São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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Expansão tornou China importadora de petróleo

DO "NEW YORK TIMES"

Mais que qualquer outro país, a China representa as dimensões do desafio petróleo caro. Ao se transformar em um dos gigantes da economia mundial, ao longo da última década, a China também se tornou grande usuária de energia.
A economia do país vem crescendo, desde os anos 90, em ritmo furioso, da ordem de 10% ao ano, e isso fez com que 300 milhões de chineses saíssem da pobreza. Mas a rápida industrialização tem seu preço: a demanda por petróleo mais que triplicou desde os anos 80 e tornou o país, outrora auto-suficiente, um grande importador. Índia e China abrigam cerca de um terço da população do planeta. A população desses países exige acesso a eletricidade, carros e bens de consumo e são cada vez mais capazes de competir com o Ocidente pelo acesso a recursos naturais. Ao fazê-lo, os dois gigantes asiáticos estão causando profunda transformação no balanço energético mundial.
Hoje, a China consome cerca de três vezes menos petróleo que os Estados Unidos, responsáveis pela queima de 25% do combustível mundial. Em 2030, Índia e China somadas importarão tanto petróleo quanto os Estados Unidos e o Japão fazem atualmente.
Embora a demanda registre seu mais rápido crescimento em outros países, o apetite dos americanos por carros grandes e casas grandes também vem causando firme alta na demanda do país por petróleo.
A Europa conseguiu conter o consumo de petróleo por meio de uma combinação entre altos impostos sobre a gasolina, uso de carros menores e sistemas eficientes de transporte público, mas o mesmo não pode ser dito sobre os Estados Unidos. O consumo de petróleo no país, que tem gasolina muito mais barata que a vendida na Europa, chegou hoje a 21 milhões de barris diários, ante cerca de 17 milhões de barris no começo da década passada.
Caso os chineses e os indianos venham a desenvolver consumo per capita de petróleo semelhante ao dos norte-americanos, o consumo mundial equivaleria a mais de 200 milhões de barris diários, ante os 85 milhões atuais. Nenhum especialista considera que seja viável produzir esse volume de petróleo.
Em termos mais realistas, a expectativa é a de que a demanda mundial cresça para aproximadamente 115 milhões de barris diários em 2030, nível que provavelmente representa o limite extremo da capacidade humana de extrair petróleo.
O mundo já dispõe de pouquíssima capacidade excedente de produção petroleira, e qualquer interrupção na oferta, causada por furacões ou conflitos armados, causaria disparada dos preços. "Não temos amortecedores", disse o economista Lawrence Goldstein.
Para as empresas de petróleo, os preços altos geraram uma busca frenética por novas fontes em todo o mundo. Depois de uma longa pausa no investimento, que durou quase toda a década de 90, devido aos preços baixos, as grandes empresas petroleiras estão agora investindo bilhões de dólares para ampliar a oferta.
O problema é que esses grandes projetos exigem tempo, e as empresas também estão sendo prejudicadas por uma alta dos custos. O custo da ferramenta básica do setor, as plataformas de perfuração, por exemplo, dobrou nos últimos anos. Os analistas dizem que vai demorar, mas novas fontes de suprimento encontrarão caminhos para chegar ao mercado.
"A preocupação, hoje, é descobrir como o setor de energia atenderá ao crescimento antecipado para a demanda, em longo prazo", disse Linda Cook, integrante do conselho da anglo-holandesa Royal Dutch Shell, um dos grandes grupos petroleiros. "A demanda por energia está crescendo em ritmo jamais visto. Do ponto de vista da oferta, estamos vendo dificuldades para acompanhar essa expansão. É esse o desafio no mercado da energia."
A oferta também vem sendo prejudicada pela tensão política no golfo Pérsico, pela guerra no Iraque, por furacões devastadores no golfo do México (uma importante região produtora de petróleo), por dificuldades de produção na Venezuela e pela violência na região petroleira da Nigéria. Muitos desses fatores geopolíticos resultaram em ágios por risco que são estimados entre US$ 25 e US$ 50 por barril. Recentemente, o preço do petróleo subiu de US$ 75 para US$ 95 em apenas algumas semanas, sem qualquer motivo aparente.

Queda no preço
"Petróleo a US$ 50 por barril parece algo tão distante a essa altura", disse Thomas Bentz, analista sênior de energia no BNP Paribas de Nova York, mencionando um número que parecia preço impossivelmente elevado para o petróleo há apenas alguns anos. "O petróleo deixará de subir quanto tivermos destruição de demanda. Isso não aconteceu até agora."
E quando acontecerá? Veteranos do setor petroleiro, acostumados aos ciclos de expansão e contração do setor, dizem que ninguém deveria contar com altas perpétuas do petróleo.
Uma desaceleração na economia da China ou na dos Estados Unidos -ou em ambas simultaneamente- provavelmente faria com que os preços despencassem. Isso aconteceu há não mais de uma década, depois que a crise financeira asiática causou colapso em diversas economias. Os preços do petróleo caíram à metade, de US$ 20 a US$ 10, em alguns meses. "Seria um grande erro imaginar que a lei da oferta e procura foi abolida", afirmou Daniel Yergin, historiador do petróleo e presidente de consultoria.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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