São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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Lula quer debate antes de pacote econômico

Presidente pretende convocar líderes políticos e economistas para estabelecer as prioridades para elevar crescimento

Negociações com aliados políticos e empresários buscam ganhar aval da sociedade; desoneração está na pauta


Eraldo Peres - 9.11.06/Associated Press
O presidente Lula (à dir.), antes de cerimônia no Palácio Planalto para receber o seu colega peruano, Alan Garcia, anteontem


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reunirá a equipe econômica com líderes políticos e economistas de fora do governo, provavelmente na próxima semana, na Granja do Torto, para um dia inteiro de debates sobre como "destravar o crescimento".
Lula pretende anunciar ainda neste ano um "pacote" para o início do seu segundo mandato, em janeiro, com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento sem grandes cortes no Orçamento. Ele tem dito que pretende, primeiro, estabelecer essas medidas e metas, para depois definir os nomes do futuro ministério.
Esse pacote prevê, entre outras coisas, medidas para a desoneração das empresas, projetos com Estados e municípios e o impulso de obras federais de grande porte que estejam paradas por obstáculos judiciais ou burocráticos. Na área técnica, a principal dificuldade é descobrir de onde virão os recursos para essas obras.
O presidente já encomendou estudos sobre como funcionam a Justiça federal e estadual, o Ministério Público e órgãos como o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que muitas vezes são acusados de atrasar obras importantes.
Lula tem exemplificado os entraves burocráticos e jurídicos que atrasam a modernização da infra-estrutura citando o gasoduto Coari-Manaus, que precisou de dez anos até começar de fato e acabou sendo suspenso por decisão judicial, deixando parados pesados investimentos e 3.000 trabalhadores. A decisão foi da Justiça e do Ibama, tornando-se uma guerra judicial de prazo indefinido.
A intenção do presidente, estimulado principalmente pela chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é fazer economia de recursos públicos onde for possível e cortar o mínimo.
Antes da reunião ampliada, Lula irá reunir Dilma, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) para fechar o que foi definido como "pré-pacote". Em conversa na quinta-feira com um grupo reduzido de jornalistas, no Itamaraty, ele disse que "não adianta cortar R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, porque não resolve nada. E provocou: "Se você olhar o Orçamento, não tem onde cortar. De onde vai cortar?"
Questionado se o país tem como investir e crescer [o governo fala em até 5% do PIB em 2007; o mercado, 3,5% ] sem cortar, assumiu uma espécie de compromisso: "Vai aparecer o dinheiro, vocês vão ver".
Prometendo ser "carinhoso com os jornalistas" no segundo mandato, Lula contou que iniciou a vida política em 1976, como líder sindical no ABC paulista, quando havia "um milagre econômico contraditório com a repressão política".
"O Brasil crescia uns 10% ao ano, e daí? Daí ficou uma dívida desgraçada para a gente pagar", completou, reclamando da cobrança para que promova cortes. O importante, segundo ele, é projetar um "crescimento seguro".


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