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BC pressiona banco para que dinheiro circule
Após liberar R$ 60 bilhões, autoridade monetária cobra de instituições que recursos entrem em circulação no mercado
Governo pretende destravar mercado; BC e Febraban dizem que encontro tratou de linhas de crédito voltadas para o comércio exterior
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de liberar R$ 60 bilhões e voltar a vender dólares
para tentar compensar a falta
de dinheiro no mercado financeiro, o Banco Central, agora,
pressiona os bancos para fazer
esses recursos circularem. Nos
últimos dias, os diretores do BC
intensificaram as conversas
com as instituições financeiras
e, ontem, o diretor de Política
Monetária do BC, Mário Torós,
coordenou uma reunião secreta na delegacia regional da instituição em São Paulo com tesoureiros de vários bancos.
O BC e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) confirmaram a reunião ontem,
mas afirmaram que o tema foi
linha de crédito para o comércio exterior. No entanto, segundo a Folha apurou, a pressão
do BC tem sido grande sobre os
maiores bancos que operam no
varejo e têm extensa rede de
captação de recursos e muitos
clientes para tentar destravar o
mercado, como Bradesco, Itaú,
HSBC e Santander.
A preocupação do BC é tanta
que até o seu presidente, Henrique Meirelles, entrou no circuito recentemente, falando
diretamente com a cúpula das
maiores instituições. Além de
Torós, técnicos da área de fiscalização também estão no esforço concentrado para pressionar o mercado.
A avaliação preliminar do BC
é a de que o volume de recursos
liberado na economia brasileira - após a adoção de medidas
que diminuem a parcela do dinheiro obrigatoriamente recolhida ao BC (o chamado compulsório)- deveria ter um impacto maior sobre a liquidez do
mercado.
Porém, cada vez mais o governo tem notado que os recursos estão ficando "empoçados".
Receosos, os bancos não querem emprestar para outras instituições e nem para empresas.
O Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal têm liderado as operações de compra de
carteira de crédito de instituições menores, que estão com
dificuldade de obter dinheiro
no mercado. Isso serve para
dar certo alívio. No entanto,
avalia-se que os bancos do
mesmo porte dos dois estatais
ainda estão reticentes.
O BC acredita que essas instituições de menor porte têm
ativos bons que podem ser absorvidos pelos maiores, minimizando a crise atual no mercado doméstico, mas isso ainda
não deslanchou.
Todo o esforço da cúpula do
BC é para tentar destravar o
mercado de crédito. Além dos
bancos, as empresas também
estão sofrendo com a crise
atual. Isso porque não conseguem linhas de capital de giro.
As medidas adotadas pelo governo pretendem atacar isso,
mas o BC ainda não está vendo
resultados favoráveis.
Sem crédito, muitas empresas privadas, que estão fora da
alçada da fiscalização do BC,
começam a registrar prejuízos
com empréstimos atrelados ao
dólar. Se elas não conseguirem
recursos para se manter, podem ter problemas de pagar
suas dívidas com o banco, tornando o problema ainda maior.
Desde que a crise mundial
entrou na sua fase mais crítica,
o BC aumentou o monitoramento sobre os bancos.
Em relação às dificuldades
das empresas, porém, o BC não
tem nenhum termômetro. A
luz amarela acendeu com essa
crise por causa das operações
de crédito que tinham cláusulas vinculadas ao dólar. Descobriu-se agora que muitos empréstimos desse tipo foram
oferecido a empresas de médio
e pequeno porte e, com a desvalorização do real, elas foram
surpreendidas com o aumento
da dívida.
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