, tornando o problema ainda maior.
Desde que a crise mundial entrou na sua fase mais crítica, o BC aumentou o monitoramento sobre os bancos.
Em relação às dificuldades das empresas, porém, o BC não tem nenhum termômetro. A luz amarela acendeu com essa crise por causa das operações de crédito que tinham cláusulas vinculadas ao dólar. Descobriu-se agora que muitos empréstimos desse tipo foram oferecido a empresas de médio e pequeno porte e, com a desvalorização do real, elas foram surpreendidas com o aumento da dívida.


Texto Anterior: Euro: 15 países reúnem-se em paris e tentam coordenação
Próximo Texto: Governo deve reforçar investimentos em 2009
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.