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Expansão tornou China importadora de petróleo
DO "NEW YORK TIMES"
Mais que qualquer outro
país, a China representa as dimensões do desafio petróleo
caro. Ao se transformar em um
dos gigantes da economia mundial, ao longo da última década,
a China também se tornou
grande usuária de energia.
A economia do país vem crescendo, desde os anos 90, em ritmo furioso, da ordem de 10% ao
ano, e isso fez com que 300 milhões de chineses saíssem da
pobreza. Mas a rápida industrialização tem seu preço: a demanda por petróleo mais que
triplicou desde os anos 80 e tornou o país, outrora auto-suficiente, um grande importador.
Índia e China abrigam cerca
de um terço da população do
planeta. A população desses
países exige acesso a eletricidade, carros e bens de consumo e
são cada vez mais capazes de
competir com o Ocidente pelo
acesso a recursos naturais. Ao
fazê-lo, os dois gigantes asiáticos estão causando profunda
transformação no balanço
energético mundial.
Hoje, a China consome cerca
de três vezes menos petróleo
que os Estados Unidos, responsáveis pela queima de 25% do
combustível mundial. Em
2030, Índia e China somadas
importarão tanto petróleo
quanto os Estados Unidos e o
Japão fazem atualmente.
Embora a demanda registre
seu mais rápido crescimento
em outros países, o apetite dos
americanos por carros grandes
e casas grandes também vem
causando firme alta na demanda do país por petróleo.
A Europa conseguiu conter o
consumo de petróleo por meio
de uma combinação entre altos
impostos sobre a gasolina, uso
de carros menores e sistemas
eficientes de transporte público, mas o mesmo não pode ser
dito sobre os Estados Unidos. O
consumo de petróleo no país,
que tem gasolina muito mais
barata que a vendida na Europa, chegou hoje a 21 milhões de
barris diários, ante cerca de 17
milhões de barris no começo da
década passada.
Caso os chineses e os indianos venham a desenvolver consumo per capita de petróleo semelhante ao dos norte-americanos, o consumo mundial
equivaleria a mais de 200 milhões de barris diários, ante os
85 milhões atuais. Nenhum especialista considera que seja
viável produzir esse volume de
petróleo.
Em termos mais realistas, a
expectativa é a de que a demanda mundial cresça para aproximadamente 115 milhões de
barris diários em 2030, nível
que provavelmente representa
o limite extremo da capacidade
humana de extrair petróleo.
O mundo já dispõe de pouquíssima capacidade excedente
de produção petroleira, e qualquer interrupção na oferta,
causada por furacões ou conflitos armados, causaria disparada dos preços. "Não temos
amortecedores", disse o economista Lawrence Goldstein.
Para as empresas de petróleo, os preços altos geraram
uma busca frenética por novas
fontes em todo o mundo. Depois de uma longa pausa no investimento, que durou quase
toda a década de 90, devido aos
preços baixos, as grandes empresas petroleiras estão agora
investindo bilhões de dólares
para ampliar a oferta.
O problema é que esses grandes projetos exigem tempo, e as
empresas também estão sendo
prejudicadas por uma alta dos
custos. O custo da ferramenta
básica do setor, as plataformas
de perfuração, por exemplo,
dobrou nos últimos anos. Os
analistas dizem que vai demorar, mas novas fontes de suprimento encontrarão caminhos
para chegar ao mercado.
"A preocupação, hoje, é descobrir como o setor de energia
atenderá ao crescimento antecipado para a demanda, em longo prazo", disse Linda Cook, integrante do conselho da anglo-holandesa Royal Dutch Shell,
um dos grandes grupos petroleiros. "A demanda por energia
está crescendo em ritmo jamais
visto. Do ponto de vista da oferta, estamos vendo dificuldades
para acompanhar essa expansão. É esse o desafio no mercado da energia."
A oferta também vem sendo
prejudicada pela tensão política no golfo Pérsico, pela guerra
no Iraque, por furacões devastadores no golfo do México
(uma importante região produtora de petróleo), por dificuldades de produção na Venezuela e
pela violência na região petroleira da Nigéria. Muitos desses
fatores geopolíticos resultaram
em ágios por risco que são estimados entre US$ 25 e US$ 50
por barril. Recentemente, o
preço do petróleo subiu de US$
75 para US$ 95 em apenas algumas semanas, sem qualquer
motivo aparente.
Queda no preço
"Petróleo a US$ 50 por barril
parece algo tão distante a essa
altura", disse Thomas Bentz,
analista sênior de energia no
BNP Paribas de Nova York,
mencionando um número que
parecia preço impossivelmente
elevado para o petróleo há apenas alguns anos. "O petróleo
deixará de subir quanto tivermos destruição de demanda.
Isso não aconteceu até agora."
E quando acontecerá? Veteranos do setor petroleiro, acostumados aos ciclos de expansão
e contração do setor, dizem que
ninguém deveria contar com
altas perpétuas do petróleo.
Uma desaceleração na economia da China ou na dos Estados
Unidos -ou em ambas simultaneamente- provavelmente
faria com que os preços despencassem.
Isso aconteceu há não mais
de uma década, depois que a
crise financeira asiática causou
colapso em diversas economias. Os preços do petróleo caíram à metade, de US$ 20 a US$
10, em alguns meses.
"Seria um grande erro imaginar que a lei da oferta e procura
foi abolida", afirmou Daniel
Yergin, historiador do petróleo
e presidente de consultoria.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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