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"Reais não são suficientes", diz Febraban
Bancos não têm como atender à demanda por crédito no país após fechamento das linhas externas, diz Fábio Barbosa
Presidente da Febraban
e do Santander responde a pressões do governo e diz que os bancos "não estão escondendo dinheiro"
SHEILA D'AMORIM
EM SÃO PAULO
Mesmo com a disposição do
governo de liberar cerca de R$
100 bilhões em recursos captados pelos bancos que estavam
parados no Banco Central, os
reais em circulação na economia não serão suficientes para
atender à demanda por crédito
das empresas, que cresceu com
a falta de linhas em dólar.
A avaliação é do presidente
da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Fábio Barbosa, para quem a "sensação de
paralisação" permanecerá e se
traduzirá num novo patamar
do mercado de crédito, reduzindo o crescimento no Brasil e
no resto do mundo.
"Os reais não são suficientes
para atender a essa nova demanda de pessoas que migraram de dólar para reais. Por definição mesmo, não tem [reais],
e o que tem é limitado. Se mais
gente vem buscar, não tem e fica faltando", disse Barbosa,
presidente do Santander no
Brasil, em entrevista à Folha.
"O segundo ponto é que as
empresas também ficaram
mais conservadoras e os indivíduos, também mais prudentes.
Não estão querendo se endividar", afirmou, ressaltando que
os bancos não estão se recusando a exercer a função básica de
emprestar. "Banco não está escondendo dinheiro."
Segundo ele, as pessoas físicas continuam sendo atendidas
normalmente. No caso das empresas, o problema é que as
operações ficaram com prazo
mais curto e elas precisam de
financiamentos longos. Isso
porque, argumenta, os investidores que são a fonte de recursos dos bancos estão preferindo aplicações de prazos mais
curtos, com medo das incertezas que rondam os mercados.
"Não existe dinheiro de longo prazo, só de curto prazo. E,
em razão dessa demanda adicional das empresas que não
conseguem se financiar em dólar, o mercado congestionou."
Isso, rebate, não tem nada a
ver com uma atitude dos bancos de se recusarem a conceder
mais crédito neste momento
de volatilidade, como membros
do governo já sugeriram, ameaçando inclusive pegar de volta
o dinheiro liberado dos depósitos compulsórios se ele não
fosse repassado a consumidores e empresas.
Dias depois, o Banco Central
adotou medidas para tentar
forçar os bancos a usarem o dinheiro liberado para comprar
carteiras de créditos de instituições menores com dificuldade de caixa. Para pressionar
os grandes bancos, o BC zerou
a remuneração de parte do
compulsório, que rendia o
equivalente à taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Barbosa, porém, diz que não
há pressão do BC para os bancos emprestarem a qualquer
custo. "Não é obrigar", diz. "O
que o BC está fazendo é injetando mais recursos na economia, através da liberação de
compulsórios. Ele colocou
mais dinheiro e está dizendo:
não estou colocando mais dinheiro para você fazer o que
quer, mas para usar direcionado", afirma.
Barbosa defende que há uma
grande diferença porque o BC
não está exigindo que os bancos usem o dinheiro que tinham em caixa, mas o extra
que foi liberado. "Ele não está
forçando, está estimulando."
Para o presidente da Febraban,
se o problema fosse apenas má
vontade dos bancos, "seria de
fácil solução -o problema é
muito mais complexo".
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