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Real dispara diante de principais moedas
Além de subir 34,4% ante o dólar neste ano, moeda tem ganho sobre as divisas dos principais destinos de exportação
Valorização chega a 49,4%
ante o peso argentino e a
29,1% em relação ao euro;
para especialistas, apreciação
do real tende a continuar
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O fortalecimento do real tem
sido um fenômeno mais amplo
do que a simples apreciação
diante do dólar. Para desespero
do setor exportador brasileiro,
a moeda nacional tem se valorizado expressivamente em relação às principais divisas do planeta e de muitos de seus parceiros comerciais.
O dólar nem é a divisa sobre a
qual o real mais ganhou terreno
nos últimos meses. Enquanto o
real registra apreciação de
34,42% em relação à moeda
norte-americana no ano, acumula alta de 49,35% sobre o peso argentino. Se for comparada
com o iene, a divisa brasileira
apresenta elevação de 33,73%.
Em relação ao euro, a alta é de
29,10%. As variações se referem às cotações de compra divulgadas pelo Banco Central.
"Vamos ter cada vez mais dificuldades para o exportador. O
governo não está atento ao assunto, não está fazendo nada
em relação à apreciação do real,
que não se restringe ao dólar,
alonga-se às moedas de diversos países com os quais temos
relacionamento comercial", diz
Roberto Segatto, presidente da
Abracex (Associação Brasileira
de Comércio Exterior).
Quando o real se aprecia, acaba por reduzir a competitividade da indústria nacional, ao encarecer os produtos brasileiros
vendidos para o exterior.
Com a moeda brasileira cada
vez mais forte, volta a esquentar o debate sobre o câmbio livre e as limitações do governo
para interferir nesse segmento.
Há especialistas que defendem algum tipo de controle
cambial, como limites mínimos
de prazo para o capital externo
permanecer no país e taxação
dos recursos que vêm de fora.
Medidas como essas, dizem,
poderiam desestimular a vinda
de capital especulativo e diminuir o montante de dólares disponíveis no mercado.
Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB,
avalia que impor barreiras para
tentar conter a apreciação do
câmbio pode gerar resultados,
"mas apenas temporários". "A
trajetória é de fortalecimento
do real. Sobra pouco para o
Banco Central fazer. As compras que o BC tem feito no mercado são importantes, mas não
conseguem segurar a cotação."
Com as aquisições da autoridade monetária, as reservas internacionais atingiram o nível
inédito de US$ 230 bilhões.
Preocupação global
O problema da apreciação da
moeda local e dos riscos que isso pode trazer para o comércio
exterior tem se tornado uma
preocupação para muitos países, não apenas para o Brasil.
Na semana passada, bancos
centrais de países do sudeste
asiático decidiram intervir no
câmbio na tentativa de conter a
apreciação de suas moedas em
relação à divisa dos EUA.
Na sexta-feira, o dólar conseguiu se recuperar um pouco em
relação ao euro e ao iene. Mas,
no mercado brasileiro, o que se
viu foi nova baixa, com a moeda
cotada a R$ 1,737, em seu nível
mais baixo desde 8 de setembro
de 2008, um pouco antes de a
crise internacional entrar em
seu período mais crítico.
"O real está de fato muito valorizado diante de várias moedas. Seria muito simplista dizer
que o movimento atual do câmbio não gera impactos na economia. Mas o que deve ser feito? Baixar mais os juros para
desestimular a vinda de recursos externos? Criar algum tipo
de controle de capital?", questiona Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA.
Em 2008, esteve em pauta
debate parecido com o atual,
antes do agravamento da crise
que depreciou de forma acelerada o real. Em agosto, o dólar
rondava R$ 1,56, seu mais baixo
patamar desde janeiro de 1999.
Com a deterioração da economia global, desencadeada pela
crise, o dólar superou R$ 2,50
-isso antes de 2008 acabar.
Pessoa lembra que o real
apreciado tem ao menos um
efeito benéfico, que é ajudar a
controlar a inflação.
"De todo modo, o mais provável é que o dólar fique oscilando em uma faixa de R$ 1,70 a
R$ 1,80 até 2010. Isso desde que
a economia global continue em
rota de recuperação."
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