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Exploração de megacampo terá alto custo
Petrobras deve adquirir plataforma que custa até US$ 4 bi para retirar petróleo de áreas ultraprofundas; anterior saiu por US$ 900 mi
Nova área na bacia de Santos exige dez plataformas, que devem estar funcionando em sete ou oito anos, de acordo com pesquisador
RAQUEL ABRANTES
DA SUCURSAL DO RIO
Especialista calcula que cada
plataforma para exploração em
áreas ultraprofundas na megarreserva da bacia de Santos
custará mais de três vezes o
preço atual. O campo, anunciado na última quinta-feira, poderá tornar o Brasil um país exportador de petróleo, segundo
o governo, e está localizado em
uma profundidade ainda não
explorada pela Petrobras.
A última plataforma a entrar
em ação, a P-54, custou US$
900 milhões, mas a exploração
e a produção de petróleo e gás
natural no campo de Tupi exigem plataformas do tipo FPSO
(Floating Production Storage
and Offloading), que flutuam,
produzem, armazenam e transferem o produto para o navio de
transporte.
Cada FPSO custa de US$ 3
bilhões a US$ 4 bilhões e pode
produzir 100 mil barris por dia,
diz o pesquisador da Coppe (a
coordenação de programas de
pós-graduação da UFRJ) Giuseppe Bacoccoli, que trabalhou
32 anos na área de exploração
da Petrobras.
A primeira plataforma deve
começar a operar em três ou
quatro anos. Dada a extensão
da área da reserva, de 800 km,
serão necessárias dez plataformas, que devem estar funcionando em sete ou oito anos,
com capacidade total para 1 milhão de barris por dia. A nova
área pode elevar em mais de
50% as atuais reservas do país
(14 bilhões de barris) de acordo
com a Petrobras, com volume
estimado entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris.
"Acredito que a área pode
realmente ter a extensão avaliada e, com a confirmação, passará a ser o maior campo brasileiro, ultrapassando o campo
de Marlim Sul (bacia de Campos), abrindo enormes perspectivas para estratégias semelhantes", avalia Bacoccoli.
Antes, contudo, será preciso
ultrapassar as dificuldades tecnológicas para a exploração do
pré-sal, que são rochas-reservatórios abaixo de uma extensa
camada de sal, que abrange do
litoral do Espírito Santo até o
de Santa Catarina.
Da superfície da água para
baixo são 2.000 metros, seguidos de 2.000 metros de sedimentos (argila, areia) e 2.000
metros de sal. Embaixo, está o
reservatório rochoso, com petróleo e gás encontrados nos
espaços porosos. Antes de furar
o poço, o pesquisador explica
ser preciso fazer estudos geológicos e sísmicos (espécie de ultra-sonografia do solo).
"A camada de sal varia muito
de espessura, porque, a essa
profundidade, o sal se comporta de maneira elástica, como se
fosse um gel. Isso gera deformação muito grande nas ondas
sísmicas, lançadas para enxergar o que há embaixo", diz.
O primeiro enfrentamento é
a correção da imagem sísmica,
que pode ser feito por uma das
companhias internacionais especializadas ou pela Petrobras,
para determinar o local da perfuração. O sal está em águas
muito profundas, o que exige
uma unidade de perfuração flutuante. Segundo o pesquisador,
pode ser uma semi-submersível ou um navio-sonda.
O tubo que irá da unidade
flutuante até o fundo do mar,
chamado riser, tem que agüentar ondas, correntes marítimas
e flutuações da base. Por isso, o
custo é elevado, e a operação,
delicada. O riser vai entrar nos
sedimentos e a conexão com o
primeiro revestimento no fundo do mar tem uma válvula que
fecha caso o tubo quebre ou o
navio saia do lugar.
Como o sal é gelatinoso e o
poço tem de 200ºC a 300ºC, a
alta pressão faz com que o buraco aberto seja tampado de
novo. "Em Campos, muitos poços já foram perdidos por causa
do sal profundo", conta. Por isso, são usados tubos de aço de
altíssima resistência, chamados revestimentos, dentro do
poço, para evitar que ele feche.
Depois de 6.000 metros de
profundidade, as pressões são
muito altas, confinadas, porque
o sal é impermeável. É preciso
controlar essa pressão para impedir uma explosão, jorrando
petróleo. É usado, assim, um
fluido de perfuração que exerce
pressão sobre o reservatório.
"É um equilíbrio extremamente delicado de pressões.
Para companhias dominadoras
de tecnologia, como a Petrobras, é possível fazer qualquer
coisa, só é preciso saber como.
A empresa já sabia de tudo isso
e foi avaliando todas as variáveis", diz Bacoccoli.
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