São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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"Reais não são suficientes", diz Febraban

Bancos não têm como atender à demanda por crédito no país após fechamento das linhas externas, diz Fábio Barbosa

Presidente da Febraban e do Santander responde a pressões do governo e diz que os bancos "não estão escondendo dinheiro"


SHEILA D'AMORIM
EM SÃO PAULO

Mesmo com a disposição do governo de liberar cerca de R$ 100 bilhões em recursos captados pelos bancos que estavam parados no Banco Central, os reais em circulação na economia não serão suficientes para atender à demanda por crédito das empresas, que cresceu com a falta de linhas em dólar.
A avaliação é do presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Fábio Barbosa, para quem a "sensação de paralisação" permanecerá e se traduzirá num novo patamar do mercado de crédito, reduzindo o crescimento no Brasil e no resto do mundo.
"Os reais não são suficientes para atender a essa nova demanda de pessoas que migraram de dólar para reais. Por definição mesmo, não tem [reais], e o que tem é limitado. Se mais gente vem buscar, não tem e fica faltando", disse Barbosa, presidente do Santander no Brasil, em entrevista à Folha.
"O segundo ponto é que as empresas também ficaram mais conservadoras e os indivíduos, também mais prudentes. Não estão querendo se endividar", afirmou, ressaltando que os bancos não estão se recusando a exercer a função básica de emprestar. "Banco não está escondendo dinheiro."
Segundo ele, as pessoas físicas continuam sendo atendidas normalmente. No caso das empresas, o problema é que as operações ficaram com prazo mais curto e elas precisam de financiamentos longos. Isso porque, argumenta, os investidores que são a fonte de recursos dos bancos estão preferindo aplicações de prazos mais curtos, com medo das incertezas que rondam os mercados.
"Não existe dinheiro de longo prazo, só de curto prazo. E, em razão dessa demanda adicional das empresas que não conseguem se financiar em dólar, o mercado congestionou."
Isso, rebate, não tem nada a ver com uma atitude dos bancos de se recusarem a conceder mais crédito neste momento de volatilidade, como membros do governo já sugeriram, ameaçando inclusive pegar de volta o dinheiro liberado dos depósitos compulsórios se ele não fosse repassado a consumidores e empresas.
Dias depois, o Banco Central adotou medidas para tentar forçar os bancos a usarem o dinheiro liberado para comprar carteiras de créditos de instituições menores com dificuldade de caixa. Para pressionar os grandes bancos, o BC zerou a remuneração de parte do compulsório, que rendia o equivalente à taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Barbosa, porém, diz que não há pressão do BC para os bancos emprestarem a qualquer custo. "Não é obrigar", diz. "O que o BC está fazendo é injetando mais recursos na economia, através da liberação de compulsórios. Ele colocou mais dinheiro e está dizendo: não estou colocando mais dinheiro para você fazer o que quer, mas para usar direcionado", afirma.
Barbosa defende que há uma grande diferença porque o BC não está exigindo que os bancos usem o dinheiro que tinham em caixa, mas o extra que foi liberado. "Ele não está forçando, está estimulando." Para o presidente da Febraban, se o problema fosse apenas má vontade dos bancos, "seria de fácil solução -o problema é muito mais complexo".


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